terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ESTRESSE DA CABEÇA AOS PÉS

Os efeitos do estresse no Corpo humano

O estresse é um mecanismo natural de defesa do organismo em relação às agressões do exterior, mas, em excesso, pode ter efeitos preocupantes para a saúde e o bem-estar. Eis alguns dos seus principais efeitos em vários órgãos ou partes do corpo humano.

CÉREBRO

O estresse provoca um aumento dos níveis de cortisol, destruindo neurônios e prejudicando o raciocínio. Está ainda associado a uma grande variedade de problemas emocionais e mentais, incluindo insônias, dores de cabeça, alterações da personalidade e do humor, irritabilidade, lapsos de memória, fadiga, ansiedade e depressão, entre outros.

CABELO

Níveis elevados de estresse podem levar à queda acentuada de cabelo, à escamação do couro cabeludo e mesmo algumas formas de calvice, devido à falta de irrigação sanguínea.

PELE

A diminuição da irrigação da pele pode conduzir ao seu envelhecimento precoce e ao surgimento de problemas dermatológicos, como a psoríase e o eczema.

BOCA

O estado da boca e dos dentes é um óptimo barômetro. Secura excessiva e úlceras bocais são muitas vezes sintomas de estresse.

PULMÕES

O aumento dos níveis de estresse provoca uma aceleração da respiração, numa tentativa de levar oxigênio extra ao sangue. Este facto reduz a entrada de ar nos pulmões, o que pode agravar crises de asma ou outras doenças respiratórias.

CORAÇÃO

O estresse e a ansiedade são dois dos piores inimigos da saúde do coração. O batimento cardíaco torna-se até cinco vezes mais rápido e a tensão arterial sobe, aumentando o risco de hipertensão e de aparecimento de complicações cardiovasculares, como o enfarte do miocárdio.

MÚSCULOS

O estresse constante é responsável por tiques nervosos, cansaço exagerado e dores musculares, em especial no pescoço, costas e ombros.

APARELHO DIGESTIVO

Quando o organismo está em estresse, a digestão é prejudicada. O estresse crônico pode levar ao aparecimento de úlceras, inflamações do cólon e gastrites, devido ao excesso de suco gástrico.

FÍGADO

Quando o organismo está em estresse reage libertando hormonas, como a adrenalina e a cortisol, que provocam a libertação de açúcar pelo fígado. Este facto leva a uma subida do açúcar no sangue, aumentando o risco de diabetes.

APARELHO REPRODUTIVO

O estresse está associado ao surgimento de problemas menstruais e infecções genitais nas mulheres, e de impotência e ejaculação precoce nos homens. Pode ainda diminuir a libido e causar problemas de infertilidade.

SISTEMA IMUNOLÓGICO

O estresse crônico provoca uma diminuição dos linfócitos T, responsáveis pela defesa do organismo, tornando-o mais permeável a gripes, constipações, infecções pulmonares e outras doenças infecciosas.

PLANEAR, RELAXAR, SOCIALIZAR

10 medidas para combater o estresse

O estresse é inevitável, mas é possível impedir que ele tome as rédeas da sua vida, prejudicando a sua saúde. Saiba como fazê-lo em dez passos simples.

1 – Planeie o seu dia

Elabore uma lista de tarefas a realizar, estabelecendo objectivos apropriados. Aspirações irrealistas só servirão para o manter frustrado e aumentar os níveis de estresse. Deixe as tarefas que exigem maior criatividade para a altura do dia em que sente que a sua produtividade está mais alta e não se esqueça de deixar tempo para a família, o lazer e o descanso. E lembre-se; nem tudo se pode organizar. Deixe espaço para o imprevisto.

2 – Defina prioridades

Resista à tentação de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Geralmente, a melhor forma de realizar várias tarefas é fazer uma de cada vez. Ponha maior atenção nas coisas que exigem mais de si, mas não esqueça aqueles pequenos assuntos que, muitas vezes, são fonte de estresse.

3 – Tome decisões

Ter que tomar uma decisão importante é uma causa freqüente de estresse emocional. Quanto mais tempo demorar a tomá-la, mais ansioso ficará. Procure fazer a escolha acertada, mas não eternize a decisão nem deixe o problema pendente.

4 – Saiba dizer não

Reconheça os seus limites e resista à tentação de aceitar todos os desafios que lhe propõem. Evitar situações geradoras de estresse notam os psiquiatras, passa também por saber dizer não quando confrontados com um pedido que lhe parece exagerado, fora do razoável ou sem tempo necessário para o aceitar.

5 – Aprenda com os seus erros

O estresse faz parte do processo de aprendizagem, lembra o psiquiatra. Se tomar consciência dos factores e situações geradores de estresse na sua vida, ser-lhe-á mais fácil desenvolver defesas para as contornar no futuro.

6 – Tenha vida social

Deixe o trabalho à porta de casa e procure relacionar-se com outras pessoas além dos seus colegas. “Sem os amigos não se vai longe. Um forte apoio social é um importante escudo para as conseqüências do estresse. Se a família ou os amigos não o preencherem, envolva-se em actividades onde faça conhecimentos com pessoas com interesses similares.

7 – Pratique desporto

A actividade física é uma excelente “pílula anti-estresse”. Não só favorece a saúde física como ajuda a orientar as atitudes mentais e a restabelecer o equilibrio psicológico.

8 – Relaxe

Uma ou duas vezes por dia reserve 10 minutos para cerrar os olhos e realizar pequenos exercícios de relaxação, sem necessidade de sair de casa. Respire profundamente retendo a respiração depois de inspirar muito lentamente pelo nariz e expirando muito devagar pela boca (como se estivesse a soprar), enquanto conta mentalmente. Aproveite estes momentos para esquecer os compromissos e as preocupações.

9 – Arranje tempo para si

Procure reservar algum tempo para si. Aproveite para pensar sobre o seu estilo de vida e o que pode fazer para o corrigir, mas também para mimar-se quando atingir alguns objectivos.

10 – Partilhe as suas frustrações e angustias

Não reprima os seus problemas e os sentimentos menos positivos. Conversar com um amigo, ou mesmo um profissional, se necessário, pode ajudá-lo a aliviar a tensão.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Há 600 portugueses mais velhos que Manoel de Oliveira

Vidas. As pessoas com 100 e mais anos vão sendo menos raras. E Portugal não se adaptou a esta nova realidade, dizem os técnicos. Há que dar qualidade de vida às 'idades maiores'

Ser activo e estimular o intelecto são os segredos da velhice

Portugal tem 589 pessoas com 100 ou mais anos registadas nos Censos de 2001: um homem para cinco mulheres. E, como a tendência é para o aumento da longevidade, é natural que em 2008 existam muitos mais. Nem todas continuam a trabalhar como Manoel de Oliveira, mas muitos são independentes e Portugal não está preparado para esta realidade, dizem os técnicos. O segredo está em "ser activo e estimular o intelecto", não ser atirado para uma cadeira ou um sofá de um lar, verdadeiras antecâmaras da morte.

"Uma das coisas que mais contribuem para o aumento da longevidade é a actividade. As pessoas devem ter uma actividade física e intelectual estimulante", explica Maria João Quintal, médica, chefe de divisão de Saúde no Ciclo de Vida da Direcção-Geral de Saúde.

Aquela é uma das razões porque encontramos mais centenários entre as pessoas com cursos superiores e com maior treino intelectual. Além de que têm profissões com menos riscos para a saúde e condições sociais e económicas para ter uma maior qualidade de vida. Permite-lhes, por exemplo, ter uma alimentação equilibrada, cuidados físicos e empregados para lhes dar assistência. "As pessoas que se mantêm no seu meio, com a família, vivem muito mais do que as que vão para os lares. Temos de obrigar as instituições a reformular a sua atitude perante a idade. O meio pode ser muitíssimo agressivo de desestimulante", adianta. Não devem ser as pessoas a adaptar-se às instituições, "numa altura da vida em que estão fragilizadas".

Também Ana Fernandes, socióloga e demógrafa, professora e investigadora da Universidade Nova de Lisboa, entende que sociedade não está preparada para o novo fenómeno e que "as instituições não estão adaptadas", nomeadamente as da área da saúde. Não são precisos grandes hospitais para dar resposta a doenças agudas e internamentos curtos (uma cama hospitalar é muito cara), mas pequenas unidades para cuidados de longa duração.

Foi criada há dois anos a Rede Nacional dos Cuidados Continuados Integrados, uma parceria dos ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Saúde. Tem cerca de três mil camas e o objectivo são nove mil até 2010, o que é considerado insuficiente, além de estar mais virado para as pessoas com dependência.

Mas, sublinha Maria João Quintal, "grande parte dos determinantes da saúde estão fora da área da saúde". Refere-se à personalidade da pessoa, à má alimentação, ao stress, aos transportes, etc. A aposta deve incidir nos sistemas de apoio às" idades maiores", nomeadamente em serviços de proximidade (comida, roupa, transportes) e nos cuidados integrados.

A médica e a socióloga consideram que a longevidade "é um ganho extraordinário para a humanidade". Basta que se ultrapassem os obstáculos, sobretudo garantir a sustentabilidade da segurança social devido ao prolongamento das reformas e criar unidades de ocupação do tempo e para tratamento de doenças crónicas.

"Passeio, gosto muito de passear..."

Família. D. Virgínia vai fazer 110 anos em Abril e será a 5.ª ou 6.ª portuguesa mais velha

"Quantos anos tenho? Alguns 100! Tenho 109?", admira-se Maria Virgínia Ferreira de Almeida. E ri-se, ri-se muito. Faz poses para a fotografia, canta e recita quadras da meninice. Flashes de uma memória que vai e vem. Mas quando se lembra é ao pormenor, como os nomes das ruas e das pessoas com quem brincou, algumas da realeza. Porque D. Virgínia, ex-professora de Física, faz 110 anos no dia 3 de Abril. Viveu em três séculos e até aprendeu o minuete, dança de salão do século XVIII. Passou por outros tantos regimes: monarquia, salazarismo e democracia. Adora passear, sobretudo em S. Pedro do Sul.

Muitos anos, tantos que às vezes já tem pena do dinheiro gasto pelo Estado com a sua reforma de professora. Segundo Filipe Prista Lucas, será a 5.ª ou 6.ª mulher mais velha no País.

"Não me falta nada. Descanso e faço passeios quando está bom tempo. Gosto muito de passear. Passeio com um e com outro. São muito meus amigos", conta D. Virgínia. É esta família que diz ser o segredo da sua longevidade, e também o ser alegre e bem-disposta, nunca stressar, andar a pé e comer regradamente. "Fui educada a comer de tudo. Como fruta, sopinha, carne, peixe", explica. A filha com quem vive, Maria Aldegundes, também ex-professora, acrescenta: "Nunca vi a minha mãe comer de mais." E está sempre a brincar com as duas empregadas, a do dia e a da noite. Mexe-se bem e mazelas só nos pulsos, devido a um problema no túnel cárpico. Análises e tensão estão boas.

Nasceu no Porto, "na Rua da Cedofeita e na casa onde viveu Carolina Michaëlis", conta a "avoninha", como lhe chamam as duas bisnetas que com ela fazem desenhos: a Filipa e a Marta.

É sábado e está uma manhã de Inverno que não a deixa apreciar a vista da janela, uma colina de Coimbra. "Costuma ser tão linda, até se vê o mar. Agora está feia", lamenta.

Estudou em Viseu e num liceu misto onde só havia mais duas raparigas, mas nada de namorados. "E houve quem me fizesse declarações", diz.

A Viseu seguiu-se Coimbra, onde se formou em Ciências Físico-Químicas em 1923. Tinha como amigas Maria Teresa Basto, Dyonísia Camões e Elisa Vilar e as quatro formaram a primeira república feminina na cidade dos estudantes. "Vivi ao lado do Salazar, que era professor na universidade, e levava sempre uma chapelada quando passava por ele", confidencia. Foi professora, carreira que terminou no Liceu Infanta D. Maria, actualmente escola secundária.

Filha de médico, sempre teve uma vida desafogada. A mãe morreu quando ela tinha sete anos e a irmã oito. "Tive um pai maravilhoso", recorda. Casou-se aos 33 anos, tem seis filhos, 13 netos e oito bisnetos.

"Olha o Vouga entre verduras, como vai devagarinho, parece que vai pasmado, de ver tão linho caminho", recita D. Virgínia. E vai lembrando os passeios no coche da condessa de Moniz e o convívio no palacete da família de Manuel Alegre.

"Nunca fumei e bebi aguardente ou vinho, tive sempre uma vida regrada"

Atleta. Jogou no Académica a médio-centro e é sócio n.º1 do clube dos estudantes

Joaquim Isabelinha, oftalmologista com consultório no Largo Marechal Sá da Bandeira, em Santarém. O gabinete ainda lá está, mas deixou de receber doentes há quatro anos. Agora, quem os recebe é o filho, Gonçalves Isabelinha. O pai é o sócio n.º 1 da Associação Académica de Coimbra, onde jogou a troco "de amor". Fez 100 anos no dia 5. Autarquias e instituições de Coimbra, Santarém e Almeirim uniram-se para o homenagear.

