quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Como a gripe se espalha pelo mundo

Agência FAPESP – Da Ásia para o mundo, ano após ano. Focos sazonais de gripe caudados pelo vírus da influenza do tipo A (o mais comum) evoluem constantemente em epidemias que se sobrepõem umas às outras na Ásia e, a partir dali, espalham-se pelo resto do planeta.
A afirmação é de um estudo publicado na edição da revista Science. De acordo com a pesquisa, feita por cientistas da Europa, Estados Unidos, Japão e Austrália, o vírus se manifesta inicialmente no leste e no sudeste da Ásia e, de seis a nove meses depois, espalha-se pela Oceania, Europa e América do Norte. Mais alguns meses e alcança a América do Sul, onde termina seu ciclo.
De acordo com a pesquisa, essa movimentação a partir do que chamaram de "rede de circulação do leste e sudeste asiático" tem ocorrido desde 2002. Os cientistas analisaram 13 mil amostras do subtipo H3N2, colhidas em seis continentes de 2002 a 2007 pela Rede Mundial de Vigilância da Influenza, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Foram comparadas diferenças físicas entre as amostras em uma glicoproteína de superfície. Essa proteína, a hemaglutina, é o alvo primário da resposta imunológica e mesmo pequenas alterações nela facilitam a ação do vírus para invadir o sistema imunológico.
Por meio da análise, os pesquisadores identificaram diferentes cepas do vírus do tipo A à medida que elas se manifestavam em diferentes continentes. Com isso, foi possível construir um mapa da circulação mundial do vírus.
Segundo a OMS, as epidemias de gripe atingem anualmente de 3% a 15% da população mundial, provocando de 3 milhões a 5 milhões de casos de gravidade considerada severa e de 250 mil a 500 mil mortes.
"O principal objetivo de nossa colaboração é aumentar a capacidade de estimar a evolução do vírus da influenza. Esse estudo representa um passo à frente nesse caminho e, particularmente, destaca a importância de futuras colaborações na vigilância a partir do leste e do sudeste da Ásia", disse Derek Smith, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e um dos autores do trabalho.
Para eles, os resultados poderão ajudar nas iniciativas de combate à doença. Ao centralizar esforços de controle na Ásia, será possível avaliar os tipos de vírus com mais chances de causar epidemias em outras regiões.
Com isso, os sistemas de saúde poderão decidir quais cepas deverão ser usadas na produção de vacinas a cada ano. Em todo o mundo, são vacinados cerca de 300 milhões de pessoas anualmente contra a gripe.
A produção de vacinas é dificultada pela capacidade que o vírus tem de evoluir muito rapidamente. De modo a produzir vacinas eficientes, duas vezes por ano (em fevereiro e em setembro), um comitê da OMS se reúne para selecionar as cepas de vírus da influenza que serão usados.
Os tipos são escolhidos entre os considerados como mais ameaçadores para a temporada seguinte. Diversos membros do comitê participaram do estudo agora publicado.

Comida demais

Agência FAPESP – O que tem contribuído mais para a epidemia de obesidade: a ingestão excessiva de alimentos ou o sedentarismo? A questão vem sendo discutida há tempos, mas, segundo um estudo que acaba de ser divulgado, a culpa é principalmente do primeiro item.
A pesquisa foi apresentada no Congresso Europeu de Obesidade. Segundo o trabalho, feito por um grupo internacional, o aumento na obesidade nos Estados Unidos desde a década de 1970 se deve quase que completamente ao aumento na ingestão de calorias.
De acordo com a Associação Europeia para o Estudo da Obesidade, o estudo inova ao examinar a questão das contribuições proporcionais à epidemia de obesidade ao combinar relações metabólicas e dados epidemiológicos e agrícolas, entre outros.
“Há muitas sugestões de que tanto a redução da atividade física como o aumento na ingestão de calorias têm sido os principais vetores da obesidade. Mas, até agora, ninguém havia proposto como quantificar as contribuições relativas desses dois pontos”, disse Boyd Swinburn, diretor do Centro de Prevenção da Obesidade da Universidade Deakin, na Austrália, órgão que atua junto à Organização Mundial de Saúde.
“O novo estudo demonstra que o ganho de peso na população norte-americana parece ser explicado totalmente pela ingestão de mais calorias. Aparentemente, as mudanças nas frequências de atividades físicas têm um papel mínimo”, afirmou.
Os pesquisadores examinaram inicialmente 1.399 adultos e 963 crianças para determinar quantas calorias seus corpos queimam no total em circunstâncias normais.
Após obterem as taxas de queima de calorias de cada um dos voluntários, Swinburn e colegas calcularam quanto os adultos precisam comer de modo a que mantenham um peso estável e quanto as crianças necessitam para que estejam em uma curva de crescimento normal.
Em seguida, foi feita a análise de quanto os norte-americanos comem, por meio de dados nacionais da disponibilidade de alimentos (a quantidade de alimento produzida e importada menos o total exportado, desperdiçado e usado em animais ou em outras situações), desde a década de 1970.
A ideia era estimar qual seria o peso aproximado 30 anos depois levando em conta apenas a ingestão de alimentos. Para isso, também usaram dados de outro estudo nacional sobre o peso médio dos habitantes dos Estados Unidos.
“Se o aumento de peso real se mostrasse o mesmo que a estimativa havia apontado, isso implicaria que a ingestão de alimentos era a responsável. Se isso não ocorresse, significaria que mudanças na atividade física também tiveram papel importante”, disse Swinburn.
Os resultados mostraram que, em crianças, o peso estimado e o real eram exatamente o mesmo, indicando que o consumo calórico sozinho poderia explicar o aumento de peso médio observado no período.
“Para os adultos, estimamos que eles estariam em média 10,8 quilos mais pesados, mas o aumento ficou em 8,6 quilos. Isso sugere que o excesso na ingestão de alimentos ainda explica o ganho de peso, mas que houve melhorias na atividade física nesses 30 anos que evitaram um crescimento ainda maior”, afirmou.
Segundo Swinburn, para que o peso médio retorne aos valores da década de 1970, seria preciso diminuir a ingestão calórica em cerca de 350 calorias por dia para crianças e em 500 calorias (um sanduíche grande) para adultos.
“Uma alternativa para atingir resultados semelhantes seria aumentar a atividade física em 150 minutos por dia para crianças e 110 para adultos. Realisticamente, embora a combinação dos dois fatores seja o ideal, o foco deve estar principalmente na redução da ingestão calórica”, disse.
O pesquisador enfatiza que a atividade física não pode ser ignorada como um importante fator para auxiliar na redução da obesidade e que deve continuar a ser promovida por conta de diversos outros benefícios à saúde
Entretanto, Swinburn destaca que as expectativas em relação ao que pode ser atingido por meio de exercícios devem ser diminuídas e as políticas públicas de saúde precisam ser dirigidas mais no sentido de encorajar a população a comer menos.

