segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Oito semanas de meditação provocam alterações cerebrais

Uma equipa de psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts (EUA) realizou o primeiro estudo sobre como a meditação afecta o cérebro. As conclusões, recentemente publicadas no «Psychiatry Research», referem que a prática regular – até oito semanas – pode levar a alterações consideráveis em determinadas regiões cerebrais, relacionadas com a memória, a autoconsciência, a empatia e o stresse.

A investigação sugere que a transformação é benéfica para a saúde física e mental. Apesar de ser uma prática relacionada com a tranquilidade e o relaxamento, os médicos já confirmaram que “proporciona benefícios cognitivos e psicológicos persistentes durante um dia inteiro”, segundo referem os cientistas norte-americanos.
O trabalho mostra que as alterações presentes na estrutura cerebral podem estar relacionadas com esse rendimento. A autora da investigação, Sara Lazar, já tinha realizado estudos onde tinha encontrado diferenças estruturais no cérebro dos profissionais da meditação, ou seja, em pessoas com experiência neste tipo de práticas, em relação a outras pessoas sem antecedentes. As diferenças mais significativas verificaram-se na espessura do córtex cerebral, especialmente em áreas associadas à atenção e integração emocional.

Na investigação corrente, a equipa utilizou imagens por ressonância magnética da estrutura cerebral de 16 voluntários, durante duas semanas antes e depois de realizarem um curso de meditação de oito semanas – programa definido pela Universidade de Massachusetts, para reduzir o stresse.


O curso previa reuniões semanais, que incluíam a prática de meditação consciente, centrada na consciência e sem prejuízo de sensações e sentimentos, os voluntários receberam gravações áudio para continuarem o exercício em casa.
 
 Alteração da massa cinzenta

Cada participante passou 27 minutos por dia a meditar, praticando os exercícios recomendados. Respostas a um questionário assinalavam melhorias significativas, comparativamente às semanas anteriores. A análise das imagens por ressonância magnética mostrou uma evolução na massa cinzenta, localizada no hipocampo – zona cerebral implicada na aprendizagem, memória, estruturas associadas à autoconsciência, compaixão e introspecção.


Verificaram ainda uma diminuição da massa cinzenta na amígdala cerebral, o conjunto de núcleos neuronais nos lobos temporais, relacionados com a diminuição do stresse. Contudo, nenhuma destas alterações foi observada no grupo de controlo dos restantes voluntários, ou seja, nos que não praticaram meditação.


Segundo o grupo de investigação, os resultados mostram a plasticidade do cérebro e como, mediante a meditação, este se molda e altera, de forma a aumentar o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida. Os avanços abrem portas para novas terapias para pacientes que sofram graves problemas de stresse e stresse pós-traumático, por exemplo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sinais ocultos