Isabelinha passa os dias a ler e faz questão de atender o telefone, apesar de ter três empregadas. Maria Ângela Mendes, 76 anos, trabalha "na casa do sr. doutor há 46 anos" e Maria da Graça Calarrão, 67 anos, está ali interna há 18. Não deixam "o sr. doutor um segundo que seja". Vivem e choram pelas memórias do patrão.

"O meu grande amigo Filipe Santos era de Cabo Verde e tinha o complexo de ser de cor. Era muito bom jogador e nunca fez mal [lesionou] ninguém. Era adorado", emociona-se. O amigo morreu há sete anos. E também se lembra da "adorada esposa" e da "querida filha", já falecidas. Tem três netos e uma bisneta.

Joaquim Isabelinha nasceu em Almeirim. Cedo mostrou dotes para o futebol, nos Leões de Santarém. Rapidamente foi descoberto pela Académica. "Combinaram vir a Santarém. Joguei tão bem que marquei três golos. Ganhámos por 6-3 e eles eram muito superiores, foi uma alegria. Estavam ansiosos por eu chegar a Coimbra." Estudou na Faculdade de Medicina. "Era estudante e tinha o número 400 e picos, mas foram tão generosos comigo que me atribuíram o número 1. E cá estou para manter o número", brinca.

Além de bom futebolista, era bom aluno. Fez a especialização no Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto. "O dr. Gomes [professor] veio ter comigo e disse: "Isabelinha, podes ir para Santarém abrir o teu consultório. Mas tenho por ti uma grande estima e a minha família gostava que fosses almoçar connosco."

Isabelinha recorda sobretudo a família e "a querida e saudosa Coimbra". Confessa que é monárquico, por ter uma costela real por parte da mãe. Orgulha-se de nunca ter fechado a porta do consultório aos mais pobres. E, às vezes, ainda lhes dava dinheiro para comprar os remédios. "Deu tanto e nunca teve falta", acrescenta Maria da Graça.

"Nunca fumei, nunca tomei aguardente, tive sempre uma vida regrada", explica. A entrevista chega ao fim e Isabelinha canta o Malhão. E dá uma gargalhada quando nos despedimos: "Até daqui a cinco anos, para uma nova entrevista!"

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Os 25 mitos da pediatria

Conhecimentos inéditos sobre o desenvolvimento biológico estão a revolucionar os cuidados aos mais pequenos. A experiência foi substituída pela evidência científica e práticas outrora comuns são agora proscritas.

Música na gravidez. Não é preciso nascer para ouvir. Hoje admite-se que o feto tem capacidades auditivas a partir das 12 semanas e guarda memória dos sons após o nascimento. Recomenda-se a audição de sons graves porque têm um efeito calmante e a música clássica está entre os estilos adequados. Os ritmos binários têm a vantagem acrescida de se assemelharem ao batimento do coração da mãe. Uma curiosidade: a cadência com que as mães embalam é igual ao seu ritmo cardíaco e é por isso que o bebé adormece mais facilmente.

Aleitamento. Evitar alimentos como laranjas, cebolas, leguminosas ou chocolates não diminui as cólicas no bebé. A alimentação da mulher deve ser variada desde a gestação porque está provado que o feto inicia o desenvolvimento das células sensíveis ao sabor às 14 semanas. Todos são unânimes sobre os benefícios da amamentação exclusiva até aos seis meses de vida do bebé e provou-se que estão erradas as teorias sobre a fraca qualidade do leite muito líquido ou que não escorre quando é deitado num copo. O aleitamento é prioritário e deve começar ainda na sala de partos.

Esterilização. Ferver ou esterilizar biberões e tetinas não é necessário se os pais lavarem frequentemente, e bem, as mãos. As doenças infecciosas são menos frequentes e em condições normais de habitabilidade e de higiene basta uma lavagem que elimine os resíduos.

Alimentos. É um erro excluir alimentos como peixe, gema de ovo, carne de porco e frutas nos primeiros tempos de vida. A selecção visava prevenir alergias, mas as organizações internacionais defendem que atrasar a diversificação alimentar, mesmo em alérgicos, não traz benefícios. Outro erro antigo: não se deve obrigar a comer nem negociar alimentos por alimentos - por exemplo, dar uma bolacha para compensar ter comido sopa - e os legumes e frutas devem estar sempre na mesa porque a sua presença influenciará a alimentação na vida adulta. No passado, os alimentos eram introduzidos com o aparecimento dos dentes e agora são recomendados aos quatro meses, quando não há amamentação.

Suplementos alimentares. Vitaminas para quê? A sociedade moderna caracteriza-se pela abundância e uma dieta equilibrada é suficiente. A excepção, sobretudo no primeiro ano de vida, é a vitamina D, que gerações reforçaram com 'colheradas' de óleo de fígado de bacalhau. A tradição tem sido recuperada sob outras formas: os ácidos gordos são decisivos na formação das membranas cerebrais e estão a ser redescobertos em óleos de peixes de profundidade.

Peso. Gordura não é formosura. Cada bebé tem o seu ritmo e as variações nem sempre são sinal de doença. Os pediatras afirmam que os pais modernos se preocupam em excesso com o crescimento e recomendam que pesagem e medição só sejam feitas nas consultas de rotina.

Sono. Não tem fundamento o medo de que os bebés deitados de costas podem sufocar no caso de bolçarem. Em situações normais, o corpo humano está preparado para evitar estas situações. O medo levou muitos pais a deitarem os recém-nascidos de barriga para baixo, mas hoje é reprovável e perigoso. É mandatório deitar os bebés de barriga para cima, pelo menos, até aos seis meses. Depois, é o próprio bebé que escolhe a posição mais confortável. O sono solitário foi estimulado por se acreditar que promovia a autonomia, mas não está provado.

Morte súbita. 'Abafar' os bebés não é o perigo principal. A morte de crianças saudáveis por razões inexplicáveis continua a registar-se e estudos recentes têm evidenciado que é mais comum quando os pais são fumadores, em famílias monoparentais e quando o bebé é deitado de barriga para baixo.

Choro. As lágrimas são mais do que fome ou fralda molhada. Descobriu-se que os bebés são muito sensíveis a estímulos e também precisam de aliviar a tensão. Ou seja, às vezes basta deixar chorar um bocadinho para perceber a mensagem.

Banho. Esperar pela digestão para dar banho é um mito. A água utilizada está morna e não existe choque térmico, responsável pela congestão. Além disso, o leite é de fácil digestão. O banho deve ser um prazer e a regra é 'água quanto baste e pouco produto de limpeza', sobretudo com glicerina, porque seca e irrita a pele em demasia.

Pele. Pó de talco fora da lista. A limpeza exagerada é inimiga da pele e um banho seguido de uma loção hidratante é suficiente. Na zona da fralda é necessária parcimónia no uso de toalhetes, pois limpam a sujidade, mas também podem arrastar a camada superficial da pele. Quando a fralda só está molhada e não existe irritação não é necessário usar creme ou pastas sob risco de provocar uma sensibilização excessiva. E o pó de talco está fora de moda porque as partículas podem ser inaladas pelo bebé.

Fralda. O uso precoce do bacio está fora de questão. Os pediatras estão a recuperar a tradição de retirar a fralda só aos dois anos porque o controlo precoce do esfíncter pode, afinal, trazer problemas.

Botas ortopédicas. Não vale a pena olhar para os pés antes dos dois anos. A ortopedia moderna respeita as regras de crescimento do pé e da marcha das crianças e qualquer calçado que faça alguma contenção interfere com a evolução normal. É ponto assente que é o exercício e não o calçado ortopédico ou formativo que cumpre a missão fisiológica. Sempre que possível, as crianças devem andar descalças e usar sapatos que protejam apenas o tornozelo e o calcanhar.

Creche. A socialização, afinal, só começa aos três anos. Na sociedade actual mães e avós trabalham e os bebés vão para a creche cada vez mais cedo. Contudo, a maioria dos pediatras regressou ao passado para recomendar os cuidados dos avós até aos três anos. Argumentam que os ganhos de afecto compensam.

Febre. A temperatura não é doença. A maioria das crianças faz quatro dias de febre e não é preciso baixar a temperatura de imediato como querem os pais dos nossos dias. Os médicos alertam que a febre é muitas vezes é um mecanismo de defesa do organismo e que um sinal de serenidade é a criança continuar a brincar.

Tosse. Adeus ao xarope. Tossir é uma forma do corpo para eliminar secreções e melhorar a respiração. Trata-se de um sintoma e não de uma doença e nos primeiros anos de vida não são recomendados inibidores.

Aerossóis. São os grandes terapeutas do século XXI. Ajudam a respirar melhor, contudo, os médicos têm dúvidas sobre o que os próximos avanços podem revelar sobre a sua utilização.

Ginástica respiratória. Comum na década de 90 revelou-se desnecessária. Era usada para bronquiolites e hoje sabe-se que aumentam o cansaço e as dificuldades de respiração.

Remédios caseiros. Vivem-se tempos de medicação excessiva. As precauções sobre o uso de remédios estão na ordem do dia e a regra é recuperar remédios caseiros como o xarope de cenoura e os preparados com mel.

Vacinas. O calendário mudou. As crianças dos nossos dias são mais vacinadas - e dizem os pediatras, estão mais protegidas - e já não é preciso recomeçar do zero quando há atrasos muito grandes.

Flúor. As gotas outrora comuns foram trocadas pelos dentífricos. Actualmente, é promovida a lavagem cada vez mais precoce dos dentes, aliás, logo que a dentição aparece na vida do bebé.

Brinquedos. Quantos mais, pior. As crianças precisam de estimular a imaginação e para isso não podem ter muitos brinquedos para poderem explorá-los ao máximo, dando-lhe várias utilizações. Os pais devem guardar os presentes, optando pela distribuição ao longo do ano.

Animais. Os eternos amigos estão de volta. Após várias teorias sobre o risco acrescido de alergias, cães, gatos, pássaros e outros animais são desejáveis para o desenvolvimento da criança.

Desporto. O cloro não faz alergia. A prática desportiva é defendida para o desenvolvimento psicomotor e a natação volta a liderar as preferências. A qualidade da água das piscinas melhorou e os bebés podem nadar a partir do sexto mês de vida. Só é preciso limpar o cloro com um banho abundante e dar bastante água para minimizar a sua presença no estômago.

Regras. O ónus dos pais sobre a personalidade dos filhos está mitigado. Passou a ser admitido que há crianças difíceis que complicam a vida das famílias e que as regras são, por isso, indispensáveis. A negociação deve existir, mas sem rendição, em especial, dos pais.


Vera Lúcia Arreigoso

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

HIPOCONDRIA

“Hipocondria – assim se chama a perturbação que atinge e aflige as pessoas que vivem convencidas de que estão ou vão ficar doentes. Quase sempre adultos jovens que perante sinais e sintomas que ninguém vê faltam ao emprego, gritam aos filhos, discutem com os amigos e correm apressados para o consultório médico mais próximo. Falamos de gente que fica doente só de pensar nessa hipótese.”

Cismam que estão doentes e vivem dominados pela apreensão, a insegurança, o pessimismo e o medo. Tanto temor transparece em todas as conversas com amigos, familiares, colegas de trabalho e até com desconhecidos. A sua rubrica favorita são as doenças, as disfunções, as síndromas, os defeitos físicos, os respectivos sintomas e sinais. Um desassossego que dá maus resultados. Favorece a degradação das relações sociais, laborais e até pessoais. É assim a vida das pessoas que se crêem efectivamente doentes e que não enxergam forma de escapar à desgraça. Designam-se por hipocondríacos. Sofrem de uma perturbação da ansiedade, de um distúrbio obsessivo-compulsivo.
Os hipocondríacos fazem da sua vida um calvário. Consultam médicos atrás de médicos – vão confiar em qual? – fazem-se acompanhar por “cargas” de medicamentos e ainda assim agoniam devido ao pânico de padecerem desta ou daquela enfermidade. Mas sofrem. E amarguram o dia-a-dia dos que são mais próximos, de quem está à sua volta. E se alguém se atreve a dizer-lhes que a sua saúde é férrea, que não estão doentes, tudo se complica. Não acreditam no diagnóstico, venha ele do amigo ou do medico mais conceituado, pedem mais e mais medicamentos, mais e mais analises. Mais e mais saúde...
Não será este comportamento, só por si, doentio? De facto, os hipocondríacos estão doentes só que não sofrem das doenças que imaginam e que os afligem. “Padecem de um transtorno real, que pode tornar-se crônico, com sintomas que vão da sobrevalorização da idéia de doença à necessidade de manifestar constantemente essa preocupação, que passa pela busca indiscriminada de informação médica e pela percepção de sinais orgânicos imaginários, conforme se refere na página de internet da Associação Americana de Psiquiatria (WWW.psych.org)
O hipocondríaco é um exagerado. Doem-lhe realmente mais coisas do que à maioria das pessoas e, sendo certo que não inventaram esses sintomas, a verdade é que estão exclusivamente centrados neles. E se nos casos mais simples os doentes ficam aliviados pós uma consulta médica e aceitam facilmente que, afinal, não estão doentes; nas situações graves a vida social, familiar, laboral e pessoal do hipocondríaco complica-se pois nada nem ninguém o convence de que precisa de aprender a controlar as suas emoções. E se estes indivíduos reagem assim a doenças imaginárias, quando são confrontados com um diagnostico de doença efectivo – o que acontece com toda a gente, várias vezes ao longo da vida – desencadeiam reações desproporcionadas. Uns ficam numa profunda angustia, outros mergulham na depressão. Uns e outros isolam-se e concentram todas as forças “nessa tragédia”.