Antissépticos tornam bactérias resistentes a antibióticos

Os antissépticos podem tornar as bactérias mais resistentes não só a estes produtos, mas também aos antibióticos, segundo um estudo realizado por cientistas da Universidade Nacional da Irlanda em Galway.
Após acrescentar quantidades crescentes de desinfetante a cultivos em laboratório de pseudomonas aeruginosa, os pesquisadores notaram uma bactéria responsável por infecções nos hospitais.
O estudo mostrou que a bactéria sobreviveu ao desinfetante e seu DNA mudou para fazê-la resistente aos antibióticos do tipo da ciprofloxacina, apesar não ter sido exposta a estes remédios.
Os desinfetantes são utilizados para limpar diferentes superfícies nos hospitais, com objetivo de evitar a proliferação das bactérias.
Os resíduos de desinfetantes diluídos de forma incorreta e que permanecem na superfície em um hospital podem gerar o crescimento de bactérias resistentes aos antibióticos.
A ameaça para a saúde é grande, já que se as bactérias sobrevivem aos desinfetantes e contaminam um paciente, este será tratado com antibióticos resistentes as bactérias.
A pseudomonas aeruginosa é uma bactéria oportunista que ataca normalmente pessoas cujo sistema imunológico está debilitado, como doentes de fibrose cística e diabetes.
Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que pelo menos 8,7% dos pacientes contraem infecções durante a hospitalização.

Antioxidantes e seus mecanismos

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Nos últimos anos, vários estudos in vivo têm mostrado que um radical livre conhecido como tempol possui a capacidade de desativar oxidantes agressivos para os organismos, protegendo-os de doenças associadas a processos inflamatórios.
Mas, embora tenha sido constatada, essa propriedade não poderá ser utilizada para o desenvolvimento de terapias enquanto seus mecanismos não forem desvendados. Um novo estudo realizado por pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) aponta caminhos para o conhecimento desses processos.
A pesquisa, realizada por Ohara Augusto e Sandra Vaz, do Departamento de Bioquímica do Insituto de Química (IQ) da USP, teve os seus resultados publicados no site na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
De acordo com Ohara, admite-se atualmente que a maioria das doenças tem importante componente inflamatório. A proposta do trabalho, de pesquisa básica, era ampliar o conhecimento sobre os eventos moleculares que acirram as lesões nos tecidos causadas por esses processos inflamatórios.
"Quando se amplia esse conhecimento, estabelecem-se bases mais sólidas para desenvolver novas abordagens terapêuticas para o tratamento de doenças tão diferentes como derrame, asma ou esclerose múltipla", disse à Agência FAPESP.
A pesquisa, toda feita in vitro, utilizando experimentos em tubos de ensaio, computadores e simulações, procurou compreender a capacidade do tempol para agir como um protetor in vivo.
"Essa ação havia sido constatada há muito tempo em muitos estudos internacionais em modelos animais", disse a professora titular da USP, cujo grupo publicou, no início do ano, uma revisão sobre o assunto nos anais da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
O tempol é um radical livre externamente estável sintetizado na década de 1970 por cientistas russos. Desde 2002 os pesquisadores da USP procuram compreender os mecanismos de ação desse cristal laranja que é considerado um antioxidante não-clássico.
"Falamos muito da esperança de terapias com base em antioxidantes como vitamina C ou betacaroteno. Mas, quando recorremos à literatura, o que conseguimos é uma grande frustração", disse a autora do livro Radicais Livres: Bons, Maus e Naturais, lançado em 2006.


Derivado nacional
Segundo Ohara, todos os estudos clínicos com esses antioxidantes clássicos falharam. Houve pouco impacto em doenças de vários tipos, principalmente nas cardiovasculares, que são mais estudadas. Por razões científicas, os pesquisadores decidiram focar os estudos nos antioxidantes não-clássicos.
"Comecei a estudar a interação do tempol com a enzima conhecida como mieloperoxidase, que é de grande relevância em processos inflamatórios. Os níveis circulantes dessa enzima têm sido usados como marcador de risco de doenças cardiovasculaers", afirmou.
A mieloperoxidase (MPO) é importante para a defesa imune inata. Sendo abundante em células do sistema imune, é efetiva contra microganismos invasores, como bactérias. Mas, por eliminar esses organismos, produz oxidantes e, em determinadas circunstâncias, a oxidação lesa os tecidos.
"Estudamos como o tempol inibe nitração de proteínas mediada pela MPO. Esse processo químico, quando ocorre em nossos organismos, indica que está havendo uma superprodução de óxido nítrico. O que fizemos foi estudar detalhadamente esse mecanismo. A conclusão foi que o efeito protetor do tempol ocorre principalmente porque ele consegue desativar os oxidantes produzidos pela MPO", explicou.
Com os resultados, a professora da USP deverá apresentar ao Instituto do Milênio Redoxoma, coordenado por ela, uma proposta para o desenvolvimento de um derivado nacional do tempol, que é um produto patenteado.
"A estratégia seria modificar a molécula do tempol de forma que mantivesse o mesmo grupo químico. Ao compreender bem as reações poderíamos fazer um desenho mais racional de terapia. Além do efeito de nitróxido, seria interessante direcionar o composto para se ligar na enzima e tentar impedir que alguns oxidantes se formassem", apontou.
O problema atualmente, segundo Ohara, é direcionar o composto para que ele não tenha outros efeitos. "O tempol é um radical livre que oxida muito rapidamente e reage com inúmeras substâncias em uma velocidade enorme. É efetivo para desativar os oxidantes, mas é preciso saber se haverá outros efeitos também", disse.
O artigo Inhibition of myeloperoxidase-mediated protein nitration by tempol: Kinetics, mechanism and implication, de Ohara Augusto e Sandra Vaz, pode ser lido em www.pnas.org.