Um estudo internacional publicado na primeira edição de 2011 da Molecular Cell descreve o mecanismo pelo qual a molécula ARTS, conhecida como “assassina”, regula o processo de morte celular.
A ARTS é uma proteína localizada na mitocôndria que está relacionada com a apoptose, evento que acarreta a morte celular programada. O artigo, que tem entre seus autores um brasileiro, pode ajudar a explicar por que muitos tumores malignos são difíceis de reduzir.
“Sabe-se que a ARTS interage com outra molécula, a XIAP, mas o mecanismo de como isso ocorre e o apelo farmacológico que isso pode trazer foram o que levaram nossa pesquisa ser aceita pela revista”, disse Ricardo Corrêa, pesquisador sênior do Sanford-Burnham Medical Research Institute, nos Estados Unidos.
Graduado em Farmácia-Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), com doutorado pelo Instituto de Química da USP – para o qual contou com Bolsa da FAPESP –, o pesquisador está desde 2007 em San Diego.
Antes de embarcar para o hemisfério norte, Corrêa lecionou na USP. A iniciativa de se mudar para os Estados Unidos surgiu após o convite do Sanford-Burnham para desenvolver pesquisas com fármacos.
Muitas células, velhas ou doentes, do corpo humano passam pela morte celular programada, um processo peculiar de eliminação que é também considerado importante na modulação da progressão do câncer.
Nesse processo, a ARTS é ligada à XIAP, responsável por regular a ação de caspases (enzimas inibidoras da apoptose) por meio do fluido intracelular. A morte da célula ocorre quando a ARTS é liberada.
Tal atividade, até então pouco conhecida, necessita de um estímulo para ocorrer. O trabalho de Corrêa e colegas desvenda como a proteína XIAP é sequestrada e inibida por ARTS.
No estudo, o grupo descreve o papel de uma terceira proteína, Siah, na atividade pró-apoptótica da proteína ARTS liberada. Nesse processo, o novo componente participa por meio da ubiquitinação, processo em que as células indesejadas são marcadas com uma proteína chamada ubiquitina para que possam ser degradadas pelas organelas proteossomas.
A ARTS atua como um sinalizador para atrair o ataque de Siah à XIAP e essa atividade ocasiona a morte da célula. Em alguns casos de câncer infantil, como leucemia linfoblástica aguda ou leucemia melogênica aguda, há uma perda superior a 70% da proteína encontrada na mitocôndria, o que evidencia o papel de ARTS como inibidor do processo de oncogênese.
Processo inverso
Corrêa destaca também o efeito contrário à morte celular que a mesma proteína pode vir a ter. “O próximo passo da pesquisa é o desenvolvimento de terapias citoprotetoras e peptídeos que tenham funções análogas à ARTS”, disse.
“O efeito contrário, no qual temos a elevação de XIAP, também é interessante. Não do ponto de vista oncológico, mas, por exemplo, na preservação de neurônios”, indicou.
Nesse caso, o grupo pretende desenvolver peptídeos capazes de sequestrar a proteína Siah do processo para que seja possível inibir a apoptose, criando, com isso, um efeito protetor da célula.
A ideia é obter peptídeos em porções similares à ARTS para que possam corromper as ligações das moléculas de Siah. Com isso, a atividade de XIAP é afetada, o que pode evitar a morte celular.
Doenças do sistema nervoso responsáveis pela degradação das células neurais, como Parkinson, Huntington, Alzheimer e esclerose múltipla podem ser beneficiadas com o estudo. Outro dado importante para o desenvolvimento de drogas, tanto para o câncer como para doenças do sistema nervoso, é a localização da molécula.
“De acordo com a região onde a ARTS está ligada a XIAP, podemos desenvolver peptídeos com ações miméticas de ARTS e modular eventos de aumento ou diminuição de XIAP, enfocando um papel oncológico ou de proteção neuronal”, disse Corrêa.
O artigo ARTS and Siah Collaborate in a Pathway for XIAP Degradation (doi: 10.1016/j.molcel.2010.12.002), de Jason B. Garrison e outros, pode ser lido na Molecular Cell em www.cell.com/molecular-cell/home.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Dormir para reforçar a memória

Reforçar uma lembrança enquanto se dorme pode ser mais eficaz do que quando se está acordado, revela um estudo realizado por universidades alemãs e suiças e publicado na revista “Nature”.

Uma equipa de investigadores, liderada por
Björn Rasch, treinou a memória de vários voluntários que colaboraram neste estudo e aprenderam a relacionar um cheiro com a localização de um objecto, de forma a que quando sentissem determinado aroma se lembrassem imediatamente de onde este estava.

Após esta ligação ter sido estabelecida, o reforço da memória foi feito em alguns participantes enquanto dormiam e noutros nos momentos em que estavam acordados, através da libertação do cheiro que correspondia ao artigo que tinham de saber onde se localizava.

Com esta experiência, os investigadores verificaram que  as pessoas cuja memória foi reforçada durante o sono lembravam-se com mais precisão da localização do objecto. Já a lembrança dos participantes submetidos a testes enquanto estavam despertos tinha perdido intensidade e era mais fraca do que a do grupo anterior.

Para se certificarem destes resultados, os cientistas realizaram ressonâncias magnéticas aos participantes do estudo e demonstraram que as partes do cérebro activadas enquanto recorriam à memória eram diferentes, dependendo do momento em que esta tinha sido estimulada.


Segundo os cientistas, este estudo pode ter implicações clínicas na área das neurociências para o tratamento de vários problemas, como o stress pós-traumático.

Beber cerveja previne doenças cardiovasculares...

O consumo moderado de cerveja faz bem à saúde. Esta é a conclusão de um estudo da Universidade de Barcelona, apresentado no Colegio Oficial de Médicos de Asturias, que revelou que o consumo de bebidas fermentadas acompanhado de uma dieta mediterrânica ajuda a evitar problemas de diabetes e hipertensão.