Homens e Mulheres

A fronteira entre o “normal” e o patológico nem sempre é clara e muitas pessoas podem comportar-se de um modo dito hipocondríaco a dada altura da vida sem que sofram efectivamente de qualquer doença. Isto pode acontecer e não é grave. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria pode dizer-se, por exemplo, que um individuo sofre de uma “neurose hipocondríaca” se interpretar erradamente sinais e sintomas físicos, considerando-os sempre anormais e causadores de temores, a creditando, por isso, que sofre de uma doença grave, mesmo que os médicos lhe comprovem que está tudo bem.
Mas como se diagnostica, afinal, uma hipocondria? Em regra, pondera-se tal perturbação “quando um individuo consulta com freqüência e persistência um medico sem que tenha qualquer sinal ou sintoma de doença; quando a sua preocupação excessiva com o mal estar interfere com o desempenho das actividades quotidianas ou quando este processo se desenrola durante, pelo menos, seis meses”.
Parece que a hipocondria é um transtorno mais freqüente nos países desenvolvidos, nomeadamente entre os grupos mais escolarizados e, embora possa manifestar-se em qualquer idade, declara-se com mais freqüência nos adultos jovens. Por outro lado, este transtorno, que gera outros igualmente adversos para a saúde, como o excesso de automedicação, afecta de forma idêntica homens e mulheres e, estima-se, atinge entre cinco e dez por cento da população dos países desenvolvidos.
O hipocondríaco é um individuo que precisa de ser tranqüilizado, que necessita de acompanhamento médico, de uma resposta. Algo complexo, pois é comum não encontrar nada disto porque se recusa a confiar nas pessoas que lhe dizem está tudo bem, que não sofre de doença alguma... além da obsessão, que pode ser tratada.
Segundo a AMP, a hipocondria é uma perturbação que aprisiona um sujeito ao ponto de lhe alterar todas as vivencias, de mudar todo o seu mundo. Estes indivíduos, além do pânico das doenças, têm um medo exagerado da morte. E o mais pequeno sinal de mal-estar ou a mais leve dor de cabeça são entendidos como uma ameaça que urge afastar. Por isso, as doenças constituem o centro das suas vidas.
A doença comanda a vida... Os hipocondríacos estão constantemente preocupados com a sua saúde, centrando-se apenas nos estímulos internos (dores, palpitações, a arritmias, entre outros) que sentem, mas que passam despercebidos às outras pessoas, inclusivamente aos médicos que não os conseguem objectivar.

Não à solidão

Que factores estão na origem da hipocondria? Isso é o que muito se estuda mas que pouco se sabe. O que parece confirmar-se é que se trata de uma perturbação mais freqüente nos indivíduos que têm carências de afecto e que se sentem compensados pela atenção e a simpatia que conquistam quando dizem que... estão doentes. Também as pessoas que na infância sofreram doenças crônicas revelam aparentemente maiores probabilidades de ser confrontadas com o aparecimento de episódios de hipocondria na idade adulta. Por outro lado, há alguns factores orgânicos que precisam de ser melhor avaliados. Entre eles o limiar de sensibilidade à dor.
Para contornar ou lidar com a hipocondria, pode ser necessário fazer psicoterapia com um profissional treinado te que deixem de se sobrevalorizar as queixas e os sintomas das doenças imaginárias. Recomenda-se ainda que estes indivíduos sejam ajudados com o objectivo de perceberem que há mais vida para além das doenças, que há mais vida para além do eu, de forma que não fiquem exclusivamente centrados na sua pessoa. Propõe-se ainda que os hipocondríacos compartilhem momentos de lazer, distracção e afecto. Passar um dia só, sem falar com ninguém, é um desejo comum que lhes deve ser negado. Da prática desportiva á jardinagem, da culinária ao voluntariado, o que não falta é coisas para fazer.
Mais difícil, sobretudo com o acesso fácil e generalizado à internet, é controlar o acometimento à informação sobre doenças, uma necessidade que aparece de repente, de modo quase incontrolável. Quase, pois aqui importa esclarecer – e demonstrar – que nem tudo o que se diz e vende na rede é correcto ou faz bem. às vezes até é o contrário”.


‘Célia Rosa’

O JOGO DA SEDUÇÃO

“Os factores que numa pessoa atraem a outra e vice-versa variam conforme a personalidade, as expectativas, os desejos e as prioridades de cada um. E são diferentes dos que imperavam no passado”

Dantes, quando as raparigas tinham a sua primeira menstruação ficavam pois capacitadas a ser mães. Os rapazes por sua vez, ao terem as primeiras ejaculações, eram potenciais pais. Mas se durante alguns milênios as relações reprodutivas terão sido (como são ainda em alguns pontos do planeta) diferenciadas dos afectos, rapidamente as coisas começam a evoluir no sentido da monogamia (mesmo que seqüencial). O sentimento de poder masculino, associado ao “ter” (ter “pilinha”, leia-se), acasalou bem com o sentimento de “não ter”, com o complexo de castração das mulheres, com o culto do “ser” (e ás vezes do “parecer”). Eles a quererem conquistar, elas a quererem deixar-se conquistar. Estavam na mesa todos os ingredientes necessários ao jogo. Mas não só. Também se assumiam grandes responsabilidades, como a escolha do pai ou da mãe dos filhos, do companheiro da companheira de uma vida e, tantas vezes, do herdeiro ou herdeira de fortunas, bens, terras ou outras coisas semelhantes. Fazia-se a integração na família, no clã, na tribo ou na comunidade – a escolha prévia ao “acasalamento” passou também a ser mais elaborada e a envolver outras componentes. Acresce que a chamada “lei do mais forte” que, de formas diversas, afastava os potenciais concorrentes até deixar o que, geralmente pela sua força física, se conseguia impor, perdeu muita da sua vitalidade. A astucia, o poder de sedução, o charme (e tantas outras coisas), começaram a ganhar valor. Bem como os verdadeiros afectos e sentimentos.
É assim que surge o namoro – uma fase que começa, muitas vezes, sem se saber muito bem porquê e que evolui com diversos ritmos e para diferentes desenlaces. De facto, desconhece-se o que numa nova pessoa, atrai outra – provavelmente muitos factores, mas valorizados conforme a personalidade, as expectativas, os desejos e prioridades de cada um. As feromonas, espécie de hormonas sentidas a larga distancia pelo nariz, têm o condão de atrair – a ciência explica isso. A beleza (a graça de ser-se “giro” mesmo se feio), a inteligência, a ternura, a simpatia, o humor, o feitio, a elegância (no corpo e na maneira de ser), enfim, são alguns entre tantos e tantos “ingredientes” que provocam a atracção e o desejo de conquistar o outro ou a outra. Depois deste primeiro “clique”, segue-se outra fase: a da confirmação da escolha, que terá de passar por um melhor conhecimento dos pontos fracos e fortes da pessoa amada. Mas o pior é que a paixão e o desejo de conquista, pela sua natureza “transitoriamente patológica”, faz que freqüentemente (provavelmente sempre) se perca a noção crítica e a lucidez. Uma pessoa apaixonada não temos pés na terra pois para ela só o outro existe e o mundo e as pessoas são algo que perdem na prioridade e no valor”.


‘Mário Cordeiro’

A SUE É QUE SABE!

A senhora podia ser uma estrangeira com quinta biológica no Alentejo. Nada cuidada, sem adereços, rugas assumidas que o pó da maquilhagem espessa da televisão acentua. Está ali sentada ao dispor de quem tem duvidas: “O meu marido não gosta de me fazer sexo oral. Faz, mas mal”. E a senhora pergunta: “Acha que ele não gosta?” “Sim, é isso” E daqui partem à procura de respostas. Será o cheiro, a configuração da ‘coisa’, a falta de pachorra? É tudo isso, claro. E Sue – a senhora que nos aconselha (como quem planta cidreira ou rúcula na hipotética herdade), diz sem hesitar. “É muito simples, não lhe faça a ele!”
Não sei como são as audiências do programa dela na SIC Mulher, mas devia ser obrigatório ver ‘Os conselhos de Sue’. Há muitas coisas que ela diz e nós sabemos, e outras que vale a pena aprender.
Sabiam, por exemplo, que 85% das mulheres atingem o orgasmo através do clitóris? Eu por acaso pensei que eram 99,9%. O clitóris é uma maçada para os homens em geral. Eu diria até que é o maior inimigo deles: dá trabalho, estraga os timings do sexo e não é nada cinematográfico. Em quantos filmes já viram um homem a estimular o clitóris de uma mulher?
Há mulheres que têm muito mais prazer sozinhas (com o seu clitóris) do que acompanhadas. E ás vezes bem acompanhadas.
O clitóris é tão importante como o coração. Só que o coração é para sentir, e o clitóris é para mexer. Um homem que não se aproxime do clitóris de uma mulher nunca lhe chegará ao coração.
Há amigas minhas que muito amo que nunca tiveram um orgasmo. Umas, por pudor, nunca foram capazes de dizer aos namorados/maridos que era ‘ali’, que queriam que eles lhes tocassem, outras acham que masturbação é para quem está sozinho. Quem tem pudor não tem prazer. Os homens de uma certa geração não sabem sequer que o clitóris existe. Quem não tivesse prazer na penetração, tinha de agüentar. E daí nasceram muitas dores de cabeça, o período muitas vezes, a total indisponibilidade. O desamor.
O clitóris só veio complicar a vida dos homens. É uma ameaça ao egoísmo deles. Num duelo com o pénis, o clitóris ganha porque o prazer das mulheres é maior (isto é cientifico).
Abençoados, pois, sejam os que se entregam de boca aberta nas nossas pernas. Os que não temem o desenho esquisito, o odor, a imprevisibilidade daquele pequeno apêndice.
Eu diria mesmo – não sendo crente – que o céu se abre (e as pernas também) aos que se nos dão sem reservas.
A pobre mulher que telefonou à Sue pedindo mais um dos seus sábios conselhos sabia que o marido tentava cumprir a parte dele, para depois ter direito ao prémio. E o prémio era provavelmente um broche. O homem tentava despachar o serviço – porque aquilo era um suplicio – e a mulher nunca ficava satisfeita com o resultado.
Sue perguntou-lhe: “Já tentou explicar-lhe como se faz?” Pois claro que sim. Tantas vezes que já não tinha coragem de lhe dizer novamente. Assim ele podia fazer parecer que era um problema dela, já que ele cumpria a sua parte.
O dedo indicador delas passou a ser muito importante para se satisfazerem quando lhes apetece ou para lhes dizer a eles onde fica uma das maiores fontes de prazer. O dedo indicador é quem manda.
Tenho pena que não haja uma Sue perto de cada um de nós. Uma que nos diga sem pruidos e sem vergonha o que fazer, onde, quando. A Sue deve ser persona non grata para muitos homens. Por causa dela – e de outras como ela – é que se acabou o sossego e o prazer solit´rio deles. Agora estas mulheres de hoje já vêm com exigências, já querem uma mão aqui e outra ali. As mulheres já não lhes querem a boca só para os ouvir falar. Querem muito mais. Querem o prazer com tudo incluído.
Elas já não vão ter de fingir que foi bom, quando nem chegou a acontecer.

Oh Gog, make good, but not wet!

‘Cidalia Dias’

QUANTO FALTA O DESEJO

“Considerado ofensivo, o conceito da frigidez foi enterrado mas a mudança semântica não garantiu prazer a todas as mulheres.”