Células-tronco de porcos

Agência FAPESP – Um grupo de cientistas chineses conseguiu obter células-tronco pluripotentes – capazes de se desenvolver em qualquer tipo de tecido corporal – a partir de células de porcos. É a primeira vez que se consegue tal feito a partir de células somáticas de animais com cascos (conhecidos como ungulados).
A pesquisa foi publicada no Journal of Molecular Cell Biology, novo periódico da Oxford Press. De acordo com a editora, as implicações são importantes, uma vez que o estudo pode levar à criação de modelos para doenças genéticas humanas e de órgãos animais próprios para transplante em humanos, além do desenvolvimento de animais resistente a doenças.
Lei Xiao, coordenador do laboratório de células-tronco do Instituto de Bioquímica e Biologia Celular de Xangai, e colegas induziram as células pluripotentes a partir do uso de fatores de transcrição de modo a reprogramar células extraídas da orelha e da medula espinhal de porcos.
Depois que o coquetel químico de fatores de reprogramação foi introduzido nas células por meio de um vírus, as células se desenvolveram em laboratório em colônias de células-tronco parecidas com as embrionárias. Testes confirmaram que elas eram capazes de se diferenciar nos tipos de células que compõem os três folhetos embrionários – endoderme, mesoderme e ectoderme –, uma qualidade de todas as células-tronco embrionárias.
Com as informações obtidas a partir da indução bem-sucedida de células pluripotentes, será mais fácil para os pesquisadores desenvolver células-tronco embrionárias originárias de porcos ou de embriões de outros ungulados.
“Células-tronco pluripotentes de porcos serão muito úteis de diversas formas, como produzir exemplares geneticamente modificados para uso em transplantes de órgãos para humanos. As espécies de porcos são consideravelmente semelhantes ao homem em sua forma e função, como nas dimensões dos órgãos”, disse Xiao.
“Podemos usar células-tronco embrionárias ou induzir células-tronco para modificar genes do sistema imunológico de porcos de modo a fazer com que o órgão do animal seja compatível com o sistema imune humano. Com isso, usaríamos esses porcos como doadores para fornecer órgãos para pacientes que não apresentarão rejeição”, apontou.
O artigo Generation of pig induced pluripotent stem cells with a drug-inducible system, de Lei Xiao e outros, pode ser lido no Journal of Molecular Cell Biology em http://jmcb.oxfordjournals.org.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Biologia de tumores embrionários

Por Jussara Mangini

Agência FAPESP – Tumores embrionários são neoplasias originárias de células primordiais que sofreram mutações espontâneas e não decorrentes de mutações adquiridas por ações ambientais, como ocorre com a maior parte das neoplasias de adultos.
Entre os tumores embrionários mais comuns, os nefroblastomas ou tumores de Wilms (TW) foram o foco de pesquisa de Dirce Maria Carraro, coordenadora do Laboratório de Genômica e Biologia Molecular do Hospital A.C Camargo, em São Paulo. O trabalho teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa.
Antes de dar início ao estudo, ela estava interessada em identificar mecanismos comuns entre embriogênese – processo de formação e desenvolvimento do embrião – e aparecimento de tumores. Na literatura disponível descobriu que o tumor de Wilms é um modelo muito apropriado para esse tipo de pesquisa.
“O tumor recapitula o rim fetal, ou seja, apresenta as mesmas fases de desenvolvimento do rim fetal. Seus três componentes – blastoma, epitélio e estroma – também estão presentes no rim fetal”, explicou.
Estudos moleculares de tumores embrionários, sob a perspectiva do desenvolvimento de seu órgão correspondente, permitem inferir eventos moleculares comuns e importantes nos dois processos, contribuindo para a compreensão biológica do desenvolvimento do tumor e de seu comportamento clínico.
No século 19, cientistas começaram a sugerir semelhança entre a embriogênese humana e a morfologia desses tumores. Mais recentemente, a recapitulação do desenvolvimento do rim pelo TW foi evidenciada, também pelos aspectos moleculares.
O tumor de Wilms não apresenta sintomas. O diagnóstico se dá por palpação durante consulta rotineira. É mais comum entre o segundo e o terceiro ano de vida. Entre os tumores renais é o mais frequente e equivale de 5% a 10% dos tumores infantis. Tem 80% de cura, mas pode apresentar efeitos colaterais tardios da quimioterapia.

Erro de sinalização

O grupo coordenado por Dirce decidiu comparar cada componente do TW, separadamente, com o desenvolvimento do rim, usando amostras de tumores retiradas do Banco de Tumores do Departamento de Patologia do Hospital A.C. Camargo.
A comparação foi feita com uso de uma metodologia que permite a avaliação da expressão de milhares de genes imobilizados em uma plataforma sólida chamada de microarray.
“Descobrimos que, diferentemente de outros estudos, não era o tumor, como um todo, que era semelhante aos primeiros estágios do órgão e, sim, o blastema. Por isso, esse estudo sugere que o blastema tem os eventos moleculares mais importantes que levam ao aparecimento do tumor”, disse.
Durante as análises foi identificada uma assinatura gênica, cujo padrão de expressão classificava tumores, rins fetais e maduros. “Nessa assinatura, vimos que havia uma maior representação de genes pertencentes a uma via gênica de sinalização chamada via de sinalização WNT. Percebemos, em várias análises, que a regulação da expressão de alguns dos genes dessa via WNT estava descontrolada no tumor de Wilms”, contou.
Via de sinalização é um sistema de comunicação composto por uma rede gênica que controla as respostas das células aos sinais do tecido em que se encontra. Essas vias são finamente reguladas para que ocorra a correta diferenciação das células durante o desenvolvimento embrionário.
Mutações e alterações de expressão de alguns genes que participam de vias de sinalização celular podem levar a uma interrupção ou erro de sinalização. Esse erro, por sua vez, pode resultar no impedimento da diferenciação celular correta, mecanismo que estaria relacionado à origem dos tumores embrionários.
“Decidimos analisar todos os genes da via WNT e de outras vias de sinalização que interagem com a WNT, no tumor e em vários estágios de desenvolvimento do rim, de forma muito mais refinada. E, também, estudar as células do blastema no TW e a diferenciação das células blastematosas do rim, nos vários estágios da diferenciação”, disse.
A análise, além de comprovar essa correlação dos dois processos, identificou genes envolvidos no mecanismo que dá origem aos nefroblastomas, utilizando abordagem diferenciada de estudos realizados até o momento.