O facto de a cerveja provocar uma gordura anormal também já foi refutado pelos especialistas. Segundo o estudo elaborado pelo Hospital Clinico da Universidade de Barcelona e pelo Instituto de Saúde Carlos III, a cultura da alimentação mediterrânea e o consumo moderado da bebida não provocam aumento de massa corporal nem acumulação de gordura na cintura.
Os investigadores testaram milhares de participantes com mais de 57 anos, de nove comunidades espanholas, com alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Os voluntários beberam entre um quarto e meio litro de cerveja e ao mesmo tempo alimentavam-se com refeições típicas da dieta mediterrânica.

Os resultados assinalaram que, devido ao álcool e aos aditivos não-alcoólicos, a cerveja pode fazer bem à saúde e os indivíduos não aumentaram de peso e alguns começaram mesmo a perder uns quilos. Neste contexto, os cientistas recomendam três copos de cerveja por dia as mulheres e dois aos homens, desde que acompanhados pela dieta equilibrada e complementada com algum exercício físico.


A bebida fermentada mantém as propriedades alimentícias dos cereais para além de ser rica em ácido fólico, vitaminas, ferro e cálcio, servindo de escudo ao sistema cardiovascular. Também comprovaram que os bebedores regulares de cerveja, em quantidades moderadas, têm menos risco de sofrer de doenças como diabetes e hipertensão.


Contudo, recorde-se que o consumo moderado de cerveja só tem um efeito preventivo quando associado a uma dieta mediterrânica. Em contrapartida, quando acompanhado, por exemplo, por uma dieta anglo-saxónica, e uma alimentação à base de comida "fast food", pode ter um efeito negativo.

Homens vivem menos do que mulheres devido ao fumo e ao álcool

Comportamentos nocivos
Mundialmente, as mulheres têm uma longevidade maior do que os homens.
Há várias hipóteses tentando explicar isto, desde as mais antiquadas, que se apoiavam em fatores como menor competitividade, menor estresse etc. - como se as mulheres vivessem mais por levarem uma vida "mais fácil" - até a menstruação.
Mas uma nova pesquisa realizada na Europa mostra que somente o tabagismo é responsável por algo entre 40% e 60% da diferença entre as taxas de mortalidade entre homens e mulheres.
O consumo de álcool responde por outros 20% na diferença na expectativa de vida entre os gêneros.
Os resultados, publicados na revista Tobacco Control, destacam a necessidade de medidas de saúde pública para "combater estes comportamentos nocivos".
Mulheres vivem mais do que os homens
As mulheres têm vivido mais do que os homens em alguns países europeus desde meados do século 18 e, desde o final dos anos 1990, há indícios de que as mulheres em todos os países do mundo podem esperar viver mais do que seus compatriotas do sexo masculino.
As razões para essa diferença têm sido muito debatidas, Alguns atribuem a diferença à biologia, enquanto outros apontam a falta de vontade dos homens de procurar atendimento médico quando precisam.
Mas uma área que vinha sendo largamente negligenciada pelos pesquisadores é a influência dos hábitos saudáveis sobre a diferença nas taxas de mortalidade entre os sexos.
Por que homens morrem mais cedo
Usando dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as taxas de mortalidade em 30 países europeus, os pesquisadores analisaram as diferenças entre os sexos nas mortes por todas as causas.
A seguir, eles checaram as mortes por condições relacionadas com o tabagismo (câncer do aparelho respiratório, doenças coronarianas, acidente vascular cerebral e doença pulmonar obstrutiva crônica) e mortes por condições relacionadas ao álcool (câncer da garganta e do esôfago, doença hepática crônica e psicoses alcoólicas).
Os resultados revelaram que, embora as taxas de mortalidade por todas as causas foram maiores para homens do que para as mulheres em todos os países estudados - sempre com base na idade - a dimensão do hiato entre os gêneros variou amplamente.
Foi registrado um "excesso de mortes" entre os homens (por 100.000 habitantes/ano) de 188 na Islândia, até 942 na Ucrânia.
Quanto mais desenvolvido e mais rico o país, menor foi esse hiato.
Fumar representou entre 38% e 60% do hiato entre as mortes por gênero em todos os países, com exceção de Malta, onde o fumo estava por trás de 74% das mortes em excesso.
Vida jogada fora
Segundo os pesquisadores, as variações na proporção de mortes em excesso devido ao tabagismo podem ser atribuídas a diferenças de gênero no consumo do tabaco em vários países nas décadas anteriores.
Enquanto isso, as mortes relacionadas ao álcool representaram entre 20% e 30% do hiato de gênero na Europa Oriental (menos rica) e entre 10% e 20% nas demais regiões.
No entanto, em todos os 30 países estudados, a contribuição do tabagismo para o hiato de gênero na mortalidade por qualquer causa foi maior que o do álcool.