A infinita sabedoria popular já o havia anunciado: “Não há mulheres frigidas... apenas homens incompetentes!” A comunidade cientifica e médica confirma-o: a frigidez morreu. Descansa em paz depois de anos em que foi utilizada popularmente para definir, de forma algo ambígua e quase sempre pejorativa, as mulheres que eram blocos de gelo na hora do sexo. Já não há mulheres frigidas, assim como não há homens impotentes. O que há são mulheres com desejo sexual hipoactivo (isto é, a falta dele) e disfunção orgásmica, e homens com disfunção eréctil. Palavras novas para problemas velhos.
A semântica é como a cosmética: pode disfarçar um problema mas não o trata. A frigidez pode ter desaparecido do vocabulário clinico, mas o prazer sexual está longe de ser um privilégio de todas as mulheres. Segundo o primeiro grande estudo nacional sobre a prevalência de disfunções sexuais femininas, realizado pela Sociedade Portuguesa de Andrologia em conjunto com os laboratórios farmacêuticos Pfizer, mais de metade das mulheres portuguesas (56%) apresenta ou apresentou algum tipo de disfunção sexual.
A investigação sustenta ainda que mais de um terço das mulheres (35%) tem falta de desejo sexual e 32% apresenta dificuldades em atingir o orgasmo independentemente da forma de estimulação, embora os homens só detectem 24% dos casos. O trabalho congrega dados recolhidos junto de 1250 mulheres e outros tantos homens com idades compreendidas entre os 18 e os 75 anos, o que inclui mulheres nas fases pré e pós-menopausa, nas quais as alterações hormonais interferem inevitavelmente na função sexual.
Ao contrario do que acontece no cinema e na televisão, o sexo de muitas mulheres está, pois, longe de ser um maravilhoso fogo-de-artificio de orgasmos imensuráveis. Mas será este realmente um problema de inaptidão sexual masculina como afirma a expressão popular? A idéia é profundamente sexista, como o é, aliás, o próprio conceito de frigidez. Se este tendia a culpabilizar a mulher por qualquer “falha” na fruição sexual – se não desfrutava normalmente do sexo é porque era fria ou “frigida” -, a avaliação da competência masculina remete para o homem toda a responsabilidade. Por paradoxal que possa parecer, estas duas idéias opostas radicam no mesmo preconceito: o da mulher como um agente passivo da sexualidade, um mero receptáculo para as necessidades do seu parceiro. “Apesar da revolução sexual, a percepção do sexo não mudou assim tanto desde o tempo da minha avó”, garante a sexóloga Marta Crawford.

Voltemos à defunta frigidez. Para explorar as versões modernas do fenômeno é preciso entender primeiro a sua etimologia, algo que se revela muito mais complicado do que seria de esperar. Seja porque o termo caiu em desuso ou talvez porque sempre esteve revestido de alguma ambigüidade, qualquer tentativa de definição esbarra numa teia de poucos consensos. Nuno Monteiro Pereira, professor de sexologia e director da Clínica do Homem e da Mulher, entende que aquilo a que popularmente se convencionou chamar de frigidez se referia ao que a literatura actual chama de disfunção do desejo sexual hipoactivo, ou seja, a ausência de desejo sexual. O psiquiatra Francisco Allen Gomes, fundador da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clinica, atribui-a “não à falta de desejo sexual, mas à incapacidade de ter prazer com o sexo”. Julio Machado Vaz entende que se aplicava às duas situações. “Umas vezes referia-se à falta de desejo sexual, outras à falta de satisfação/excitação, incluindo o orgasmo”. O psiquiatra Manuel Esteves, do hospital de São João, no Porto, acrescenta-lhe ainda um terceiro conceito, o da disfunção sexual geral, no qual a mulher “não consegue obter prazer sexual através da estimulação erótica”. Confuso(a)? Acredite que não está sozinho(a).
Esqueçamos, portanto, a frigidez e foquemo-nos nas disfunções sexuais da mulher. A mais freqüente é a perturbação do desejo sexual hipoactivo. Segundo o Manuel de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR, na sigla em inglês), a “bíblia” dos psiquiatras, refere-se à “deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de actividade sexual”, causando na pessoa um “acentuado mal estar ou dificuldade interpessoal”. Por outras palavras, para que o problema seja considerado uma disfunção não basta que a mulher não tenha vontade de manter relações sexuais com o seu parceiro. “É preciso que isso cause perturbação pessoal”, sublinha a psicóloga clica e sexóloga Ana Carvalheira.

Segundo a especialista em sexologia, é preciso, pois, resistir à “patologização da sexualidade feminina”. O desejo sexual feminino é muito flutuante, muito mais relacionado com o contexto que o dos homens. Uma dificuldade não é necessariamente uma disfunção. Muitas vezes está associada a um; contexto de circunstância, que pode ter a ver com factores relacionais (cansaço, falta de atracção, etc), emocionais (percepção negativa da sexualidade, por exemplo), psicológicos e mesmo biológicos (doenças crônicas ou hormonais). O uso de determinados medicamentos, nomeadamente de antidepressivos, pode também interferir com o desejo sexual.
Diferentes do desejo sexual hipoactivo são as perturbações do orgasmo. Segundo Machado Vaz, incluem não apenas a ausência de orgasmo (conhecida como anorgasmia) mas também o atraso persistente ou recorrente em atingi-lo a seguir a uma fase de excitação normal, seja através do coito ou da masturbação. Sendo que as mulheres exibem uma enorme variabilidade do tipo ou intensidade de estimulação que desencadeia o orgasmo, o diagnóstico deverá basear-se no juízo de que a capacidade de orgasmo é menor do que seria razoável para a idade, experiência sexual e adequação da estimulação sexual que a mulher recebe.
“A mulher é capaz de excitar-se com os estímulos eróticos, mas bloqueia no momento do orgasmo”, explica Ana Carvalheira. Ou seja, não tem a capacidade de perder o controlo, que é, no limite, o que caracteriza um orgasmo, segundo Allen Gomes. Muitas acabam por fingi-lo, por vergonha em admitir o problema ou para poupar o ego do parceiro. Uma vez que a capacidade orgásmica da mulher aumenta com o conhecimento que esta tem do seu corpo, este tipo de disfunções podem ser mais prevalecentes nas mulheres mais jovens.

As causas, explica a terapeuta sexual, são essencialmente psicológicas e sócio-culturais, embora em alguns casos possam também estar associadas a problemas clínicos, como determinadas lesões na espinal medula. Entre os maiores inibidores do orgasmo estão “sentimentos” predadores como a culpa, a vergonha ou a ansiedade, decorrentes de laços educativos, culturais e religiosos que favorecem a repressão sexual.
“O desejo sexual feminino é um processo extremamente complexo, que envolve componentes biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Essa complexidade explica, por exemplo, porque não existe ainda um fármaco para combater estes problemas”, lembra Carvalheira. A intervenção nestes casos, sublinha a especialista, passa sobretudo pela psicoterapia e pela terapia sexual com vista a derrubar as barreiras psicológicas e emocionais que se interpõem entre a mulher e a sua plena fruição sexual.
Uma solução farmacológica para o problema da falta de desejo sexual poderá chegar a 2010, altura em que o mercado deverá conhecer o LibiGel, já conhecido como o “Viagra das mulheres”. Desenvolvido por cientistas da Universidade da Virginia, nos Estados Unidos, o medicamento, um gel aplicado na parte superior do braço, encontra-se na última fase de ensaios clínicos e promete um aumento de quase 300% no número de relações sexuais satisfatórias.


‘Nelson Marques’

VOCE SABIA QUE EXISTE RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ORAL E DOENÇAS SISTÉMICAS; AVC, INFARTE E DIABETES?

Uma das principais condições que compromete a saúde oral é a doença periodontal, doença que afecta os tecidos de protecção e sustentação dos dentes.

Esta enfermidade acomete um grande numero de pessoas no mundo, e não diferente em Portugal o último levantamento epidemiológico mostra que a nossa população é atingida em cerca de 60% cima de 40 anos, em ambos os sexos. Se não tratada pode levar a serias alterações e comprometer de forma significativa a função mastigatória, a estética, a saúde sistêmica e até a auto-estima do portador. Assim a saúde periodontal passa a ter um peso relevante na qualidade de vida das pessoas.
A doença periodontal está directamente relacionada com a presença do biofilme, massa bacteriana esbranquiçada e amolecida que se deposita continuamente e em camadas ao redor dos dentes, gengivas, língua, palato, mucosa, próteses, implantes e lábios. Se não for removido de forma adequada causará alterações gengivais que podem se manifestar através de sangramento, inchaço, mau gosto, mau hálito, dentre outras. Neste momento a doença periodontal é classificada como gengivite.
Com a permanência dos depósitos de biofilme, ocorre a progressão da doença periodontal que deixa de ser gengivite, restrita a margem gengival e evolui para uma doença destrutiva, acompanhada de perda de tecidos periodontais e reabsorção óssea, que leva a mobilidade dentária e até a perda dos dentes se não for realizado o tratamento adequado por um Médico Dentista.
O hálito é gradativamente comprometido, com o odor fétido o relacionamento social fica cada vez mais dificultado, fazendo com que o individuo se isole ou seja isolado no seu dia-a-dia.
Além disso a falta de elementos dentários compromete a mastigação. Os alimentos não são devidamente triturados e acabam por ser ingeridos em pedaços, dificultando a digestão.
As palavras para serem emitidas, precisam do auxilio dos dentes, como por exemplo tatu, sapo, além de interferir de forma dramática na estética do sorriso, comprometendo assim a auto-estima do individuo.
Porém o mais preocupante, é que a ciência tem demonstrado que a doença periodontal pode colaborar com o aparecimento de outras doenças ou mesmo potenciar uma doença pré-existente. Pode aumentar o risco do individuo ter AVC, infarto, diabetes, doenças pulmonares, nascimento de bebés prematuros, entre outras.
Desta maneira, cuidados com a saúde oral precisam ser valorizados e uma importante parceria entre o individuo e o médico-dentista necessita ser firmada. O dentista irá orientar sobre os métodos, materiais e produtos de higiene oral adequados para cada paciente em particular. O individuo, no seu dia-a-dia, tem que se comprometer a controlar o biofilme oral por meio de higiene oral efectiva e realizar periodicamente o auto-exame e diante de sangramento gengival, contorno irregular da gengiva, alteração de cor, ferida, caroço e mau gosto, procurar imediatamente um dentista.
Bonito mesmo é ter saúde.


‘Prisma’

sábado, 29 de novembro de 2008

VOCE SABIA QUE EXISTE RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ORAL E DOENÇAS SISTÉMICAS; AVC, INFARTE E DIABETES?

Uma das principais condições que compromete a saúde oral é a doença periodontal, doença que afecta os tecidos de protecção e sustentação dos dentes.
Esta enfermidade acomete um grande numero de pessoas no mundo, e não diferente em Portugal o último levantamento epidemiológico mostra que a nossa população é atingida em cerca de 60% cima de 40 anos, em ambos os sexos. Se não tratada pode levar a serias alterações e comprometer de forma significativa a função mastigatória, a estética, a saúde sistêmica e até a auto-estima do portador. Assim a saúde periodontal passa a ter um peso relevante na qualidade de vida das pessoas.
A doença periodontal está directamente relacionada com a presença do biofilme, massa bacteriana esbranquiçada e amolecida que se deposita continuamente e em camadas ao redor dos dentes, gengivas, língua, palato, mucosa, próteses, implantes e lábios. Se não for removido de forma adequada causará alterações gengivais que podem se manifestar através de sangramento, inchaço, mau gosto, mau hálito, dentre outras. Neste momento a doença periodontal é classificada como gengivite.
Com a permanência dos depósitos de biofilme, ocorre a progressão da doença periodontal que deixa de ser gengivite, restrita a margem gengival e evolui para uma doença destrutiva, acompanhada de perda de tecidos periodontais e reabsorção óssea, que leva a mobilidade dentária e até a perda dos dentes se não for realizado o tratamento adequado por um Médico Dentista.
O hálito é gradativamente comprometido, com o odor fétido o relacionamento social fica cada vez mais dificultado, fazendo com que o individuo se isole ou seja isolado no seu dia-a-dia.
Além disso a falta de elementos dentários compromete a mastigação. Os alimentos não são devidamente triturados e acabam por ser ingeridos em pedaços, dificultando a digestão.
As palavras para serem emitidas, precisam do auxilio dos dentes, como por exemplo tatu, sapo, além de interferir de forma dramática na estética do sorriso, comprometendo assim a auto-estima do individuo.
Porém o mais preocupante, é que a ciência tem demonstrado que a doença periodontal pode colaborar com o aparecimento de outras doenças ou mesmo potenciar uma doença pré-existente. Pode aumentar o risco do individuo ter AVC, infarto, diabetes, doenças pulmonares, nascimento de bebés prematuros, entre outras.
Desta maneira, cuidados com a saúde oral precisam ser valorizados e uma importante parceria entre o individuo e o médico-dentista necessita ser firmada. O dentista irá orientar sobre os métodos, materiais e produtos de higiene oral adequados para cada paciente em particular. O individuo, no seu dia-a-dia, tem que se comprometer a controlar o biofilme oral por meio de higiene oral efectiva e realizar periodicamente o auto-exame e diante de sangramento gengival, contorno irregular da gengiva, alteração de cor, ferida, caroço e mau gosto, procurar imediatamente um dentista.
Bonito mesmo é ter saúde.


‘Prisma’

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

SAUDE PÚBLICA - NOVEMBRO

“Em época de finados, período de memória e reserva, de saudade e dor, compreende-se que uma única questão não nos saia da cabeça: porque é que os nossos cemitérios são tão feios?”