Investigação refinada

Como o grupo não podia usar fetos humanos, por questões éticas, analisou quatro estágios do desenvolvimento do rim de camundongos, a partir de amostras de partes dos órgãos dos animais. Também foram usadas amostras de células blastematosas de tumores de Wilms cedidas pelo Children’s Oncology Group, nos Estados Unidos.
A partir daí, o grupo fez uma série de análises, exclusivamente com células de blastema dissecadas a laser, observando os estágios de diferenciação do rim em camundongo e comparando tumor de Wilms com rim maduro humano.
Para isso, foi desenvolvida uma plataforma de microarray na qual os trechos dos genes imobilizados apresentavam alta similaridade entre os genes ortólogos humanos e ortólogos de camundongo para possibilitar a utilização das células dos dois tipos de organismos.
“Essa lâmina foi construída somente para representar os estágios de diferenciação do rim em camundongo, de forma que pudéssemos confiar nos dados gerados”, explicou a pesquisadora do Hospital A.C. Camargo.
Na etapa seguinte foi identificado um grupo de genes das vias de sinalização correguladas no tumor e no rim, nos primeiros estágios de diferenciação. Para isso, foram selecionados os genes que aumentavam durante o desenvolvimento do rim e eram pouco expressos no tumor; e que aumentavam durante o desenvolvimento e eram muito expressos no TW em relação ao rim maduro.
Segundo o estudo, esse grupo de genes representa alterações moleculares precoces no tumor, cuja mudança na expressão possivelmente cria uma situação permissiva para o aparecimento do tumor. Dos 18 genes identificados, seis já passaram por validação técnica – por metodologia mais sensível que confirmou os resultados. Proteínas codificadas por esses seis genes em rins fetais de várias idades e no tumor mostram a recapitulação dos primeiros estágios de rim no tumor.
Em continuidade ao projeto, os pesquisadores pretendem submeter os demais genes à mesma validação. Segundo Dirce Carraro, todos os genes identificados são fortes candidatos a dirigir o surgimento do nefroblastoma, um deles apontado também por outros estudos que utilizaram metodologias diferentes de análise.
Parte desses resultados foi publicada em 2008 na revista Oncology. “Acreditamos que, ao apontar eventos moleculares comuns aos dois processos, estamos identificando eventos precoces e, portanto, mais determinantes para o aparecimento do tumor, o que será importante, futuramente, para pesquisas aplicadas com objetivos terapêuticos”, ressaltou.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Fumo estimula infecções

Agência FAPESP – Um novo estudo destaca que a nicotina afeta os neutrófilos, células sangüíneas leucocitárias que ajudam o organismo a se defender de infecções, ao reduzir a capacidade desse tipo de glóbulo branco para perseguir e destruir bactérias.
O estudo, feito por cientistas do Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, foi publicado na revista BMC Cell Biology.
Neutrófilos são produzidos na medula óssea e dali saem como células diferenciadas e com vida curta. Embora trabalhos anteriores tenham sugerido que a nicotina afeta esse tipo de leucócito, não se conhecia até agora os mecanismos atuantes quando a substância está presente durante a diferenciação dessas células.
Segundo o norte-americano David Scott, da Universidade de Louisville, e colegas, os processos que eles observaram como prejudiciais à função dos neutrófilos explicam em parte o aumento na suscetibilidade a infecções bacteriais e doenças inflamatórias entre os fumantes crônicos.
Os pesquisadores modelaram o processo de diferenciação dos neutrófilos, com ou sem nicotina, em células promielocíticas HL-60 (células de leucemia), que se diferenciaram em neutrófilos após o tratamento com dimetilsulfóxido.
Eles verificaram que a nicotina aumentou a porcentagem de células em fases posteriores de diferenciação, em comparação com apenas o dimetilsulfóxido, mas que não afetou outros marcadores de diferenciação de neutrófilos analisados.
Entretanto, os neutrófilos com nicotina se mostraram menos capazes de buscar e de destruir bactérias do que os demais. Segundo os autores, a nicotina suprimiu a explosão oxidativa em células HL-60, uma função que ajuda a combater as bactérias invasoras. A nicotina também aumentou a liberação de MMP-9 (expressão da metaloproteinase 9), um fator envolvido na degradação de tecidos.
Segundo os pesquisadores, uma melhor compreensão das relações entre nicotina e o sistema imunológico é fundamental para que se desenvolvam estratégias terapêuticas específicas para lidar com importantes doenças e condições inflamatórias associadas ao tabaco.
O artigo The influence of nicotine on granulocytic differentiation – inhibition of the oxidative burst and bacterial killing and increased matrix metalloproteinase-9 release, de David Scott e outros, pode ser lido em www.biomedcentral.com/bmccellbiol.

Novo gene que causa câncer é descoberto

Agência FAPESP – Um novo gene responsável pelo desenvolvimento de diversos tipos de cânceres foi identificado por cientistas do Instituto do Câncer da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, o gene e sua proteína, denominados RBM3, são vitais para a divisão celular nas células normais.
Os baixos níveis de oxigênio nos tumores, segundo o trabalho publicado na revista Nature, causam elevado aumento da quantidade dessa proteína, provocando uma divisão sem controle das células cancerosas e levando a um aumento do tumor em formação.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas usaram novas tecnologias que silenciam geneticamente a proteína e reduzem o nível de RBM3 em células cancerosas. A nova técnica, que fez com que o tumor parasse de crescer até a morte celular, foi testada com sucesso em vários tipos de cânceres, entre os quais mama, pâncreas, cólon, pulmão, ovário e próstata.
"Estamos muito animados com essa descoberta, uma vez que a maioria dos cânceres se desenvolve a partir de mutações nos genes e os nossos estudos, pela primeira vez, mostraram que muitas proteínas desse tipo realmente fazem com que células normais se transformem em células cancerosas", disse o coordenador da pesquisa, Shrikant Anant.
Anant explicou que a proteína RBM3 pode ser encontrada em todas as fases de muitos tipos de cânceres, sendo que a quantidade de proteínas aumenta com o desenvolvimento da doença. Segundo ele, a proteína contribui para que a doença se prolifere mais rapidamente no organismo humano, evita a morte celular e integra o processo responsável pela formação de novos vasos sangüíneos que alimentam o tumor.
"Esse processo, chamado angiogênese, é essencial para o crescimento tumoral e sugere que terapias que tenham a RBM3 como alvo podem ser ferramentas extremamente poderosas contra muitos tipos de tumores sólidos", afirmou Anant, que é professor do Departamento de Medicina e Biologia Celular do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Oklahoma.
Os pesquisadores identificaram ainda que a RBM3, por ser significativamente regulada em tumores humanos, é responsável pelo aumento de tumores do cólon. Ao expressar a proteína em fibroblastos (células do tecido conjuntivo) de camundongos e em células epiteliais do cólon humano, eles verificaram um aumento na proliferação celular, enquanto a baixa regulação da RBM3 em células com câncer de cólon diminuiu o crescimento das células em cultura.
O próximo passo de Anant e equipe é desenvolver agentes capazes de bloquear a proteína em uma grande variedade de tumores. Eles estimam que os ensaios clínicos, a serem realizados na própria universidade norte-americana, terão início em cerca de cinco anos.
O artigo Translation regulatory factor RBM3 is a proto-oncogene that prevents mitotic catastrophe de Shrikant Anant e outros, pode ser lido na Nature em www.nature.com/onc