"Diario da Saude"

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Café é benéfico para a prevenção de diabetes

As mulheres que bebem pelo menos quatro chávenas de café por dia possuem menos de metade da probabilidade de desenvolver diabetes comparativamente com as não consumidoras de café. 

Os investigadores Atsushi Goto e Simin Liu, da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), atestaram que o consumo de café aumenta os níveis plasmáticos de uma proteína chamada SHBG. Esta regulamenta a actividade biológica das hormonas sexuais, testosterona e estrogénio, que intervêm no desenvolvimento da diabetes tipo 2.

Em trabalhos anteriores, Liu e seus colegas já tinham identificado duas mutações no gene que codifica para a SHBG (sex hormone-binding globulin) e os seus efeitos no risco de desenvolver diabetes tipo 2.
Para a realização do estudo, os investigadores utilizaram 359 novos casos de diabetes, associados a 359 controlos aparentemente saudáveis, seleccionados entre cerca de 40 000 mulheres inscritas no Women’s Health Study, um estudo cardiovascular, em grande escala, originalmente concebido para avaliar os benefícios e os riscos do baixo doseamento de aspirina e vitamina E, na prevenção primária de doenças cardiovasculares e cancerígenas.

Este estudo revelou que as mulheres que bebiam quatro chávenas de café por dia possuíam níveis significativamente mais elevados de SHBG e uma menor probabilidade, de 56 por cento, de desenvolver diabetes comparativamente com as não consumidoras de café. Descobriram também que as mulheres portadoras da mutação do gene que provocava o aumento dos níveis plasmáticos de SHBG no sangue eram as mais beneficiadas com o consumo de café.


Um grande número de estudos clínicos tem implicado o importante papel das hormonas sexuais no desenvolvimento de diabetes tipo 2, sendo agora possível comprovar que a proteína SHBG é crítica como meta inicial para a avaliação do risco e da prevenção do aparecimento de diabetes.


Adicionalmente ao efeito benéfico do consumo de café para a prevenção de diabetes, investigadores acreditam que também poderá melhorar a tolerância do organismo à glicose, através do aumento do metabolismo ou do melhoramento da sua tolerância à insulina.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dos rins para o coração