Chamar-lhes feios é, aliás, um acto de generosidade. Julgo que a palavra é “medonhos” talvez seja das semelhanças com o estacionamento de um shopping. Ou dos muros estucados que parecem delimitar os estádios típicos da liga dos últimos. Ou das lápides em mármore preto e brilhante, aparentemente arrancadas de uma latrina “moderna”. Ou do extravagante aspecto das lápides, com aquelas letras em chapa dourada que ficariam melhor a dizer “Vivenda Faty” do que “Recordação da esposa e cunhados”. Ou da quinquilharia depositada sobre as lapides. No fundo, tudo ajuda.
E note-se: excepto quando se trata dos cemitérios domésticos, que de facto apavoram, nunca percebi a aura sinistra que, ao longo do séculos, o folclore popular associou ao campo-santo. Regra geral, o mundo civilizado envia os seus mortos para sítios resguardados e austeros, desenhados entre paredes de granito ou em relvados amplos, onde os falecidos fazem o que têm a fazer e os vivos passeiam o olhar. Imponentes ou modestos, monumentais (na Europa) ou assépticos (nos EUA), são sobretudo lugares bonitos, que respeitam quem lá está (digamos) e quem lá vai. Em Cracóvia e Paris, em Praga e Washington, em Butapeste e Viena passei horas a percorrer lugares assim e, apesar da acusações de morbidez dos meus acompanhantes, guardo lembranças agradáveis.
Em Portugal, só entro nos cemitérios antigos e, passe o termo, descontinuados. Também aqui houve um tempo em que os defuntos mereciam apreço, e não uma eternidade sob um pesadelo decorativo saído da imaginação de José Castelo Branco. Nas aldeias e vilas do interior, ainda restam exemplares desses quadrados pequeninos com duas dúzias de campas, quase sempre esquecidas, quase sempre humildes, sempre mais dignas que o estardalhaço visual que nas últimas décadas virou lei.
Para mim, pelo menos, o estardalhaço permanece um mistério. Milhares de historiadores e antropólogos explicam há décadas as atitudes contemporâneas perante a morte, esse maçador fenômeno que a higiene, a ciência e o nojo (nos dois sentidos) gradualmente removeram dos espaços públicos. Que eu saiba, nenhum estudioso explica o motivo de os portugueses levarem os espaços públicos para junto da morte: os nossos cemitérios, naturalmente geridos pelas autarquias, possuem o exacto tipo de fealdade das zonas que os cercam.
Se um habitante de Gondomar expira, a essência de Gondomar segue-o até ao tumulo e, pior, instala-se nele. Hoje, o jazigo médio exibe tantos pechisbeques que é notável os visitantes o distinguirem do largo em obras em que deixaram o carro. Por isso é que a expressão “enfeita a campa” ganhou um novo significado, e a expressão “descansar em paz” perdeu o velho. E por isso é que o crescente sucesso dos crematórios não é moda, mas medo: mesmo um céptico terminal, e doente idem, concorda que uma vida em Gondomar chega e sobra.


‘Alberto Gonçalves’

A IVG NA ALEMANHA

A interrupção voluntária da gravidez na Alemanha é permitida até ás 12 semanas a partir da concepção, por solicitação da mulher.

Acima das 12 semanas, por violação ou outro crime sexual.

Sem limite, por razões médicas: ameaças da vida ou da saúde física ou psíquica da mulher, malformações do feto e riscos de saúde causados por situações sócio-econômicas adversas.

A IVG NA AUSTRIA

A interrupção voluntária da gravidez é permitida até aos 3 meses desde a implantação, por solicitação da mulher.

A implantação tem lugar, normalmente, uma semana depois da ovulação ou três semanas depois do ultimo ciclo menstrual.

No segundo trimestre o IVG só se aplica por risco de vida ou físico da mulher, ou quando a mulher for menor de 14 anos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mais de cinco mil ficaram fora da rede de cuidados continuados

Saúde. Em 2009, a Rede vai apostar nos cuidados ao domicílio
Nos últimos dois anos, mais de cinco mil doentes não encontraram resposta na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), que se destina a pessoas doentes em situação de dependência. Ou seja, dos 20 895 casos referenciados pelos centros de saúde e hospitais, 5301 não chegaram a ser assistidos no âmbito desta rede, ou por não cumprirem as regras de admissão ou por precisarem de mais internamento hospitalar, explica a coordenadora da Unidade de Missão dos CCI.

Segundo Inês Guerreiro, desde que o sistema começou a funcionar, já passaram mais de 15 mil utentes pelas instituições que fazem parte da rede. Os restantes foram excluídos por causa de problemas com a referenciação, isto é, tratava-se sobretudo de "casos sociais e não de saúde que deveriam ir para uma instituição, como um lar, e não para os cuidados continuados". Nestes casos estavam ainda doentes que precisavam de mais internamento hospitalar e outros que simplesmente recusaram a solução da RNCCI, acrescenta Inês Guerreiro.

A coordenadora admite, no entanto, que a resposta existente ainda está muito aquém das necessidades do País: "está alcançado o primeiro terço dos objectivos a nível de cobertura". E mesmo esse objectivo foi revisto, passando de cinco mil para quatro mil camas contratualizadas. Mas apesar de faltar mais de metade do caminho, Inês Guerreiro salienta "o muito que já foi feito" em dois anos: "reconstruímos, estruturámos uma rede com gradientes de cuidados", diz. E a aposto é na qualidade. Por isso, no próximo ano, a Inspecção Geral de Saúde vai começar a fiscalizar com atenção os prestadores de cuidados, diz. A rede, que surgiu para dar resposta às situações de dependência fruto quer do envelhecimento da população, quer de doenças incapacitantes, conta com um conjunto de instituições públicas e privadas que prestam cuidados de saúde e de apoio social, sendo as Misericórdias um parceiro fundamental.

Ana Gomes, da Unidade de Missão, refere a necessidade de encontrar "respostas para doentes de Alzheimer" e estruturas diferenciadas para as várias faixas etárias, nomeadamente uma unidade dedicada especificamente a crianças

Autonomia

Além da diferenciação, 2009 será o ano da aposta no apoio domiciliário, respondendo a uma ambição manifestada por muito doentes: a de permanecerem na sua casa. Aliás, Inês Guerreiro salienta que o sucesso da rede não se mede apenas em camas, porque o objectivo é a recuperação. Assim, os resultados são avaliados em função da autonomia conseguida. E aqui, a coordenadora tem números animadores para apresentar, com base num estudo que envolveu uma amostra de 1625 doentes que passaram pela rede no primeiro semestre: 40% conseguiram sair da situação de incapacidade; o número de doentes autónomos cresceu 202%; e o de independentes 675%.

A apresentação no novo site da RNCCI (www.rncci.min-saude.pt), no arranque da semana dedicada aos Cuidados Continuados, serviu também para o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Francisco Ramos, realçar a importância da informação e da transparência na gestão da rede.

'Patricia de Jesus'

A CRISE DO INVERNO

Comparada com a crise financeira mundial, esta não tem nada de surpresa. Já se sabe que os frios de Inverno atacam as gargantas, sobretudo as das crianças, e provocam uma vaga de amigdalites e outras doenças febris. Dá para prever e, eventualmente, tomar medidas nos serviços de urgência pediátrica. O que se vê, no entanto, é que a crise geral arrasa tudo. E bate fundo nos serviços de saúde.
No sábado á tarde, a Urgência para crianças do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, era pior do que um purgatório. Quem por lá passou sentiu que aquilo só podia estar assim para castigo das pessoas. Destina-se a atender crianças, mas é dos raros locais públicos de espera onde não há um aparelho de TV para distrair.
O resultado é terrível. as crianças doentes, obrigadas a esperar horas pelas consultas, desatam a chorar. Os pais sem paciência passam-se dos carretos e quem para se acalmar olha à volta sente as piores ganas. As paredes enegrecidas estão a precisar de pintura, há cadeiras de plástico estragadas a aguardar substituição. Mães despem os filhos à pressa um saco de plástico para a criança, maldisposta, vomitar. O cenário com o despojo dos pequenitos nus dá ares de uma antecâmara de extermínio. Os exaltados por estarem mais de duas horas a sofrer por uma consulta que se anunciava com uma espera de uma hora revoltam-se. O que mais se ameaça é ir lá dentro, aos gabinetes médicos, e partir tudo.
Confrontados com a situação, a resposta dos médicos é de que é sempre assim com a crise do Inverno. E que há falta de pessoal. Pergunta-se se é resposta que se dê. O Governo não pode servir com miséria os utentes do Serviço Nacional de Saúde quando o Estado não aceita que se deixe de pagar impostos por falta de dinheiro.
Há uma razão particular para trazer este caso ao jornal e não o deixar pelo livro amarelo das reclamações nos serviços públicos. Numa reportagem, enfrentei há dias com um fotógrafo dois vigilantes de um local privado de uso publico. Um deles ameaçou chamar a policia para nos prender; o outro, ao saber que se tratava do “Correio da Manhã”, mostrou-se compreensivo. “Quando a minha mãe foi para o hospital – explicou – estavam a demorar muito a operá-la e eu escrevi para o CM a denunciar o caso. Publicaram a carta e depressa houve cirurgias. À minha mãe e às outras doentes da enfermaria”. Um jornal cumpre quando se afirma ao Aldo dos cidadãos.


‘João Vaz’

domingo, 16 de novembro de 2008

MAIORIA ACEITA A EUTANASIA

Mais de metade dos portugueses são a favor da eutanásia, e 47,5% defendem que o assunto deve ser referendado. Os dados constam de um estudo de opinião feito pela Eurosondagem. Para a deputada do PS Maria de Belém estes resultados mostram como a discussão sobre o tema é inevitável. Já a Igreja é absolutamente contra, mas admite que há que esclarecer os católicos. Os médicos, por seu lado, estão impedidos de realizar a eutanásia.
“Penso que pode haver alguma confusão sobre o significado da palavra eutanásia”, afirma o presidente da Conferencia Episcopal Portuguesa ao expresso. Jorge Ortiga acrescenta: “Há pessoas que associam a eutanásia a uma morte digna e por isso temos de elucidar os cristãos sobre o assunto. E também sobre o prolongamento artificial da vida”.
O suicídio com ajuda é um tema que está na mesa de muitos países europeus. Portugal não foge á regra e a eutanásia será um dos temas fracturantes da próxima legislatura.
“É uma matéria extraordináriamente sensível que vamos ter de debater. Não há alternativa”, avisa Maria de Belém, deputada socialista e ministra da saúde de António Guterres. “Pessoas muito doentes não sobreviveriam se não fossem os sistemas de saúde altamente sofisticados do Ocidente”, acrescenta. Mas Maria de Belém defende uma discussão profunda sobre o assunto, alargada à sociedade e muito centrada na experiência dos médicos, enfermeiros e psicólogos que diáriamente lidam com doentes terminais.
“Muitas vezes temos uma posição sobre este assunto porque conhecemos ou ouvimos falar de um caso concreto. Penso que não pode ser assim, não podemos decidir uma coisa destas a partir da nossa experiência”, afirma.
A deputada é, no entanto; contra que esta matéria seja decidida por consulta popular, alinhando com os 43,4% dos inquiridos pela Eurosondagem. Para a igreja, “a vida não é referendável” mas se o assunto avançar pelas mãos dos políticos, os eleitores devem ser chamados a pronunciar-se directamente, como defendeu o cardeal português José Saraiva Martins.
Sem querer responder à questão sobre se é a favor da eutanásia, cuja legalização já é defendida por BE e JS, Maria de Belém prefere uma aposta forte nos cuidados paliativos, onde “devem ser feitos investimentos”.
A Ordem dos Médicos recusa falar e remete para o seu mais recente código deontológico (aprovado em Setembro): “Ao médico é vedada a ajuda ao suicídio, a eutanásia e a distanásia”, diz o artigo 57º. No ponto seguinte, afirma-se que o médico, nos casos de doenças avançadas e progressivas, “deve passar a dirigir a sua acção para o bem-estar dos doentes”. Os cuidados paliativos constituem o padrão do tratamento nestas situações, e a forma mais condizente com a; dignidade do ser humano”, lê-se.
Há semanas, a Associação Portuguesa dos Cuidados Paliativos anunciava os resultados de uma sondagem que encomendara: apenas 38% dos portugueses conhecem a expressão. Mas apenas 10% dos doentes terminais ou com doenças graves têm acesso àqueles cuidados.


‘Monica Contreiras’

NEUROTOXINA PODE SER CAUSA DA ELA

A Neurotoxina BMAA presente na relva dos campos de futebol pode ser a causa da esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa que já afetou dezenas de futebolistas entre eles José António, antigo jogador do Leixões e Desportivo de Aves que se viu forçado a abandonar prematuramente os relvados devido ao agravamento do seu estado de saúde num curto espaço de tempo.
Vários factores relacionados com doping, esforço excessivo, uso abusivo de anti-inflamatórios, etc, já foram apontados como causas possíveis da doença, mas a ciência ainda não em uma conclusão definitiva.
Uma nova corrente de pesquisa sobre a origem da doença inclina-se para a possibilidade da neurotoxina sustentada esta semana por Jesus Mora, neurologista e director da unidade de ELA do Hospital Carlos III, de Madrid.
Segundo o especialista, a neurotoxina BMAA, produzida por algas azuis presentes em águas paradas e que se alimentam principalmente de fosfatos como os dos pesticidas, podem ter nos relvados de futebol um óptimo meio de desenvolvimento através das várias sessões de rega a que são sujeitos. As algas azuis e respectivas neurotoxinas também estão relacionadas com outras doenças neurodegenerativas como são os casos do Alzheimer e Parkinson.
Mas as neurotoxina, só por si, não explicam tudo. De acordo com Jesus Mora, outro factor fundamental para o desenvolvimento da doença será a condicionante genética de cada individuo, até porque a esclerose lateral amiotrófica é muito rara.
A patologia foi diagnosticada em mais de 40 jogadores em Itália nos últimos anos, proporção largamente superior à registada na população comum. Adriano Chio, responsável pelo Departamento de Neurologia da Universidade de Turim, analisou 7.325 futebolistas que jogaram na série A e B de Itália, entre 1970 e 2006, e concluiu que a média da doença entre os atletas é seis vezes superior à da população geral.
A ELA provoca uma paralisia dos músculos das pernas e dos braços, da boca e da garganta. Impossibilitando a fala e a deglutição, e no limite, a respiração. Apenas 20 por cento dos pacientes sobrevivem cinco anos, e cinco por cento dos casos são hereditários.