Drama mortal

Por Carlos Fioravanti

Pesquisa FAPESP – No mês passado ganharam o mundo dois estudos que mostram quão dramático é o quadro de uma das doenças mais temidas da humanidade, a tuberculose. Um deles descreve uma nova linhagem da principal espécie de bactéria causadora de tuberculose, o bacilo Mycobacterium tuberculosis, que apresenta uma perda do genoma uma vez e meia maior que a maior perda já encontrada em qualquer outra das seis espécies do gênero Mycobacterium que causam tuberculose.
Mesmo assim sobreviveu, reforçou a capacidade de escapar das células de defesa do organismo e se tornou a responsável por um em cada três casos de tuberculose registrados no Rio de Janeiro. A infecção por essa linhagem, chamada de RD-Rio por ter sido descoberta lá, está associada com emagrecimento mais intenso, mais escarro de sangue e mais perfurações no pulmão.
O outro trabalho, com laboratórios de nove países, mostra que essa linhagem predomina sobre centenas de outras nos Estados Unidos, na América Central e na África. Este mês deve sair um terceiro artigo mostrando que essa mesma variedade causa um terço da tuberculose registrada também em Belo Horizonte.
"Nossa hipótese é que essa linhagem pode passar despercebida e se espalhar mais facilmente por ter perdido parte dos genes que levam à produção de proteínas que a denunciariam ao organismo hospedeiro, mas aparentemente não apresenta mais resistência do que as outras ao tratamento com antibióticos", diz Luiz Cláudio Lazzarini de Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que voltou ao Brasil no mês passado após três anos na Universidade Cornell, Estados Unidos.
Esses estudos, de que ele participou, exibem não só um dos mecanismos pelos quais a bactéria da tuberculose sobrevive e ganha vigor, mas também o desamparo diante de uma doença que, quando não mata logo, torna a vida uma sucessão de angústias e dores regidas pela sombra da morte, como o poeta pernambucano Manuel Bandeira retratou nas cartas e nos poemas que ilustram esta reportagem. O Mycobacterium tuberculosis instala-se nos pulmões de 9 milhões de pessoas a cada ano no mundo e mata um indivíduo a cada 15 segundos.

Bases genéticas das doenças

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Cientistas em todo o mundo têm tentado identificar genes que possam causar doenças. Segundo o pesquisador brasileiro Marcelo Nóbrega, professor assistente do Departamento de Genética Humana da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, essa corrida pela associação entre variantes genéticas e suscetibilidade a doenças está em ritmo mais rápido do que se imagina.
Em palestra realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), na capital paulista, Nóbrega falou sobre como os mecanismos de diferenciação genética que fazem com que uma célula seja capaz de desempenhar funções específicas no organismo humano são incógnitas que a comunidade científica internacional tem procurado desvendar por vários meios experimentais.
"O genoma não é usado de forma homogênea pelas células. Há uma orquestração de genes ligados e desligados em diferentes órgãos e tecidos, o que faz com que muitas células, apesar de terem as mesmas instruções genéticas, tenham funções bem distintas. Compreender esses mecanismos é um dos grandes desafios atuais", disse a uma platéia de estudantes e professores da FMUSP.
Nóbrega destacou que muitas pesquisas foram realizadas nos últimos dois anos para tentar identificar trechos do genoma humano que se associam a doenças complexas, como as cardíacas e o diabetes.
"Em 2006, descobriu-se que o gene TCF7L2 está envolvido com o diabetes tipo 2. Em 2007, outros dez genes foram identificados e, hoje, são conhecidos mais de 30 genes relacionados à doença. E mais de 50 estudos ao redor do mundo já associam o TCF7L2 ao risco de desenvolver o diabetes. Ao combinar os efeitos das variantes desse gene no organismo humano, esses trabalhos sinalizam para o aumento da previsibilidade da doença em pelo menos cinco vezes", apontou.
A identificação dos genes relacionados ao diabetes foi conseguida, segundo ele, devido a uma mudança fundamental ocorrida nas plataformas experimentais utilizadas nas linhas de pesquisa da área. "Antes de descobrir os genes causadores de doenças foi preciso criar novas ferramentas. A grande revolução atual da genômica é tecnológica", afirmou o médico graduado pela Universidade Federal de Pernambuco.


Comparação em larga escala
Os chips de DNA, minúsculas lâminas com capacidade de registrar mais de um milhão de variantes genéticas do genoma humano, representam, para Nóbrega, um dos avanços tecnológicos mais importantes dos últimos anos na área.
"Com apenas um chip desse tipo, que custa em torno de US$ 100, é possível traçar o perfil das variações genéticas de uma pessoa ao longo de seu genoma. Só para ter idéia de quão rápido essa área evolui, há menos de um ano esse mesmo chip custava US$ 1 mil e tinha uma capacidade dez vezes menor do que a atual", contou.
Segundo Nóbrega, o mapeamento por meio desses chips, realizado em amostras de DNA de várias pessoas, algumas portadoras de determinadas doenças e outras tidas como controle, permite, em um tempo relativamente curto, identificar características genéticas iguais e distintas das pessoas.
"Esse cruzamento de dados é realizado por meio de uma estratégia conhecida como associação genômica ampla, que tem permitido a identificação, por exemplo, de pessoas mais resistentes ao diabetes e as com chances mais elevadas de desenvolver a doença. Com o estudo aprofundado dos genes nas regiões alteradas do genoma, novos processos experimentais poderão explicar, em um futuro próximo, a gênese de diversas doenças", afirmou.
Há, no entanto, fatores econômicos limitantes para esse tipo de comparação genética de indivíduos com e sem doenças. "Hoje, o preço para o seqüenciamento do genoma de um único indivíduo varia entre US$ 50 mil e US$ 60 mil. Trata-se de um grande avanço, no entanto, uma vez que há seis anos esse mesmo procedimento custava em torno de US$ 3 bilhões", apontou.
"É quase certo que esse custo seja reduzido para US$ 1 mil nos próximos anos. Mas, enquanto isso não ocorre, os chips de DNA, que mesmo sem o genoma completo de um indivíduo são capazes de oferecer uma visão global da variação genética de uma pessoa a partir de seqüências menores de seu DNA, continuarão a ser utilizados", disse o professor da Universidade de Chicago.
A palestra de Marcelo Nóbrega, intitulada Decifrando o genoma e suas implicações na gênese e tratamento de doenças, faz parte da série de conferências internacionais Fronteiras da Medicina, promovida pela FMUSP e pelos Laboratórios de Investigação Médica do Hospital das Clínicas da FMUSP.
O primeiro ciclo da série trará mais cinco palestrantes de destaque no meio científico, para abordar as inovações na área da saúde, no desenvolvimento de novos tratamentos e em procedimentos diagnósticos e cirúrgicos. As palestras são abertas ao público.
Mais informações sobre a série com o Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração: (11) 3069-5579 ou kriger@incor.usp.br.