Cientistas de instituições norte-americanas identificaram pela primeira vez uma variante de sequência de DNA que não apenas está associada ao aumento do risco de insuficiência cardíaca como parece ter um papel central entre suas causas.
A variante – uma mudança em uma única “letra” da sequência genética –, comum na população, prejudica canais que controlam o funcionamento dos rins. O trabalho será publicado esta semana pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
De acordo com um dos autores da pesquisa, Gerald Dorn II, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Washington em Saint Louis, não se trata de um gene do coração e sim do rim.
“Essa proteína não é nem mesmo expressa no coração. Ninguém havia imaginado que esse defeito em um gene específico do rim pudesse predispor o paciente à insuficiência cardíaca”, disse Dorn.
A insuficiência cardíaca é diagnosticada quando o coração não pode mais fornecer sangue suficiente para o corpo e pode ter diversas causas, incluindo alta pressão sanguínea, terapia contra o câncer, infecções virais do coração e ataque cardíaco.
“Trata-se de uma síndrome. O dano no coração do paciente é suficiente para que ele não funcione muito bem. O paciente então acumula fluido nos pulmões, sofre com inchaço e tem problemas para respirar”, explicou Dorn.
Os resultados inesperados destacam as vantagens da realização de estudos genômicos em larga escala com a finalidade de descobrir variantes de sequências de DNA associadas a doenças.
“Foi um achado surpreendente. Trata-se de um bom exemplo de como é possível conseguir objetivos inesperados quando se parte de abordagens imparciais para estudar doenças humanas”, disse Thomas Cappola, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Pensilvânia e outro autor do estudo.
Em um trabalho anterior, Dorn e equipe utilizaram uma técnica de pesquisa parcial do genoma para definir a região do DNA na qual as mudanças em sequências estavam associadas com a insuficiência cardíaca.
Mas a maior parte dessas mudanças em sequências não codificava para mudanças em proteínas e parecia não causar aumento no risco. Apesar disso, elas serviram como marcadores, fornecendo pistas de que essa parte do genoma merecia uma análise mais acurada.
“Concluímos que tínhamos o CEP certo, mas estávamos na quadra errada”, disse Dorn. Os cientistas então sequenciaram os genes vizinhos, buscando variações em partes da sequência de DNA que codificava para proteínas.
Estudando três grupos de pacientes caucasianos com insiuficiência cardíaca, eles descobriram uma variante de sequência de DNA que era comum aos três grupos e que estava ativamente envolvida na construção de uma proteína importante para o organismo.
Uma mudança única em uma sequência de DNA de um gene chamado CLCNKA desencadeia uma mudança de arginina para glicina no 83º aminoácido da proteína. Essa proteína faz parte de um canal do rim responsável por controlar a secreção de íons cloreto na urina – um importante processo na manutenção do balanço adequado de sal e água no organismo.
Aquela mudança isolada em um aminoácido reduzia pela metade a capacidade do canal de transportar íons cloreto através da membrana celular. A hipótese dos cientistas é que o resultado dessa redução pode ser a elevação, no sangue, dos níveis do hormônio conhecido como renina.
Testes com bloqueador
A renina é produzida no rim e é o primeiro sinal de um efeito em cascata que pode causar danos ao coração. Isso abre a possibilidade de ajudar pessoas que possuem a variante a reduzir seu risco de insuficiência cardíaca com drogas normalmente utilizadas para tratar a hipertensão, incluindo os inibidores do ACE (Enzima de Conversão da Angiotensina, na sigla em inglês e os bloqueadores de aldosterona.
Para determinar a efetividade dessa abordagem, Dorn e colegas projetaram um teste clínico que será aplicado nas universidades de Washington e da Pensilvânia e que testará se os efeitos do gene de risco podem ser combatidos por um bloqueador de aldosterona. Se for possível, a descoberta abre as portas para uma terapia preventiva personalizada com base no genótipo dos indivíduos.
Durante a vida, as pessoas têm em média uma chance em cinco de desenvolver insuficiência cardíaca. Para indivíduos com uma cópia da variante da sequência genética, esse risco pode crescer 27%. Para os que possuem duas cópias da variante – uma do pai e outra da mãe – o risco de desenvolver insuficiência cardíaca pode aumentar em 54%. Cerca de um quarto dos caucasianos têm duas cópias da variante genética.
Ter as duas cópias, no entanto, não é razão suficiente para causar a insuficiência cardíaca, segundo Dorn. “Há muita gente andando por aí com essa variante e sem nenhum sinal de insuficiência cardíaca. Mas achamos que se um paciente tem essa predisposição e acontecer algo mais a ele – como desenvolver uma hipertensão, ou ter um pequeno infarto – isso aumentará em muito as chances de ter a insuficiência cardíaca”, disse.
O artigo Loss-of-function DNA sequence variant in the CLCNKA chloride channel implicates the cardio-renal axis in interindividual heart failure risk variation (doi: 10.1073/pnas.1017494108), de Gerald Dorn II e outros, poderá ser lido em breve na PNAS em www.pnas.org .

sábado, 8 de janeiro de 2011

Porque 37 graus

Os cientistas encontraram a razão (ou uma delas) para o corpo humano ter a temperatura de 37 graus Celsius (98.6° Fahrenheit). Aparentemente esta é a temperatura perfeita uma vez que é suficientemente quente para prevenir infecções fungosas mas não tão quente que nos force a comer o tempo todo como forma de manter o nosso metabolismo.
Os cientistas sempre se questionaram sobre o porquê dos mamíferos superiores serem tão quentes quando comparados com outros animais. E agora já se tem uma ideia.
Os fungos que podem ser bem sucedidos em contaminar um animal geralmente diminuem em 6% por cada aumento de grau Celsius. Portanto, ficamos a saber que precisamos de um corpo mais quente como forma de repelir as infecções fungosas. A pergunta é: quão quente?
[Os cientistas] desenvolverem um modelo matemático que analisou os benefícios adquiridos pela temperatura corporal que se protege dos fungos em oposição aos custos (em termos de consumo extra de comida) necessários para manter a temperatura entre os 30° e os 40° C. A temperatura ideal para se maximizar os benefícios ao mesmo tempo que se minimizava os custos era 36.7° C, que está bem próximo da temperatura do corpo humano.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Riscos na gestação