‘Luis Miguel Pereira’

INDEMNIZAÇÃO POR FALTA DE SEXO

Uma mulher italiana de 55 anos vai receber 50 mil euros como ressarcimento por oito anos sem relações sexuais com o seu marido. O condenado, por um juiz de La Spezia, nordeste de Itália, foi o condutor de uma mota, que atropelou o marido da senhora quando este andava de bicicleta. O juiz Fabrizio Pelosi teve em consideração os danos morais e biológicos da mulher, pelo fim abrupto de uma vida sexual serena durante 27 anos de casamento.

CODIGO EUROPEU CONTRA O CANCRO

Algumas formas de cancro podem ser evitadas:

1 – Não fume.
Se é fumador, deixe de o ser o mais rapidamente possível, não fume na presença de outra pessoa.

2 – Modere o seu consumo de bebidas alcoólicas, tais como cerveja, vinhos, bebidas espirituosas.

3 – Evite a exposição demorada ou excessiva ao sol.

4 – Observe as instruções de segurança e de saúde, especialmente nos locais onde se proceda à produção, manipulação ou utilização de qualquer substancia que possa causar cancro.

A sua saúde beneficia das seguintes recomendações, as quais também podem reduzir o risco do cancro:

5 – Coma frequentemente frutas frescas, vegetais e cereais ricos em fibras.

6 – Evite o excesso de peso e faça uso limitado de alimentos ricos em gordura.

A maioria dos cancros podem ser curados quando diagnosticados precocemente:

7 – Procure o médico se encontrar qualquer tumefacção ou verificar qualquer mudança no aspecto e dimensão dum sinal pigmentado ou perdas de sangue.

8 – Procure o médico se tiver problemas persistentes, tais como tosse continua, rouquidão persistente, alterações nos seus hábitos intestinais ou perda de peso sem explicação evidente.

Para a mulher:

9 – De forma regular, obtenha uma citologia cérvico-vaginal.

10 – De forma regular, procure obter uma observação dos seios e, sempre que possível, com intervalos regulares e depois dos 50 anos, faça uma mamografia.

A) FUMAR PROVOCA CANCRO

O tabaco é nocivo à saúde.
É a causa de grande numero de mortes por cancro, em especial do pulmão.
As doenças cardiovasculares e a bronquite crônica são mais freqüentes nos fumadores.
O consumo de tabaco aumenta o risco de cancro da boca, faringe, laringe, esôfago e bexiga.
O ar poluído pelo fumo de tabaco é também prejudicial para os não fumadores, podendo causar-lhes cancro.

B) MODERE O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOOLICAS

O consumo em excesso de bebidas alcoólicas favorece o aparecimento de cancro da boca, laringe e esôfago, sendo ainda responsável por outras doenças tais como a cirrose hepática.
Se ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas se junta o hábito de fumar, o perigo de cancro torna-se maior. O álcool é também causa de graves problemas sociais. Todas as bebidas alcoólicas são perigosas para as crianças e jovens menores de 16 anos, pelo que lhes são desaconselhadas.

C) O SOL EM EXCESSO É PREJUDICIAL

A exposição demorada ou excessiva ao sol é a principal causa de cancro da pele.
Os pescadores, os trabalhadores do campo e as pessoas que apanham sol em excesso nas praias e piscinas estão mais sujeitas a cancro da pele.
Redobre os cuidados com as crianças.

D) OBSERVE AS INSTRUÇÕES DE SEGURANÇA E SAUDE NO AMBIENTE DE TRABALHO

Há muitas substancias que podem causar cancro e com as quais se tem de estar em contacto, em especial em certas profissões.
É o caso dos componentes de arsênio, anilinas, crómio, níquel, amianto, certos tipos de alcatrão, entre outros. Também alguns tipos de radiações são cancerígenas, por exemplo os raios x e as radiações atômicas.
Existem regulamentos de segurança no trabalho que devem ser rigorosamente cumpridos.

E) FRUTA FRESCA, VEGETAIS E CEREAIS RICOS EM FIBRAS SÃO ALIMENTOS INDISPENSÁVEIS

As vitaminas da fruta e dos vegetais frescos, principalmente as vitaminas A e C, podem proteger contra certas formas de cancro da pele e mucosas.
Uma alimentação pobre em gorduras e rica em fibras (hortaliças, legumes, cereais) protege contra o cancro, em especial do intestino.

F) EVITE O EXCESSO DE PESO

Uma alimentação com excesso de gorduras e carne pode contribuir para o aparecimento de certos tipos de cancro e de doenças cardiovasculares.
As pessoas com peso excessivo adoecem com mais freqüência.
A obesidade é uma doença que deve ser evitada desde a infância.
Uma alimentação saudável deve ser pobre em gorduras, principalmente de origem animal, preferir o peixe e ser abundante em vegetais, fruta e outros alimentos ricos em fibras.

G) ESTEJA ATENTO AOS SINAIS DE ALERTA DE CANCRO; CONSULTE O MÉDICO

Se criar o habito de observar o que se passa no seu corpo, poderá contribuir de forma esclarecida para o diagnóstico precoce do cancro.
A maior parte dos cancros, quando diagnosticados numa fase inicial, têm grandes possibilidades de cura.
Dê especial atenção:
- Ao aparecimento de algum caroço ou nódulo.
- À perda anormal de sangue ou outro líquido por qualquer parte do corpo.
- À mudança de aspecto de um sinal ou verruga.

H) PROCURE O MÉDICO SE TIVER PROBLEMAS DE SAÚDE QUE DUREM MAIS DE 3 SEMANAS

Certas alterações ou sintomas banais podem ser sinal de alerta quando durarem mais de 3 semanas, tais como:
- Tosse ou rouquidão persistentes.
- Alterações dos hábitos intestinais ou urinários.
- Perda de apetite ou perda de peso sem justificação.

I) ESPECIAL PARA MULHERES: FAÇA REGULARMENTE UM TESTE DE PAPANICOLAU (ESTUDO DE CÉLULAS CÉRVICO-VAGINAIS)

Este teste, fácil de fazer, exige apenas um simples exame ginecológico.
Permite a prevenção do cancro do colo do útero, causa importante de morte no nosso país.
Pelo estudo das células descamadas do útero, podem ser observadas alterações pré-cancerosas, ou cancro em fase inicial com grandes possibilidades de cura.

J) PROCURE OBTER UMA OBSERVAÇÃO DOS SEIOS COM REGULARIDADE

Um em cada quatro casos de cancro, nas mulheres, é cancro da mama.
Sendo muito freqüente, também é curável na maior parte dos casos (80%).
O diagnóstico precoce depende de si:
- Faça o auto-exame da mama (observação e palpação) todos os meses, logo após a menstruação acabar ou em data fixa se já não for menstruada.
- Vá ao médico se notar alguma diferença de um exame para o outro.
- A partir dos 40 anos deve fazer anualmente um exame clínico da mama.
- Sempre que possível, e entre os 35 e os 40 anos, é aconselhável fazer uma mamografia padrão. A partir dos 50 anos é recomendável fazer este exame todos os anos.

COBRAS MATAM 20 MIL PESSOAS POR ANO

Pelo menos 400.000 pessoas são envenenadas todos os anos por mordeduras de cobras, acabando por morrer cerca de 20 mil. Esta é a estimativa mais conservadora de um grupo de cientistas que publicou um artigo numa revista de medicina norte-americana. O problema é que uma larga maioria das mordidelas não são comunicadas às entidades médicas. Daí que se pense que os valores mais corretos andem pelas 1,9 milhões de mordeduras, que causarão 94 mil mortes. Os países mais perigosos são a Índia, Sri Lanka, Vietname, Brasil, México e Nepal.

domingo, 26 de outubro de 2008

TESTAMENTOS EM VIDA E SUICIDIO ASSISTIDO

No dia 12 de Setembro, um jovem inglês de 23 anos de idade, de seu nome James, pôs termo à vida numa clinica suíça onde se pratica a eutanásia. Jogador de râguebi, vira uma mêlêe desabar sobre si. As suas vértebras cervicais foram deslocadas e passaram a prender a medula espinal. Ficou, assim imediatamente, paralisado do pescoço para baixo.
Até à sua ida para a Suíça já tentara suicidar-se diversas vezes. Não estava preparado para uma ‘vida de segunda’ e sentia o corpo como uma ‘prisão’. Os pais, Mark e Julie, acompanharam-no na sua viagem.
A semana passada a policia inglesa tornou publico o facto de ter aberto um inquérito relativamente à morte de James. Em causa está a eventual prática do crime de suicídio assistido existente na legislação inglesa e que prevê que os auxiliares do suicida possam ser condenados numa pena de prisão até 14 anos. Segundo a policia, já tinham sido ouvidas duas pessoas e iria ser entregue um relatório ao Ministério Publico.
Na nossa terra, a situação está prevista no artigo 135º do Código Penal, que pune com a pena de prisão até três anos ‘quem incitar outra pessoa a suicidar-se, ou lhe prestar ajuda para esse fim (...) se o suicídio vier efectivamente a ser tentado ou a consumar-se.
A questão que se propõe é simples: poderão/deverão aqueles pais ser perseguidos criminalmente? Aquilo que eles praticaram, acompanhando o filho na sua decisão, foi um crime ou um acto sobre-humano de amor e de razão? Creio que seria um bom exercício imaginamos o que aquela mãe e aquele pai terão passado até se decidirem a acompanhar a decisão do filho. Há que aguardar pelo bom senso, ou pela falta dele, por parte das autoridades britânicas.
Mas a eutanásia não está na ordem do dia no nosso país e a morte raramente é bem-vinda, mesmo como tema de conversa. No entanto, ela sempre comparecerá e não seria mal para os cidadãos que algumas coisas estivessem mais organizadas. Uma das questões que é necessário tratar na nossa sociedade respeita à divulgação de ‘testamentos em vida’ (living Will) ou ‘testamento de paciente’ ou, ainda, ‘testamento biológico’.
Estes documentos, praticamente desconhecidos no nosso país, mas muito divulgados nos EUA, permitem que enquanto estamos sãos de corpo e de espírito possamos decidir o que queremos como tratamentos médicos quando já não estivermos em condições de o dizer. Se, se encontrar em estado vegetativo persistente, quer ser ventilado e alimentado artificialmente? Quanto tempo? Quer ser ressuscitado? Quer prolongar a sua estadia no hospital? Quer ir para sua casa e aí morrer?
O nosso Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) produziu um parecer, em 2005, sobre o estado vegetativo persistente. O documento é um parecer em aberto, que opta por não definir regras, embora afirme alguns princípios, mas termina por considerar que ‘não poderão ser aplicadas soluções uniformes às pessoas em estado vegetativo persistente, impondo-se, pois, uma avaliação criteriosa em cada situação.
Mas o parecer afirma também que a ‘pessoa em estado vegetativo persistente tem direito a cuidados básicos, que incluem a alimentação e hidratação artificiais’, e que ‘toda a decisão sobre o inicio ou a suspensão’ desses cuidados ‘deve respeitar a vontade do próprio’. Mais afirmou o CNECV que essa vontade ‘pode ser expressa ou presumida ou manifestada por pessoa de confiança’ previamente por si designada.
Isto é, a vontade da pessoa em estado vegetativo persistente é central na tomada de decisões sobre o prolongamento dos tratamentos médicos e da sua própria vida. ora, a manifestação da vontade, enquanto se está são, é, posteriomente, determinante na tomada de decisões, pelo que é de toda a conveniência que a mesma esteja registada por escrito.
É certo que o CNECV entende que não podem ‘ser aplicadas soluções uniformes’ e deixa à equipa médica e à família a tarefa de descobrirem a solução, o que até funciona bem em alguns casos. Mas quantas angústias não se poupariam se estivesse divulgado o ‘testamento em vida’?
O CNECV bem podia elaborar um modelo dos testamentos em vida que cobrisse as diversas situações possíveis, nomeadamente a situação de doença terminal ou estado vegetativo persistente e o tipo de cuidados7tratamentos recusados e promover a sua divulgação.
Em 2002, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) pronunciou-se, no caso Pretty contra Reino Unido, sobre a existência deste ‘direito a morrer’ para concluir que tal direito não resulta da Convenção Européia dos Direitos do Homem (CEDH), não condenando o Reino Unido. Dianne Pretty tinha 44 anos e sofria de uma doença degenerativa muscular sem cura, já se encontrando numa fase avançada da mesma, quase integralmente paralisada e pretendendo ser ela a decidir da dignidade da sua própria morte, pediu ‘imunidade’ para o seu marido do crime de suicídio assistido, já que a teria de auxiliar a pôr termo à vida. Mas as autoridades britânicas recusaram o pedido e Pretty recorreu ao TEDH, mas, embora reconhecendo que havia muitas questões controversas que se levantavam com a impossibilidade de escolher o seu momento da morte, o TEDH não descobriu nenhuma violação da CEDH.