Derivados do sangue em escala industrial

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – O governador do Estado de São Paulo, José Serra, assinou um contrato para a construção da primeira Unidade de Processamento de Plasma do Brasil, que funcionará na sede do Instituto Butantan, na capital paulista.
A partir do processamento industrial do plasma de sangue humano, a fábrica produzirá hemoderivados como albuminas, imunoglobulinas e fatores de coagulação, que são utilizados, isoladamente ou por meio de transfusão de sangue, no tratamento de doenças como as infecciosas, hemofilia e Aids.
A estimativa é que a fábrica tenha capacidade para processar, anualmente, 150 mil litros de plasma, sendo que os hemoderivados deverão atender a região Centro-Sul do país, principalmente o Sistema Único de Saúde (SUS). Para Otávio Mercadante, diretor do Instituto Butantan, grande benefício ao país gerado pela fábrica será a produção nacional desses produtos, que atualmente são importados da Europa.
"Hoje temos que enviar o plasma sangüíneo coletado no Brasil para o exterior, onde esse material é processado e retorna. O Ministério da Saúde gasta por volta de US$ 400 milhões por ano com a importação desses hemoderivados que em breve começarão a ser produzidos na fábrica. A construção das instalações físicas deve ter início dentro de uma ou duas semanas, com previsão de término em 18 meses", disse Mercadante à Agência FAPESP.
Segundo ele, os derivados do sangue serão produzidos na fábrica por meio de cromatografia, processo tecnológico que utiliza uma coluna cilíndrica contendo resinas sintéticas que purificam e separam do plasma as proteínas de interesse médico. Esse procedimento utiliza resinas distintas para separar as proteínas de acordo com características como rejeição à água e atividade biológica.
"O plasma é uma matéria-prima humana da qual são extraídas uma série de proteínas, como a albumina, que é usada principalmente no tratamento de queimaduras e doenças que fazem com que o paciente perca quantidade elevada de líquidos. Já as imunoglobulinas protegem o organismo contra raiva, tétano e difteria", explicou.
O início da construção da unidade, que terá 10 mil metros quadrados localizados dentro do instituto paulista, será feito com o investimento de R$ 57 milhões concedidos pelo governo paulista, por meio da Secretaria Estadual de Saúde.
"Calcula-se que serão gastos R$ 140 milhões em toda a obra e na aquisição dos equipamentos. O restante do financiamento deverá ser adquirido junto à Fundação Butantan e ao Ministério da Saúde, que é o órgão que vai economizar com a substituição das importações. De acordo com o projeto da fábrica, em dois anos deveremos ter todo o retorno dos investimentos", afirmou o diretor do Instituto Butantan.
A inovação tecnológica é, também, segundo Mercadante, um ponto que caracteriza a fábrica. "Essa é a primeira planta no Brasil que pretende desenvolver, com base em tecnologias de processamento de plasma já dominadas e criadas pelo próprio Instituto Butantan, uma ampla linha de produtos estratégicos para o país", disse.
"Esses hemoderivados são produzidos por poucos laboratórios no mundo, o que gera uma espécie de oligopólio e faz com que altos preços sejam impostos aos países que ainda não os produzem", destacou.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Consequências da obesidade são subestimadas

A relação entre obesidade e mortalidade por doenças cardiovasculares pode estar subestimada, segundo um estudo publicado no British Medical Journal.
Estudos já demonstraram que um índice de massa corporal (IMC) elevado está associado a índices maiores de morte por causa de doenças cardiovasculares, diabetes ou alguns tipos de câncer. Já um IMC baixo estaria associado ao aumento da taxa de mortalidade por causas como enfermidades respiratórias ou câncer de pulmão.
No entanto, os cientistas afirmam que estas associações podem ser alteradas por outros fatores, como o fumo ou aspectos socioeconômicos. Também destacam o fato de que uma doença grave, como por exemplo o câncer de pulmão, provoca perda de peso e mortalidade mais elevada.
Uma equipe da Universidade de Bristol (Reino Unido) e do Instituto Karolinska da Suécia tentou controlar as possíveis alterações comparando o IMC de pessoas com idades entre 17 e 25 anos e a mortalidade entre os pais dos pesquisados.
A análise teve como base mais de um milhão de duplas filhos-pais suecos, com a medição da altura e peso dos filhos entre 1969 e 2002.
De acordo com os resultados de estudos anteriores, os cientistas demonstraram sólidas associações entre um IMC elevado dos filhos e a mortalidade dos pais em consequência de doenças cardiovasculares, diabetes ou câncer.
Mas não encontraram provas de que um IMC baixo nos filhos corresponda a um perigo agudo para os pais da morte por enfermidades respiratórias ou câncer de pulmão.
Estes resultados sugerem que as aparentes consequências negativas de um IMC baixo na mortalidade por doenças respiratórias e câncer de pulmão poderiam estar excessivamente consideradas, enquanto os efeitos nefastos de um IMC alto poderiam estar muito subestimados.
Se considera que um adulto está acima do peso recomendável quando seu IMC (relação entre peso e altura elevada ao quadrado) está acima de 25. A obesidade acontece quando fica acima de 30 e abaixo do peso quando o índice é inferior a 20.

Protetor do câncer do fígado

Agência FAPESP – Um grupo formado por pesquisadores do Japão e dos Estados Unidos descobriu um mecanismo que atua na prevenção de problemas no fígado, como inflamações, fibrose ou câncer. O estudo publicado no site na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
O mecanismo se baseia em uma determinada proteína, denominada TAK1, que seria um “regulador mestre” da função hepática. “Compreender melhor o papel da TAK1 nas doenças do fígado e no câncer poderá nos ajudar a desenvolver novas estratégicas terapêuticas”, disse David Brenner, diretor da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, um dos autores do trabalho.
A TAK1 é uma cínase (ou quinase), um tipo de enzima de sinalização envolvida em diversas atividades celulares, entre as quais o próprio crescimento das células.
A TAK1 ativa duas proteínas específicas, NF-kappaB e JNK. A primeira ajuda a proteger células do fígado do desenvolvimento do câncer e da morte celular. Por outro lado, a JNK promove os dois processos.
Até então, não se sabia se a TAK1 promovia ou ajudaria a evitar o desenvolvimento do câncer de fígado. Brenner e colegas desenvolveram um modelo em camundongos no qual as células do fígado não tinham o gene Tak1, responsável pela produção da proteína TAK1.
Nos experimentos seguintes, eles observaram uma alta taxa de morte de células do fígado em animais jovens que não tinham a proteína. Os fígados dos camundongos modificados entraram em pane, produzindo células demais e causando danos: inflamação, fibrose e, eventualmente, câncer.
“Nosso estudo é o primeiro a demonstrar o papel da TAK1 no desenvolvimento do câncer e indica fortemente que essa proteína também contribui para a manifestação de tumores em outros órgãos”, disse o japonês Ekihiro Seki, atualmente na Universidade da Califórnia na equipe de Brenner.
Outra conquista da pesquisa é o próprio modelo animal desenvolvido, que sustentou inflamação e fibrose, pontos importantes no desenvolvimento de câncer de fígado em humanos. O modelo, apontam, será útil para investigar se a fibrose influencia o câncer no fígado.
“Também podemos usar o modelo para testar se uma droga ou uma terapia potencial contra o câncer atua na fibrose, no câncer ou nos dois. O estudo abre um novo potencial terapêutico que tem como alvo o estudo da expressão da TAK1”, disse Seki.
O artigo Disruption of TAK1 in hepatocytes causes hepatic injury, inflammation, fibrosis, and carcinogenesis, de David Brenner e outros, poderá ser lido em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0909781107

