quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Primeiro coração artificial permanente implantado em Itália


Adolescente teve intervenção de dez horas

Um coração artificial permanente foi implantado pela primeira vez num adolescente de 15 anos, na semana passada, no Hospital Menino Jesus de Roma (Ospedale Pediatrico Bambino Gesù di Roma), em Itália, durante uma intervenção que durou dez horas.

A grande novidade é o facto de este implante ser permanente e não temporário, como era habitual. Os especialistas da cirurgia cardíaca, dirigida por Antonio Amodeo, explicaram que o coração artificial temporário é utilizado habitualmente para ajudar os doentes à espera do órgão compatível para um transplante.
O coração artificial utilizado tem quatro centímetros de comprimento e 400 gramas. É uma bomba hidráulica activada electricamente, implantada no tórax para evitar riscos de infecção. O fornecimento de energia do aparelho acontece através de um contacto colocado atrás da orelha esquerda do adolescente, ligada à bateria que o paciente usa na cintura.
O jovem italiano sofria de uma patologia geral que o impedia de permanecer em lista de espera para um transplante e o hospital decidiu oferecer-lhe uma solução definitiva. A doença, conhecida como síndrome de Duchenne, é tão grave quanto rara e é desencadeada por uma proteína mal produzida; com erros na sua constituição. Provoca o mau funcionamento e a flacidez dos músculos (essencialmente dos que sustentam o coração e os pulmões).A intervenção é de carácter pouco invasiva e o aparelho e as suas modalidades de alimentação reduzem qualquer risco de infecção – a principal causa de falha em soluções alternativas, já utilizadas até agora.

A cirurgia abre portas para novas perspectivas terapêuticas e mais esperança de vida para pacientes com patologias cardíacas cujos transplantes são essenciais e não se podem candidatar a receber um coração de um dador por razões clínicas.

Surdez congénita pode beneficiar visão periférica


Investigadores descobrem em gatos que córtex cerebral compensa outro sentido quando um falha

Existem vários casos relatados de pessoas surdas ou invisuais que informam sobre as suas capacidades melhoradas em outros sentidos, mas até agora ninguém sabia como e por quê acontecia. Uma descoberta, publicada na edição online da «Nature Neuroscience», explica que quem tem surdez congénita pode beneficiar de uma visão periférica incrível.

O estudo realizado em três gatos surdos, por uma equipa de investigadores canadianos do departamento de Fisiologia e Farmacologia da Schulich School of Medicine & Dentistry e do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais, revela que o cérebro tenta sempre compensar a perda de um sentido reforçando outro.
Os investigadores compararam os gatos surdos com outros que dispõe de audição e descobriram que os primeiros têm melhor visão periférica e detecção de movimento. O cérebro é muito eficiente e nunca desperdiça espaço. Por conseguinte, o estudo explica que a partir do momento que o córtex auditivo é estabelecido à nascença e vai esperando por entradas auditivas que nunca vêm, opta por receber estímulos visuais. Sendo assim, as propriedades neurais dedicam-se a aumentar a visão.

A equipa confirmou que a parte do córtex auditivo que se dedica aos interruptores periféricos de audição está ligada à visão periférica. Os gatos são os únicos animais que para além dos seres humanos, podem nascer surdos.

O autor do estudo, Lomber, com a sua equipa, mostrou que apenas duas capacidades visuais específicas são melhoradas nos surdos: a localização visual no campo periférico e detecção de movimento. Chegaram à conclusão que o córtex auditivo, que normalmente se dedica a recolher sons periféricos, trata de melhorar a visão periférica, o que levou os cientistas a perceber que a função se mantém, mas troca a auditiva pela visual.

Agora, a equipa está empenhada em descobrir como é que um cérebro surdo difere de um auditivo para melhor entender como manejar implantes e como é que as mudanças ou falhas auditivas acontecem naqueles que inicialmente ouviam bem.

Fumo é associado com aumento no risco de Alzheimer

Fumar pesadamente na meia-idade pode aumentar grandemente o risco de desenvolver a doença de Alzheimer e outras formas de demência. Segundo uma nova pesquisa, o risco é mais do que duas vezes maior.