‘Francisco Teixeira da Mota’

Cientistas criam próstata com células estaminais

Cancro. Investigadores norte-americanos conseguiram

isolar as células estaminais da próstata de ratos, transplantando-as para criar novas glândulas. Esta pesquisa permitirá estudar como as células são capazes de crescer indefinidamente e como se pode travar esse crescimento
A primeira próstata fabricada a partir de células estaminais já é uma realidade. Pelo menos nos ratos do laboratório da empresa norte-americana Genetech. De acordo com o último número da revista Nature, a detecção de células estaminais na próstata dos animais possibilitou a posterior regeneração total da glândula. Os resultados do estudo poderão ser mais um passo no combate ao cancro da próstata.

Arnaldo Figueiredo, professor de Urologia na Faculdade de Medicina de Coimbra, explica a importância desta investigação: "Uma das vantagens é conseguir desenvolver um modelo experimental da próstata num rato. É um modelo em que se pode perceber como estimular ou inibir o órgão, desenvolver fármacos e fazer a respectiva translação para o humano." Como o cancro da próstata é decorrente de um desenvolvimento anormal de tecido, conseguir fazer crescer uma próstata dá a possibilidade de reproduzir os mecanismo do cancro e, eventualmente, compreender como se pode travar a multiplicação desregulada das células.

Para este primeiro passo, que é fazer crescer uma próstata, os investigadores procuraram identificar quais as células estaminais da glândula. Estas células caracterizam-se pela sua grande facilidade em dividir-se e em transformar-se em qualquer tecido do corpo humano que tenha sido danificado ou que precise de se desenvolver. Compreendendo a importância destas células, os cientistas procuraram encontrar um marcador que as distinguisse das outras células da próstata. Deste modo, seria possível reutilizá-las para compreender a formação de tecidos.

Segundo refere Wei-Qiang Gao, um dos responsáveis pela experiência, um estudo recente já sinalizara que as regiões da próstata do rato próximas da uretra podiam constituir um "nicho de células estaminais". De forma a perceberem que marcadores específicos se concentravam ali com maior prevalência, compararam as células desta zona com as das outras regiões, identificando um elemento biológico chamado CD117. A expressão deste marcador "está especialmente evidenciada na zona próxima da uretra e os seus níveis aumentam depois de uma castração química induzida. Duas características que indicam tratar-se de células estaminais adultas", refere o documento da investigação, citado pelo jornal espanhol El Mundo.

Ainda para provar que estas células podiam transformar-se em novos órgãos, os especialistas misturaram as células estaminais num gel com células do estroma de ratos, capazes de auxiliar o crescimento dos tecidos. Quando o preparado foi introduzido no fígado de ratos, regenerou-se num tecido prostático funcional.

Também ao transplantarem uma única célula estaminal para os ratos, os cientistas conseguiram observar o crescimento de uma nova próstata. Concretamente, a partir de 97 células estaminais implantadas individualmente, a equipa conseguiu gerar 14 próstatas nas cobaias. De acordo com o El mundo, Gao qualificou o trabalho como "um avanço espectacular na investigação de células estaminais".

Porém, o estudo de células estaminais funcionará mais como um modelo do funcionamento do cancro da próstata do que como qualquer forma de cura. De facto, as células estaminais são normalmente tidas em conta "pelo seu uso no conceito de regeneração de tecidos. Mas no caso da próstata não é a sua recuperação que está em causa", salienta Arnaldo Figueiredo.

Mesmo que a descoberta esteja longe de poder reproduzir-se em humanos, como advertem os próprios investigadores na revista Nature, abrem-se novos caminhos para a compreensão de como estas células são capazes de se auto-renovar indefinidamente.

Por outro lado, a evolução do tratamento do cancro da próstata tem conseguido um grande aumento da sobrevida e a comunidade científica não pára de investigar.


'Sara Gamito'

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Caos na linha Saúde 24

Oito supervisores do Saúde 24, fundadores da linha de atendimento telefónico 808 24 24 24, escreveram uma carta à ministra da Saúde denunciando o "caos organizativo" em que caiu o serviço e pedindo a Ana Jorge uma intervenção rápida, para bem dos utentes.

Falhas constantes no sistema, decisões tomadas apenas para ganhar mais dinheiro, erros nos contactos com os utilizadores, mudanças diárias "arbitrárias", mau ambiente e perseguições internas aos enfermeiros que não concordam com as decisões. A lista de problemas é extensa e, dizem os subscritores da carta, culmina numa "crescente insatisfação" da maioria dos utilizadores.

Ano e meio depois de o serviço ser lançado, em parceria público-privado, a gestão do Saúde 24 feita pela empresa LCS é arrasada numa carta com 15 pontos. Os enfermeiros dizem que "a plataforma de atendimento falha todos os dias e chega a estar várias horas inoperacional. Os utentes ligam e não são atendidos". A comunicação com as unidades de saúde "também falha frequentemente" e "a fragilidade da plataforma tecnológica põe em causa a resposta em situações de emergência", porque o serviço deixa de conseguir comunicar com o INEM.

Mas os problemas não se ficam por aqui. A empresa é acusada de alterar as regras dos contactos com os doentes para poder cobrar mais dinheiro. Como a Direcção-Geral da Saúde não paga os reencaminhamentos (informações adicionais de esclarecimento depois de um doente já ter sido atendido), estes foram "proibidos". Se um utente voltar a ligar com uma dúvida simples, é novamente submetido a uma triagem e tem de responder de novo ao questionário inicial.

Nas transferências para o INEM, em caso de emergência, "o director do centro de atendimento pediu aos supervisores para serem feitas de imediato, mesmo antes de qualquer avaliação mínima da real necessidade do utente". Porquê? "Porque o Estado só paga se 95% das chamadas forem tratadas e transferidas em menos de dez minutos". Mais: "A administração tem tomado decisões sobre o processo de triagem que não parecem fundamentadas em qualquer critério clínico ou de melhoria de serviço", mas que "parecem ser relevantes para a execução financeira e motivadas exclusivamente por isso".

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Como funcionava antes?

Havia várias linhas especializadas de atendimento telefónico que funcionavam na esfera da Direcção-Geral da Saúde. Entre elas, a linha pediátrica Dói Dói Trim Trim e a Linha de Saúde Pública.

Como surgiu o Saúde 24?

Lançado há 17 meses, o Saúde 24 (808 24 24 24) foi uma das apostas do Ministério da Saúde para a reforma do Serviço Nacional de Saúde, herdado do anterior Governo e adjudicado em 2004. Centralizou as várias linhas que existiam. Serve para prestar atendimento telefónico em caso de doença e libertar as Urgências das situações que não são urgentes. Foi apresentado como uma peça fundamental para criar uma alternativa ao fecho de SAP e de Urgências.

Quem explora a linha?

É um serviço público explorado por um grupo privado que ganhou um concurso público em 2004 – A Linha de Cuidados de Saúde LCS, SA, do grupo Caixa Geral de Depósitos.

Que tipo de serviços presta?

Funcionando 24 horas por dia com enfermeiros com formação específica, faz triagem, aconselhamento e encaminhamento. Esclarece dúvidas de doentes, encaminha-os para as unidades de saúde, caso necessário, dá conselhos sobre medicamentos e facilita o acesso a informação e aos serviços de saúde.

Quantas pessoas já atendeu?

O balanço feito ao fim de um ano aponta para 125 mil horas de atendimento e mais de 106 mil idas a uma Urgência evitadas.

MINISTÉRIO DIZ QUE ESTÁ TUDO BEM

O Ministério da Saúde responde às denúncias de alerta feitas pelos supervisores do Saúde 24 saindo em defesa da empresa concessionária. Em esclarecimentoà carta dirigida à ministra Ana Jorge, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) – que supervisiona o contrato – diz não ter dados que mostrem o descontentamento dos utentes em relação ao serviço.

"Afigura-se importante esclarecer que a linha está em pleno funcionamento. Como entidade pública contratante, a DGS promove auditorias e outras acções de monitorização" e "não registou ocorrências por parte dos utilizadores que possam comprometer o bom desempenho do serviço." A relação entre as chamadas recebidas e efectivamente atendidas está "em níveis superiores a 95%" e a facturação das transferências para o INEM "obedece a níveis de serviço previstos contratualmente". Sobre o alerta de que a direcção clínica está ausente, a DGS responde que mantém contactos regulares com a mesma e garante que "o aconselhamento terapêutico é prestado por farmacêuticos e não técnicos de farmácia".

TRIBUNAL DÁ RAZÃO AOS ENFERMEIROS

Cinco dos enfermeiros supervisores entregaram uma providência cautelar no Tribunal do Trabalho de Lisboa contra a LCS, depois de verem os horários de trabalho "alterados unilateralmente" pela empresa. O tribunal deu-lhes razão e obrigou a LCS a voltar ao mapa acordado antes. A mudança de horas – que impedia os enfermeiros que exercer nos centros de saúde e hospitais de origem – é apenas uma das situações laborais de que se queixam. Dizem que, por questionarem decisões com as quais não concordam, "são vítimas de uma senda persecutória". Chegaram a ser impedidos de entrar no edifício, de ter acesso ao sistema informático, são "permanentemente humilhados" em público e afastados da supervisão do atendimento.

DENÚNCIAS

BUROCRACIA

A identificação dos doentes tornou-se "num processo burocrático e desnecessário" que provoca "atrasos consideráveis a um serviço com estatuto de emergência".

INQUÉRITO OBRIGATÓRIO

Há perguntas "incompreensíveis e insuportáveis para grande parte dos doentes". Exemplo: é sempre perguntado se o utente autoriza o envio de um inquérito de satisfação, mesmo que este já tenha dito que ‘sim’.

SEM SUPERVISÃO

Os técnicos de farmácia, que fazem aconselhamento de medicamentos, funcionam sem monitorização ou regulamento interno.

NOTAS

FUNCIONAMENTO: DESDE ABRIL

Primeiro começou a título experimental em Abril de 2007. Um mês depois passou a funcionar em pleno. Foi inaugurada pelo primeiro-ministro e pelo ex-ministro da Saúde Correia de Campos

FALHAS: ERROS DE TRADUÇÃO

O sistema de atendimento foi comprado no exterior e adaptado a Portugal. Mas 17 meses depois "há ainda erros de tradução e perguntas desadequadas à realidade nacional"

CRÍTICA: DIRECÇÃO AUSENTE

A direcção clínica "está ausente" e os enfermeiros "esperam há mais de um ano por respostas" para resolver erros. Exemplo: a suspeita de hérnia umbilical é tratada como hérnia inguinal

Rute Aaújo

Cozinha ao lado da capela mortuária

Há mais de duas semanas que a cozinha do Hospital de Santa Maria, local onde são confeccionadas as refeições dos doentes, se encontra ao lado (cerca de dois metros) da capela mortuária da mesma unidade hospitalar.

Na parte lateral do edifício, onde a capela se situa há mais de 50 anos, cruzam-se actualmente carrinhas funerárias e outros veículos com produtos alimentares, havendo por vezes situações menos agradáveis. "Ainda no outro dia, um carro funerário com uma urna lá dentro teve que esperar que um indivíduo acabasse de servir pão, para poder entregar a urna à família que já a esperava há muito", disse ao CM uma fonte que preferiu não se identificar.

A mesma fonte revelou ainda que a situação normal é "sair um cadáver junto à cozinha", mas garantiu que a "comida não está em contacto directo com os mortos".

José Pinto Costa, assessor do Hospital de Santa Maria, emLisboa, disse ao CM que a situação "em nada afecta a alimentação, as condições de higiene e de segurança dos utentes" e que se trata de uma situação "provisória".

A cozinha desta unidade de saúde está a ser remodelada e estará pronta no "princípio do próximo ano. Até essa data a situação irá continuar tal como está", confirmou ao CM José Pinto Costa.

PORMENORES

ENCERRADA

A cozinha do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi encerrada pela ASAE em Outubro do ano passado.

OBRAS

O hospital garante, que as obras na cozinha nada têm a ver com o encerramento determinado pela ASAE.

54 ANOS

O Hospital de Santa Maria tem 54 anos e é um dos maiores e melhores equipados do País.

Joana Freire

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

HOSPITAL GARCIA DE ORTA UM CASO INEDITO...