Uma dieta com elevado consumo de sal durante a gestação poderá gerar indivíduos que, na idade adulta, terão hipertensão arterial. Por outro lado, se o consumo de sal durante a gravidez for baixo, o problema pode ser o desenvolvimento de resistência à insulina.
Esses são alguns dos resultados obtidos em estudos feitos com ratos pela equipe do professor Joel Claudio Heimann, livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que investiga os efeitos das alterações no ambiente perinatal, que engloba o período gestacional até o final da lactação.
O trabalho de pesquisa foi feito no âmbito do Projeto Temático "O sistema renina-angiotensina em prole de mães submetidas a alterações no ambiente perinatal", coordenado por Heimann e apoiado pela FAPESP.
“É importante frisar que esses resultados não significam necessariamente o aumento da mortalidade dos ratos na idade adulta”, disse Heimann à Agência FAPESP, salientando também que a pesquisa não pode ser extrapolada para humanos sem estudos adicionais de validação dos resultados no homem.
Mesmo assim, o trabalho vem produzindo dados importantes sobre o papel do sal durante o período gestacional. Por exemplo, a dieta hipossódica, com restrição de sal, levou à formação de animais que, na idade adulta, apresentaram excesso de colesterol (hipercolesterolemia).
Esses mesmos animais também apresentaram maior resistência à insulina. “Isso significa que eles precisam de mais insulina para manter os níveis normais de açúcar no sangue”, explicou Heimann.
Outro efeito curioso observado é que as fêmeas – mas não os machos – das proles de mães que consumiram dieta com pouco sal durante a gestação e amamentação desenvolveram obesidade na idade adulta.

Os mecanismos responsáveis por qualquer caso de obesidade podem ser a maior ingestão de alimentos com conteúdo calórico elevado, o menor gasto energético decorrente de sedentarismo ou peculiaridades do metabolismo (como o hipotiroidismo) ou o conjunto dos mecanismos.


“No nosso estudo, o primeiro fator foi excluído. As fêmeas obesas não ingeriram mais ração do que o grupo controle – prole de mães alimentadas com ração com conteúdo normal de sal durante o período perinatal. Em conclusão, restou a hipótese do menor gasto energético”, disse.


Outra linha de estudo abordada no Projeto Temático analisa alterações na prole de mães com hiper ou hipotiroidismo durante a gestação. Coordenado pela professora Maria Luiza Morais Barreto de Chaves, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o estudo descobriu que filhotes de mães que sofrem de hipertiroidismo nascem com baixo peso.
Heimann lembra que o nascimento abaixo do peso pode ser indicativo de complicações na idade adulta. Esse problema foi apontado pela primeira vez pelo epidemiologista inglês David J.P. Barker, criador da hipótese do fenótipo econômico segundo a qual mães que sofrem restrições na alimentação durante a gestação produzem filhos menores de forma a adaptá-los às condições de escassez do ambiente.
Mecanismos epigenéticos
Outra linha de pesquisa que está sendo abordada no Temático analisa os efeitos da poluição atmosférica na gestação. Esse estudo é coordenado pelo professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da FMUSP, especialista na relação entre poluição atmosférica e saúde.
Baixo peso ao nascimento, diminuição da fertilidade e hipertensão arterial, como efeitos da poluição, também foram verificados em humanos. Outro efeito observado tanto em animais como em seres humanos cujas mães foram submetidas à poluição durante a gestação é a geração de mais fêmeas do que a machos. “Essa é uma linha de investigação importante, especialmente para cidades com índices de poluição, como São Paulo”, disse Heimann.
Para o professor da USP, a maior contribuição desse Projeto Temático está em chamar a atenção para fatores capazes de alterar a programação do feto sem modificar a estrutura do DNA. Fatores importantes, como a resistência à insulina surgem e são passados de uma geração para outra e dependem apenas das condições encontradas durante o período gestacional.
Chamados de mecanismos epigenéticos, por não serem localizados no genótipo, esses fatores têm demonstrado possuir um grande grau de influência sobre as características dos indivíduos. “Os estudos vêm mostrar que não é somente a genética, mas há estímulos que reprogramam o feto e causam alterações profundas no organismo”, disse Heimann.
Com isso, o pesquisador já nota mudanças nos procedimentos médicos. “Os obstetras, por exemplo, que antes se preocupavam muito em manter o peso da gestante, hoje são mais flexíveis nesse ponto, uma vez que gestações com restrições calóricas extremas possuem efeitos negativos sobre a prole”, afirmou. 

Por Fábio Reynol