O estudo foi publicado nesta segunda-feira (25/10) nos Archives of Internal Medicine e sairá em 28 de fevereiro na edição impressa da revista.
O finlandês Minna Rusanen, do Hospital Universitário Kuopio, e colegas nos Estados Unidos e Europa analisaram dados de 21.123 integrantes de um sistema de saúde na Finlândia que participaram de um levantamento entre 1978 e 1985, quando tinham entre 50 e 60 anos.
Diagnóstios de demência, incluindo Alzheimer (o tipo mais comum de demência) e demência vascular (a segunda forma mais comum), foram registrados de 1º de janeiro de 1994, quando a idade média dos participantes do estudo era de 71,6 anos, até 31 de julho de 2008.
Um total de 5.367 participantes (25,4%) foi diagnosticado com demência, com 1.136 deles com Alzheimer e 416 com demência vascular.
Os pesquisadores observaram que, em comparação com os não fumantes, aqueles que fumaram mais de dois maços de cigarro por dia durante o período analisado tiveram um aumento de 157% no risco de desenvolvimento de Alzheimer e de 172% no de demência vascular.
Ex-fumantes e pessoas que fumaram menos de meio maço por dia não apresentaram aumento significativo no risco de desenvolvimento das doenças.
A associação entre fumo e demência não variou de acordo com a raça ou o sexo dos participantes. Segundo os autores do estudo, sabe-se que o fumo é um fator de risco para acidente vascular cerebral e o hábito pode contribuir para o risco de demência por meio de mecanismos semelhantes.
Fumar também contribui com o estresse oxidativo e com inflamações, que se estima serem importantes para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. “É possível que fumar afete o desenvolvimento de demência por meio de caminhos vasculares e neurodegenerativos”, sugeriram os autores.
O artigo (doi:10.1001/archinternmed.2010.393) de Minna Rusanen e outros pode ser lido na Archives of Internal Medicine em http://archinte.ama-assn.org.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estudo mostra como o nosso cérebro se apaixona

Uma revisão de estudos feita na Syracuse University (EUA) revela quais partes do cérebro são estimuladas quando uma pessoa se apaixona. 
A professora responsável pelo estudo, Stephanie Ortigue, mostra que a paixão causa uma sensação de euforia similar à experimentada por alguém que consome cocaína e também estimula áreas intelectuais do cérebro. O processo de se apaixonar leva um quinto de um segundo.

De acordo com a professora de neurologia, a paixão é uma via de mão dupla entre o coração e o cérebro. Ela diz que a ativação de algumas partes do cérebro gera estímulos no coração e "frio na barriga".

Outros pesquisadores acharam níveis altos de fatores de crescimento de nervos no sangue de casais que haviam acabado de se apaixonar. Essa molécula é importante na química social humana e para o amor à primeira vista. "Isso confirma que o amor tem bases científicas", diz Ortigue.


Essas descobertas são importantes para pesquisas sobre saúde mental porque quando o amor não dá certo, pode haver estresse e depressão. "Entendendo como as pessoas se apaixonam e por que ficam com o coração partido, é possível usar novas terapias", afirmou Origue, em comunicado. "Médicos e terapeutas podem entender melhor as dores dos pacientes apaixonados."

O estudo mostra também as diferentes partes do cérebro que se apaixonam. O amor passional é detonado pela região do cérebro responsável pela sensação de recompensa e pelas áreas cognitivas com funções como a percepção da imagem corporal.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cientistas conseguem inibir crescimento dos cálculos renais