Não há nada pior do que desperdiçar meios na saúde. O Hospital Garcia de Orta, em Almada, Portugal, deve ser um dos poucos no mundo que chama alguém de fora para acorrer às urgências lá dentro. Sempre que existe uma emergência na ala de psiquiatria, os enfermeiros preferem chamar o INEM a chamar os especialistas de Medicina Interna que estão no sétimo piso. A justificação? Lentidão.
Segundo o director clínico do hospital, da ala de Medicina Interna à Psiquiatria os médicos demoram cinco minutos – e o INEM é mais rápido. Até pode ser, mas não devia ser. De cada vez que um médico do INEM se mete no carro para fazer 50 metros das urgências até à ala de psiquiatria, há menos uma viatura disponível para acudir a uma emergência noutra ponta da cidade, onde não há médicos, equipamentos, enfermeiros, clinicas ou hospitais – nem no sétimo piso nem em lado nenhum à volta.
Implantar esta regra é grave, defendê-la e orgulhar-se dela – como faz o director clínico do Garcia de Orta – é pior: é um desperdício. E os desperdícios na área da saúde pagam-se caro.

‘Direcção do Semanário Sábado’

O CERTO E O ERRADO…

Tem razão o jurista que defendeu a criação de uma lista com as actividades profissionais para as quais se pode pedir aos trabalhadores que efectuem testes ao VIH/Sida?

Tem. E não apenas para acautelar a saúde de quem está infectado. A avaliação dos riscos que os infectados com sida podem trazer para os seus locais de trabalho tem revelado critérios muito variáveis: em Portugal, um cozinheiro foi despedido por ser portador do VIH mas um cirurgião também infectado foi mantido em funções. E há outras questões: em 2006, o Sindicato dos Enfermeiros denunciou que a notificação obrigatória em caso de sida não era feita em metade dos casos e alertou para o facto de alguns médicos optarem por não informar os enfermeiros sobre os pacientes portadores de VIH. Dada a natureza das suas funções, os enfermeiros alegavam que a ausência dessa informação os expunha a riscos desnecessários. Na verdade há poucos assuntos mais irritantes do que aqueles em que se misturam a mania do progressismo e o medo. O caso da sida é um deles. Clarificar que testes se podem pedir e a quem pode ser dada essa informação evitará muitas zonas cinzentas, terreno fértil para arbitrariedades.

‘Helena Matos’

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MITOS

O Selim causa impotencia?

Em 1997, um urologista norte-americano disse haver dois tipos de ciclistas: os que são impotentes e os que vão ser. Quando um homem anda de bicicleta, a artéria critica que fornece sangue ao penis fica esmagada. Regra geral, volta ao normal em pouco tempo. Mas, se for esmagada muitas vezes, acabará por ficar assim sempre. O clitóris também é afectado. Cerca de 60% das mulheres que andam de bicicleta três a quatro vezes por semana sentem dores e formigueiros na vagina. Isto acontece porque os selins são demasiado estreitos e não distribuem o peso de forma equilibrada.

Um homem percebe se a mulher está a fingir um orgasmo?

Dificilmente. E se a sua parceira é muito exuberante na cama, isso é um mau sinal. Um orgasmo verdadeiro caracteriza-se por espasmos musculares, tremores nas coxas, costas arqueadas, gemidos e frases incompletas. Os estudos revelam que entre 50% a 70% das mulheres já fingiram um orgasmo pelo menos uma vez. No entanto, pelo menos de 1% dos homens admitem ter sido vitimas dessa mentira. Anahad O’Connor diz que há outros sinais a que os homens devem estar atentos. Antes do orgasmo, o clitóris fica erecto, a vagina incha e a pele da área genital escurece. Além disso, os mamilos ficam duros, o ritmo respiratório torna-se mais rápido, curto e profundo. O pescoço, o peito e a cara ficam encarnados.

Podemos sobreviver a um ataque cardíaco se tossirmos?

Tossir durante um ataque cardíaco pode acelerar a paragem do coração. Este mito surgiu devido ao facto de os médicos pedirem às pessoas para tossirem com força durante angiogrfias (radiografias ao coração) motivadas por batimentos cardíacos repentinos e anormais. Provocar a tosse pode, de facto, evitar que uma pessoa desmaie durante uma paragem cardíaca, mas o procedimento é tão perigoso que só deve ser feito debaixo de supervisão médica.

Uma chávena de café tem mais cafeína do que uma chávena de chá?

Sim. Vinte centilitros de chá (tamanho médio de uma chávena) contém entre 20 e 90 miligramas de cafeína. Uma chávena de café do mesmo tamanho tem cerca de três vezes mais. Mas se compararmos um quilograma de chá e um de café, o chá tem mais cafeína. A questão é que com um quilo de folhas de chá é impossível encher centenas de chávenas. E com um quilo de grão de café moído só conseguimos fazer cem bicas.

As mulheres embebedam-se mais depressa do que os homens?

Sim, até quando se trata de uma mulher e de um homem com peso e altura similares. O corpo das mulheres tem menos água do que o dos homens. Além disso, as mulheres têm mais dificuldade em digerir o álcool – a concentração da enzima gástrica que o decompõe é 50 vezes maior no estômago masculino – e o fígado do homem consegue metabolizar 80% mais álcool do que o da mulher. A percentagem de álcool que vai directamente para o cérebro depois de entrar no sangue é muito superior na mulher. Por causa disso, as mulheres alcoólicas desenvolvem cirroses muito mais depressa do que os homens alcoólicos.

A carne de churrasco bem passada causa cancro?

Sim. As pessoas que consomem muita carne vermelha e bem passada têm maior probabilidade de vir a sofrer de cancro do colon. E quem come muita carne grelhada ou assada no churrasco duplica o risco de cancro do pâncreas. A carne contém um aminoácido (creatina) que se decompõe a altas temperaturas e se transforma em aminas heterocíclicas. Em 2005, este composto foi acrescentado à lista de agentes carcinogéneos do Departamento de Saúde dos EUA. Outros químicos cancerígenos presentes na carne grelhada são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Estes agentes altamente tóxicos contaminam a carne através do fumo que se cria quando a gordura pinga sobre o carvão.

O álcool mata células cerebrais?

Nem os alcoólicos inveterados correm o risco de perder neurônios. Este mito deve-se ao facto de o álcool ser um poderoso desinfectante, capaz de matar células humanas. Mesmo assim, as concentrações mínimas de álcool necessárias para matar uma célula estão muito acima das concentrações máximas suportadas pelo organismo humano.

Podemos morrer se tomarmos duche durante uma tempestade?

Para ser electrocutado, basta estar em contacto com uma torneira no momento em que um raio fulminar o edifício onde se encontra, além de serem óptimos condutores de electricidade, os canos de metal que compõem o saneamento básico das casas transportam água carregada de impurezas que ajudam a fazer passar a corrente eléctrica..

A televisão faz mal aos olhos?

A televisão não faz mal aos olhos, porque a dose média de radiação a que uma pessoa é exposta por ano (mesmo que veja TV com regularidade a poucos metros do aparelho) é um décimo da radiação que sofre se fizer uma radiografia.
Os primeiros aparelhos e televisão emitiam níveis de radiação que podiam causar problemas oftalmológicos após exposição prolongada. Hoje, no entanto, as televisões são feitas com matérias protectoras e isolantes e usam uma voltagem muito mais baixa, logo, a radiação deixou de ser um problema.

Sentar-se direito é bom para as costas?

Vários estudos revelam que esta posição aumenta a pressão nos discos lombares na parte inferior das costas. O mito persiste, embora os cientistas defendam há mais de 30 anos que a posição reclinada é a melhor – não cria tensão e minimiza a pressão na zona lombar. Em 2006, um estudo da Universidade de Aberdeen, na Escócia, reconfirmou: sentar-se reclinado num ângulo de 135º, com os pés bem assentes no chão, causa menos tensão nas costas do qe sentar-se direito.

A canja é mesmo boa para a gripe?

Até mesmo se for embalada, pré-cozida ou liofilizada. Em 1978, os cientistas descobriram que esta sopa alivia a congestão nasal e é poderosíssima contra as infecções. A carne de galinha contém cisteína, um aminoácido que dissolve as secreções e ajuda o organismo a recompor-se mais depressa.
Em 2000, um grupo de investigadores norte-americanos elaborou a receita da canja ideal para combater a gripe – leva frango, cebola, batata-doce, nabo, cenoura, aipo, sal, pimenta e pastinaca (uma raiz parecida com a cenoura).

Os homens carecas são mais viris?

Este mito surgiu na Antiguidade por causa dos eunucos. Como não tinham testículos, não produziam testosterona (hormona responsável pelo desejo sexual masculino). As pessoas notavam que quase todos os eunucos tinham cabeleiras fartas e, embora isso não passasse de uma coincidência, começaram a associar a falta de cabelo à produção de testosterona e à virilidade. Hoje sabe-se que a calvíce se deve à presença de células receptoras de hormonas supersensíveis no couro cabeludo.

As retretes são fontes de germes?

Um estudo do ‘New England Medicine Jounal’ revelou que as bactérias que provocam a gonorréia podem resistir numa sanita pelo menos durante duas horas. Já os vírus da hepatite B e do herpes genital podem sobreviver durante uma semana e váris horas, respectivamente. Mesmo assim, o maior perigo nas casas de banho não são as sanitas, são as torneiras, os autoclismos e os puxadores das portas onde as pessoas tocam sem lavar as mãos. Dois factos curiosos: as casa de banho das mulheres têm duas vezes mais germes do que as dos homens e as secretárias têm, em média, quatrocentas vezes mais bactérias do que as sanitas.

O bocejo é contagioso?

É realmente contagioso, não se sabe exactamente porquê. Dois factos curiosos: as pessoas que criam mais empatia são as mais contagiadas pelo bocejo e a hora que se segue ao açodar é o momento do dia em que mais bocejamos.
O bocejo é geralmente tão forte e incontrolável que basta ler a palavra para desencadear um. E ver alguém bocejar pode desencadear uma serie deles. Não se sabe ao certo por que razão bocejamos, mas alguns cientistas defendem que o fazemos por falta de oxigênio no sangue ou excesso de dióxido de carbono no organismo. A única certeza é que não somos os únicos animais a fazê-lo: cães, peixes, crocodilos, macacos e pássaros também bocejam. E até os fetos humanos o fazem.

As melgas escolhem as pessoas?

Todos os humanos exalam um cheiro fascinante para as melgas. Estes insectos sentem-se atraídos pelo calor do nosso corpo e pelos químicos que libertamos durante a transpiração- mas há pessoas que conseguem produzir cerca de 12 substancias que mascaram os cheiros e afastam as melgas.nao se sabe ao certo porque é que isso acontece, mas poderá ser uma estratégia evolutiva natural.

As feridas curam-se melhor se apanharem ar?

Expor uma ferida ao ar cria um ambiente seco para a pele e provoca a morte celular. Se as feridas são mantidas húmidas e cobertas, os vasos sanguíneos regeneram-se mais depressa e a infecção desaparece rapidamente. O ideal é mantê-las cobertas e húmidas durante pelo menos cinco dias. Além disso, os pensos protegem a ferida do sol, evitando que a pele por baixo descolore. Quando a crosta começa a ficar muito dura, mais vale molhá-la e arrancá-la aos poucos do que esperar que caia por si – as crostas que ficam muito tempo na pele deixam cicatriz maior.

O microondas mata nutrientes?

De todos os métodos de cozedura, o microondas é até o menos destrutivo. Os factores que levam à perda de nutrientes são a temperatura, a duração da cozedura e a quantidade de líquido que se adiciona aos alimentos. Dado que os microondas usam menos calor e são mais rápidos do que os métodos tradicionais , em geral preservam mais as características nutritivas dos alimentos.
Os fornos microondas não matam os nutrientes dos alimentos porque aquecem a comida fazendo com que as suas moléculas vibrem. O processo é exactamente igual ao produzido nos fornos clássicos, só que mais rápido.

Dormir demais faz mal?

É muito pior dormir muito do que dormir pouco. Em 2002,um grupo de cientistas norte-americano descobriu que dormir mais de sete horas por noite está associado a uma vida mais curta. E tomar comprimidos para dormir aumenta a possibilidade de se morrer jovem. Dormir entre seis e sete horas por noite parece ser o ideal.

A tinta do cabelo provoca cancro?

Tem de se admitir que sim, embora o risco de isso acontecer seja baixo. As primeiras preocupações surgiram em 1975, quando um grupo de cientistas revelou que um derivado do alcatrõ presente em 90% das tintas causava danos genéticos. O composto foi retirado do mercado, mas os investigadores descobriram outros agentes cancerígenos na formula das tintas. Em 2005, um estudo do jornal da Associação Médica Americana revelou que as tintas para o cabelo aumentam o risco de desenvolvimento de cancro no sistema linfático.
Para minimizar o risco de cancro (que é muito baixo), use luvas durante a aplicação da tinta, prefira as cores mais claras e que saem com as lavagens (são menos concentradas) e evite ao máximo que a tinta entre em contacto com o couro cabeludo.

A água engarrafada é mais limpa do que a que sai da torneira?

Pelo contrario. Um estudo de 2000, nos Estados Unidos, mostrou que um quarto das águas engarrafadas tinha níveis de bactérias 10 vezes superiores aos da água da rede pública. Outra investigação revelou que um terço das águas minerais tinha elevadas concentrações de arsênico e de químicos orgânicos causadores de cancro. É que a água da torneira é monitorizada diariamente e, nos EUA, as garrafas são testadas uma vez por mês.