terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A SUE É QUE SABE!

A senhora podia ser uma estrangeira com quinta biológica no Alentejo. Nada cuidada, sem adereços, rugas assumidas que o pó da maquilhagem espessa da televisão acentua. Está ali sentada ao dispor de quem tem duvidas: “O meu marido não gosta de me fazer sexo oral. Faz, mas mal”. E a senhora pergunta: “Acha que ele não gosta?” “Sim, é isso” E daqui partem à procura de respostas. Será o cheiro, a configuração da ‘coisa’, a falta de pachorra? É tudo isso, claro. E Sue – a senhora que nos aconselha (como quem planta cidreira ou rúcula na hipotética herdade), diz sem hesitar. “É muito simples, não lhe faça a ele!”
Não sei como são as audiências do programa dela na SIC Mulher, mas devia ser obrigatório ver ‘Os conselhos de Sue’. Há muitas coisas que ela diz e nós sabemos, e outras que vale a pena aprender.
Sabiam, por exemplo, que 85% das mulheres atingem o orgasmo através do clitóris? Eu por acaso pensei que eram 99,9%. O clitóris é uma maçada para os homens em geral. Eu diria até que é o maior inimigo deles: dá trabalho, estraga os timings do sexo e não é nada cinematográfico. Em quantos filmes já viram um homem a estimular o clitóris de uma mulher?
Há mulheres que têm muito mais prazer sozinhas (com o seu clitóris) do que acompanhadas. E ás vezes bem acompanhadas.
O clitóris é tão importante como o coração. Só que o coração é para sentir, e o clitóris é para mexer. Um homem que não se aproxime do clitóris de uma mulher nunca lhe chegará ao coração.
Há amigas minhas que muito amo que nunca tiveram um orgasmo. Umas, por pudor, nunca foram capazes de dizer aos namorados/maridos que era ‘ali’, que queriam que eles lhes tocassem, outras acham que masturbação é para quem está sozinho. Quem tem pudor não tem prazer. Os homens de uma certa geração não sabem sequer que o clitóris existe. Quem não tivesse prazer na penetração, tinha de agüentar. E daí nasceram muitas dores de cabeça, o período muitas vezes, a total indisponibilidade. O desamor.
O clitóris só veio complicar a vida dos homens. É uma ameaça ao egoísmo deles. Num duelo com o pénis, o clitóris ganha porque o prazer das mulheres é maior (isto é cientifico).
Abençoados, pois, sejam os que se entregam de boca aberta nas nossas pernas. Os que não temem o desenho esquisito, o odor, a imprevisibilidade daquele pequeno apêndice.
Eu diria mesmo – não sendo crente – que o céu se abre (e as pernas também) aos que se nos dão sem reservas.
A pobre mulher que telefonou à Sue pedindo mais um dos seus sábios conselhos sabia que o marido tentava cumprir a parte dele, para depois ter direito ao prémio. E o prémio era provavelmente um broche. O homem tentava despachar o serviço – porque aquilo era um suplicio – e a mulher nunca ficava satisfeita com o resultado.
Sue perguntou-lhe: “Já tentou explicar-lhe como se faz?” Pois claro que sim. Tantas vezes que já não tinha coragem de lhe dizer novamente. Assim ele podia fazer parecer que era um problema dela, já que ele cumpria a sua parte.
O dedo indicador delas passou a ser muito importante para se satisfazerem quando lhes apetece ou para lhes dizer a eles onde fica uma das maiores fontes de prazer. O dedo indicador é quem manda.
Tenho pena que não haja uma Sue perto de cada um de nós. Uma que nos diga sem pruidos e sem vergonha o que fazer, onde, quando. A Sue deve ser persona non grata para muitos homens. Por causa dela – e de outras como ela – é que se acabou o sossego e o prazer solit´rio deles. Agora estas mulheres de hoje já vêm com exigências, já querem uma mão aqui e outra ali. As mulheres já não lhes querem a boca só para os ouvir falar. Querem muito mais. Querem o prazer com tudo incluído.
Elas já não vão ter de fingir que foi bom, quando nem chegou a acontecer.

Oh Gog, make good, but not wet!

‘Cidalia Dias’

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