Um grupo interdisciplinar de pesquisadores, reunindo físicos e médicos, desenvolveu um método para reduzir o crescimento dos cristais que formam os cálculos renais de cistina.
Os resultados, publicados na última edição da revista Science, podem representar um caminho para a criação de um novo método para a prevenção das pedras nos rins.
O estudo foi realizado por cientistas da Universidade de Nova York e do Medical College de Wisconsin, ambos nos Estados Unidos.
Tipos de pedras nos rins
As pedras nos rins compostas de L-cistina afetam centenas de milhares de pessoas todos os anos, ainda que em um número menor do que aquelas que sofrem com as pedras de oxalato de cálcio monohidratado.
Mas as pedras de L-cistina são maiores, repetem-se com mais frequência e são mais propensas a causar doença renal crônica. Os tratamentos atuais para esta doença produzem resultados, mas muitas vezes têm efeitos secundários adversos.
A formação das pedras L-cistina é uma consequência de níveis excessivos de L-cistina na urina. A L-cistina acaba formando cristais, que se agregam em pedras, chegando a até um centímetro de diâmetro.
Os tratamentos preventivos contra a formação de pedras de L-cistina, como o de diluição através de uma grande ingestão de líquidos, podem retardar, mas não impedir completamente, a formação da pedra.
Alguns medicamentos podem reagir com a L-cistina, gerando compostos mais solúveis, mas esses medicamentos podem causar efeitos colaterais adversos, como náuseas, febre, cansaço, alergias na pele e hipersensibilidade.
Com tantas limitações dos tratamentos atuais, os pesquisadores sonham em reduzir a formação e o crescimento dos cristais de L-cistina, eliminando o problema pela raiz.
Crescimento do cálculo renal
Usando um microscópio de força atômica (AFM), que permite a observação de objetos do tamanho de moléculas individuais, os pesquisadores descobriram que os cristais de L-cistina crescem fixando continuamente moléculas de L-cistina às margens de suaves colinas em forma de hexágono na superfície do cristal.
Este processo resulta em um cristal que cresce seguindo um padrão em espiral.
Sabendo como esses cristais crescem, os cientistas puderam então selecionar agentes químicos para inibir o processo de cristalização.
O crescimento de cristais pode ser alterado através do uso de inibidores de crescimento específicos. Estes inibidores reduzem o ritmo de cristalização ligando-se à superfície dos cristais, impedindo a adição de novas moléculas em sua superfície.
Prevenção das pedras nos rins
Neste estudo, os pesquisadores usaram um agente sintético, chamado L-CDME, que é estruturalmente idêntico à L-cistina em seu centro, mas é equipado com diferentes grupos moleculares nas extremidades, que impedem a agregação de moléculas de L-cistina à superfície do cristal.
Os cientistas tiveram o mesmo sucesso com a introdução de um outro agente sintético similar, o L-CME.
"Isto poderá levar a uma nova abordagem para a prevenção dos cálculos renais de cistina, simplesmente interrompendo sua cristalização," explicou Michael Ward, um dos autores do estudo. "Além disso, estes resultados são um exemplo dos avanços significativos que podem ser alcançados através de colaborações entre pesquisadores em ciências físicas e na medicina."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Testes ajudam memória

Testes de memorização não mostram apenas como está a capacidade de retenção de informação na memória. Segundo um estudo publicado na revista Science, eles ajudam efetivamente a lembrar e podem melhorar o processo de aprendizagem. De acordo com a pesquisa, um dos motivos principais para isso parece ser que as pessoas dão a elas mesmas “pistas mentais” mais eficientes quando são testadas do que quando estão estudando.
Mary Pyc e Katherine Rawson, do Departamento de Psicologia da Universidade Kent State, nos Estados Unidos, chamam essas pistas de mediadores, os quais podem ser palavras, frases ou conceitos que ligam uma pista a seu alvo, isto é, o que está se tentando lembrar.
Segundo as pesquisadoras, mediadores usados durante testes têm maiores chances de serem lembrados e usados efetivamente do que aqueles empregados quando se está apenas estudando.
O estudo avaliou mais de 100 estudantes do ensino superior, aos quais foram apresentados 48 pares de palavras em suaíli (idioma banto) e em inglês, como “wingu-cloud” (“nuvem”).
Inicialmente, os pesquisadores solicitaram aos voluntários que sugerissem mediadores – que parecessem ou soassem semelhantes à palavra em suaíli e fossem relacionadas semanticamente com o alvo em inglês. No caso, um exemplo foi “wing” (“asa”).
Os estudantes submetidos a um teste em meio ao processo de memorização apresentaram melhor aproveitamento no teste final do que os demais. E, durante o primeiro teste, pedir aos participantes que lembrassem de seus próprios mediadores escolhidos ajudou ainda mais na melhoria do aproveitamento.
“Fazer testes práticos – especialmente aqueles que envolvem tentativas de recuperar algo da memória – pode aumentar drasticamente as chances de lembrar uma determinada informação posteriormente. Levando-se em conta que, até hoje, centenas de experimentos foram conduzidos para estabelecer os efeitos dos testes na aprendizagem, é surpreendente que saibamos tão pouco sobre por que eles melhoram a memória”, disse Katherine.
O artigo Why Testing Improves Memory: Mediator Effectiveness Hypothesis (doi: 10.1126/science.1191465), de Mary Pyc e Katherine Rawson, pode ser lido na Science em www.sciencemag.org.