Sabonete contra dengue

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Está concluída a formulação de um sabonete repelente, desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), que poderá se tornar uma importante arma para o combate ao mosquito da dengue (Aedes aegypti), que também transmite a febre amarela.
O produto, cujo efeito dura até seis horas sobre a pele humana, foi criado a partir de uma mistura de glicerina, obtida em óleo de cozinha reciclado, com essências naturais de plantas como o cravo-da-índia, citronela e capim-limão. A fórmula conta ainda com outras substâncias químicas, que ajudam a aumentar o tempo de ação do produto.
"Apesar de ter uma ação comprovada contra o Aedes aegypti, que foi o foco dos estudos, o sabonete conta com grande possibilidade de ter ação repelente contra outros vetores. O objetivo agora é ampliar os testes de sua eficácia contra insetos que transmitem outras doenças humanas e animais", disse Edmílson José Maria, coordenador da pesquisa e chefe do Setor de Síntese Orgânica do Laboratório de Ciências Químicas da Uenf, onde o sabonete foi formulado, à Agência FAPESP.
O processo de obtenção de patente do produto junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) teve início, assim como o pedido de aprovação da formulação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com José Maria, a eficácia do sabonete foi comprovada em testes com cobaias e humanos. "Para verificar sua atividade repelente e seu tempo de ação, primeiramente aplicamos o sabonete em camundongos, que ficaram em contato com mosquitos Aedes aegypti. Esses insetos são criados em cativeiro no laboratório a partir de uma linhagem que não tem o vírus da dengue, fazendo com que as gerações posteriores do mosquito também não desenvolvam a virulência", explicou.
Nos testes em humanos, o produto foi aplicado na mão e no antebraço de voluntários da universidade. "Em seguida, inserimos os braços dos voluntários, sucessivamente em um período de seis horas, em gaiolas cheias de mosquitos para verificar se haveria algum tipo de contato dos insetos com a pele, o que não ocorreu", afirmou.
"Fizemos ainda uma contraprova, em que a mesma base do sabonete sem as substâncias repelentes foi aplicada. Seguimos a mesma metodologia e identificamos um alto número de pousos dos mosquitos na pele dos voluntários", completou.


População vulnerável
José Maria explica que a criação de um repelente em forma de sabão surgiu da idéia de disponibilizar um produto economicamente acessível à população carente das grandes cidades que não têm acesso a ferramentas mais sofisticadas de combate à dengue.
"Como o acesso da população aos repelentes convencionais é restrito, devido ao seu custo elevado, nosso projeto vem ao encontro dessa questão social. O sabonete ainda não tem preço definido, mas certamente terá baixo custo", disse.
O foco na população carente se justifica, segundo o professor, pelo fato de ela estar mais exposta à transmissão da doença nas grandes cidades. "Essa população normalmente vive em áreas nas quais os alagamentos são mais constantes e o saneamento básico é mais precário, além de muitas vezes não ter condições de comprar repelentes elétricos ou de instalar telas de proteção nas janelas", apontou.
"O período de seis horas de atuação do sabonete é o tempo médio em que uma criança, por exemplo, sai de casa usando o produto, vai até a escola e retorna à sua residência", disse. A intenção, em um primeiro momento, segundo o pesquisador, é disponibilizar o produto a órgãos públicos ligados à saúde do Rio de Janeiro.
Para isso, a equipe da Uenf está atualmente trabalhando, com financiamento da própria universidade, na produção de um lote de mil unidades do sabonete para enviá-lo aos poderes público municipal e estadual, que deverá repassar o produto à sociedade.
"A previsão é que até o fim deste mês estejamos com esse lote pronto. Também estamos em busca de parcerias com a iniciativa privada para a fabricação em larga escala e comercialização do produto", sinalizou.
Campos dos Goytacazes, que abriga o campus da Uenf, é a terceira cidade do Estado do Rio de Janeiro em número de casos de dengue registrados em 2008, ficando atrás apenas da capital fluminense e de Nova Iguaçu. "De janeiro a abril deste ano, houve aproximadamente 6 mil casos da doença em Campos dos Goytacazes, com 16 óbitos registrados", disse José Maria.

Vitamina E para Alzheimer

Agência FAPESP – Portadores de Alzheimer que ingerem vitamina E aparentemente vivem mais do que aqueles que têm a doença e não fazem uso do suplemento. A conclusão é de um estudo apresentado na 60ª reunião anual da Academia Norte-Americana de Neurologia, realizado em Chicago.
No estudo, um grupo de cientistas avaliou 847 portadores de Alzheimer durante uma média de cinco anos. Cerca de dois terços tomaram duas vezes por dia cápsulas com mil unidades internacionais de vitamina E junto com um inibidor de colinesterase, usado no tratamento da doença. Menos de 10% tomaram apenas vitamina E e 15% não ingeriram a vitamina.
Os pesquisadores verificaram que aqueles que ingeriram a vitamina, com ou sem o inibidor de colinesterase, apresentaram risco de morte 26% menor do que os demais.
"Trabalhos anteriores apontaram o papel da vitamina E no adiamento da progressão da doença de Alzheimer moderadamente severa. Agora, conseguimos mostrar que a vitamina aparentemente também aumenta o tempo de sobrevivência dos portadores", disse um dos autores do estudo, Valory Pavlik, da Faculdade de Medicina Baylor, no Texas.
O estudo também indicou que a mistura da vitamina E com o inibidor de colinesterase pode ser mais eficaz do que receber apenas o medicamento. "Os resultados mostraram que as pessoas que tomaram o inibidor sem vitamina E não tiveram um benefício em seu tempo de vida. No entanto, mais estudos são necessários para determinar os motivos", disse Pavlik.
Além dos suplementos vitamínicos, diversos alimentos são fontes importantes de vitamina E, como vegetais verdes, sementes e óleos vegetais.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

INQUÉRITO À PANDEMIA DA GRIPE SUINA PELA EU

A superior atenção dos grandes defensores da negociata das vacinas, e obviamente da (dês)governacão do senhor Pinto e seus companheiros de caminho:


A ministra da saúde da Polónia foi sensata e inteligente tendo recusado categoricamente entrar no jogo da OMS e da Indústria Farmacêutica. Com esta decisão acautelou responsavelmente a saúde pública dos cidadãos polacos e milhões de euros de todos os contribuintes.