Pesquisa destaca relação entre hipotireoidismo e doenças coronarianas

Pacientes com hipotireoidismo subclínico – um distúrbio assintomático causado por níveis anormais de hormônio estimulador da glândula tireoide – têm maior risco de desenvolver doenças coronarianas.
A conclusão é de um estudo internacional produzido, com participação brasileira, a partir de dados extraídos de mais de 55 mil pacientes que foram acompanhados por diferentes períodos, entre 1972 e 2007, no Brasil, nos Estados Unidos, na Austrália, no Japão e na Europa.
O estudo foi publicado nas edições on-line e impressa da revista Journal of the American Medical Association (JAMA). O autor brasileiro do artigo, José Augusto Sgarbi, professor da Faculdade de Medicina de Marília (Famema), trabalhou em conjunto com a equipe do Laboratório de Endocrinologia Molecular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenado por Rui Maciel, professor titular da instituição.
Para viabilizar a parte brasileira do estudo, Maciel teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, entre 2007 e 2009. O cientista possui atualmente mais dois apoios da Fundação, nas modalidades Auxílio à Pesquisa – Regular e Temático.
Sgarbi apresentou os resultados no Congresso Internacional de Tireoide, realizado em Paris (França), entre 11 e 16 de setembro. De acordo com ele, o estudo já causa rápida repercussão, tendo sido objeto de comentários em outras revistas científicas, como a Annals of Internal Medicine e a British Medical Journal.
Segundo Sgarbi, já existiam na literatura científica indícios de que as disfunções tireoidianas subclínicas poderiam estar associadas a doenças cardiovasculares e coronarianas. Mas os resultados dessas pesquisas eram muitas vezes conflitantes, uma vez que não haviam sido feitos ainda estudos de grande escala.
“Embora possa persistir por muito tempo, o hipotireoidismo subclínico geralmente causa alterações mínimas e assintomáticas da glândula tireoide, que só podem ser detectadas com exames laboratoriais. Por isso havia uma grande controvérsia na literatura: essas disfunções devem ser tratadas ou não?”, disse Sgarbi à Agência FAPESP.
A nova pesquisa indica que as disfunções tireoidianas subclínicas merecem mais atenção. “Pela primeira vez, temos uma revisão sistemática com meta-análise de estudos feitos em diversos países, o que aumenta muito o poder estatístico das conclusões”, afirmou.
A parte brasileira do estudo foi concebida como uma avaliação da epidemiologia de doenças tireoidianas em uma população de imigrantes japoneses residentes em Bauru (SP), considerando, entre outros aspectos, as disfunções tireoidianas subclínicas.
Os resultados foram publicados em março de 2010 no European Journal of Endocrinology, em artigo de Sgarbi, Maciel, Teresa Sayoko Kasamatsu e Luisa Matsumura – ambas pesquisadoras da Unifesp – e Sandra Roberta Gouvea Ferreira, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Depois de termos feito uma análise populacional em Bauru, fizemos uma caracterização e acompanhamos as pessoas selecionadas por um período de sete anos e meio. A conclusão foi que os indivíduos com hipotireoidismo subclínico têm um risco maior de morte por todas as causas relacionadas a eventos coronarianos”, afirmou Sgarbi.
Mortalidade aumentada
Com a publicação do estudo, a equipe foi convidada a participar da formação de um grupo de pesquisa voltado especificamente para as disfunções tireoidianas subclínicas. O consórcio envolvia cientistas dos Estados Unidos, Suíça, Holanda, Itália, Austrália e Japão. Todos já haviam publicado estudos populacionais sobre o tema.
“Optamos por abrir os dados de todos os estudos, com diversas populações, e o resultado foi uma amostra de mais de 55 mil indivíduos. Dessa amostra, cerca de 6% – ou 3.450 – indivíduos, tinham hipotireoidismo subclínico. O período de acompanhamento dos pacientes variou entre dois anos e meio e 20 anos. Sintetizamos os dados, avaliando-os como se fosse uma só população”, disse.
De acordo com o cientista, os resultados mostraram que, entre os pacientes com hipotireoidismo, aqueles cujos níveis de hormônio estimulante da tireoide (TSH, na sigla em inglês) ultrapassavam 10 miliunidades por litro (mIU/L) apresentavam maior risco de eventos coronarianos.
“Mostramos que o risco foi aumentado em uma vez e meia em relação aos indivíduos que não possuíam a disfunção. A mortalidade por causa coronariana também foi aumentada nos pacientes com TSH acima de 7 mIU/L”, disse Sgarbi.
Em relação à idade, o risco se manifestou principalmente na faixa etária que vai dos 65 aos 79 anos. “A análise mostrou que na faixa etária acima dos 80 anos o risco não persistiu. Isso talvez sugira que o hipotireoidismo subclínico possa ser até mesmo um fator protetor para os indivíduos mais idosos”, disse o pesquisador.
O artigo Subclinical Hypothyroidism and the Risk of Coronary Heart Disease and Mortality (doi:10.1001/jama.2010.1361), de José Sgarbi e outros, pode ser lido no Journal of the American Medical Association em http://jama.ama-assn.org.

Gene da infertilidade

Mutações no gene NR5A1, também conhecido como SF1, podem responder por cerca de 4% dos problemas de infertilidade masculina por defeitos na produção de espermatozoides. A conclusão é de um estudo publicado no dia 30 de setembro no American Journal of Human Genetics.
O estudo foi coordenado por Anu Bashamboo, do Instituto Pasteur, na França, que teve a colaboração de outras instituições. “O índice de 4% parece pequeno, mas em termos populacionais tem um peso muito importante”, disse o único brasileiro que participou da pesquisa, o doutorando Bruno Ferraz de Souza, à Agência FAPESP.
Ferraz de Souza, que assina o artigo publicado como segundo autor, está na University College London (Reino Unido), instituição que participou do trabalho na fase de conferência dos dados de laboratório.
O Instituto Pasteur analisou 315 homens que apresentavam problemas na produção de espermatozoides e sequenciou o gene NR5A1 de todos eles, comparando os resultados com os de outro grupo formado por 2 mil homens que não tinham esse tipo de problema.
Foram encontradas mutações no NR5A1 dos voluntários que apresentaram alterações mais graves, como azoospermia (ausência completa de espermatozoides) e oligozoospermia (baixa concentração).
O gene NR5A1 codifica uma proteína fundamental que regula, entre outros fatores, o desenvolvimento sexual adulto. A primeira relação entre o gene com alterações nas gônadas (ovários e testículos) e nas glândulas adrenais foi descoberta por John Achermann, pesquisador do Institute of Child Health, de Londres, atual orientador de Ferraz de Souza.
Posteriormente, a equipe da professora Berenice Bilharinho de Mendonça, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), descobriu que o NR5A1 também estava associado a casos menos graves em que não havia alterações adrenais.
“Esse foi um passo importante para associar o gene a casos de menor gravidade, porém mais prevalentes”, disse Ferraz de Souza.
O estudo ainda permitiu levantar a hipótese de que a mutação no NR5A1 pode provocar uma alteração progressiva na qualidade do líquido seminal, ou seja, a redução gradual do número de espermatozoides ao longo do tempo.
“Por enquanto, essa é apenas uma especulação baseada nas observações do estudo e que ainda precisa ser comprovada”, ressaltou Souza, que conta com bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O artigo Human Male Infertility Associated with Mutations in NR5A1 Encoding Steroidogenic Factor 1 (doi:10.1016/j.ajhg.2010.09.009), de Bruno Ferraz de Souza e outros, pode ser lido no American Journal of Human Genetics em www.cell.com/AJHG/abstract/S0002-9297%2810%2900477-5.