Em Portugal, pelo contrário, um governo socialista que desgoverna este país com mais de 500.000 desempregados, gastou milhões de euros em vacinas que nunca foram testadas.

Vejam agora a posição dos Media em Portugal:

Ninguém fala dos perigos das vacinas, assim como ninguém divulga o que se tem passado na Europa relativamente ao maior escândalo médico do século.

Vejam aqui o texto traduzido do inglês sobre o Inquérito que está em curso sobre os interesses, da Indústria Farmacêutica e das pessoas na OMS, na venda das vacinas e no efeito "Pandemia" produzido com objectivos pouco legais.


Vide:

“O Conselho dos Estados membros da Europa estão a lançar um inquérito em Janeiro de 2010, sobre a influência da indústria farmacêutica sobre a campanha global da gripe suína, incidindo especialmente sobre a extensão da influência da indústria farmacêutica na OMS, de acordo com relatos na imprensa alemã.
Wolfgang Wodarg, ex-membro do SPD do parlamento, e presidente da comissão parlamentar de saúde, deu início ao inquérito. A moção foi aprovada por unanimidade por seus colegas na comissão parlamentar de saúde. Wodarg criticou as medidas tomadas contra a gripe suína como “um dos maiores escândalos médico do século”;.
Ele disse que a influência da indústria farmacêutica, de cientistas e funcionários do governo, resultou em "milhões de pessoas saudáveis sendo expostas desnecessariamente aos riscos de uma vacina inadequadamente testada."
Isso mesmo, o vírus da gripe suína é "muito menos prejudicial" do que a gripe sazonal do ano passado, fazendo com que "nem sequer um décimo dos óbitos associados à gripe comum."
Wodarg também criticou a forma como as empresas farmacêuticas têm lucros gigantescos à custa dos contribuintes.
Ele acusou os fabricantes de vacinas de estarem dispostos até mesmo a infligir dano corporal "na sua busca de lucros”, observando que os adjuvantes na vacina da gripe suína quase não foram testados.
Além disso, os efeitos colaterais da vacina, incluindo paralisia perigosas não tenham sido devidamente registadas.
Wodarg disse que o papel da OMS e da sua declaração de emergência da pandemia, em Junho deve ser o foco especial de um inquérito pelo Parlamento Europeu. Pela primeira vez, os critérios para uma pandemia não foi feito o risco real de uma doença, mas o número de casos da doença.
Ao classificar como a gripe pandémica, os países foram obrigados a implementar planos de pandemia também a compra de vacinas contra a gripe suína.
Porque não está sujeito a qualquer controlo parlamentar, Wodarg argumentou que é necessário para que os governos insistem na responsabilização.
O que é uma pandemia não deve poder ser definido por uma organização que está claramente sob a influência das companhias farmacêuticas que lucram com as vendas de vacinas que acompanham essa pandemia. Muitos produtores da decisão trabalharam para a indústria farmacêutica e voltaram a trabalhar na indústria farmacêutica.
O inquérito é também saber o papel de Paul-Ehrlich e Robert-KochInstitute na Alemanha.”

Molécula anticongelante

Agência FAPESP – Um grupo de cientistas norte-americanos descobriu uma molécula anticongelamento que permite a uma espécie de besouro encontrada no Alasca sobreviver a temperaturas de cerca de 40º C negativos.
Diferente de compostos biológicos que evitam o congelamento descobertos anteriormente, a nova molécula, denominada xylomannan, quase não tem proteína. Ela é composta de um açúcar e de um ácido graxo e, segundo os pesquisadores, pode existir em locais até então desconhecidos nas células.
A descoberta foi apresentada na reunião da União Geofísica Norte-Americana, em San Francisco, e publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
“O mais instigante é que essa molécula é um tipo de anticongelante até então desconhecido. Ela funciona, nas células, em um local e de modo totalmente diferente do que se conhecia até então”, disse Brian Barnes, diretor do Instituto de Biologia Ártica da Universidade do Alasca, e um dos autores do estudo.
De forma semelhante à formação de cristais de gelo sobre sorvete deixado por muito tempo no freezer, cristais de gelo em um inseto ou em outro organismo podem tirar tanta água das células do organismo que elas acabam morrendo.
Moléculas anticongelantes funcionam de modo a manter pequenos os cristais de gelo ou prevenir que eles se formem. Essas moléculas podem ajudar organismos a resistir a temperaturas muito baixas ao evitar que o congelamento chegue às células, uma condição letal.
Outros insetos usam esse tipo de moléculas para reduzir sua temperatura abaixo do ponto de congelamento sem que se solidifiquem e morram.
Segundo os pesquisadores, uma possível vantagem da molécula encontrada no besouro Upis ceramboides é que ela teria o mesmo ácido graxo das membranas celulares.
Essa semelhança, apontam, poderia permitir que a molécula fizesse parte de uma parede celular e protegesse a célula da formação interna de cristais de gelo. Moléculas anticongelantes feitas de proteínas não se encaixam em membranas celulares.

Reação desmedida

Por Ricardo Zorzetto

Pesquisa FAPESP – Em meio à primavera chegou ao fim no Brasil a temporada de gripe de 2009, na qual o principal vilão foi o vírus influenza A (H1N1), causador da gripe suína, a primeira pandemia deste século.
Em seis meses o H1N1 deixou ao menos 19 mil brasileiros com febre alta, dores musculares intensas e uma angustiante falta de ar. Enquanto o Brasil e outros países começavam a se preparar para a segunda onda de gripe suína, que já se espalha pelo hemisfério Norte com a proximidade do inverno, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) concluíam as primeiras análises dos prejuízos causados no organismo pelo H1N1.
Nos casos mais graves, verificou o grupo paulista, o corpo reage com uma ofensiva imunológica tão intensa que mata o vírus, mas também provoca destruição nos pulmões tão grave a ponto de fazê-los parar de funcionar.
O sinal mais evidente desse estrago é a falta de ar (dispneia) intensa, bastante frequente nas pessoas que desenvolveram a forma mais grave – e por vezes letal – da gripe suína.
“Todo médico deve ficar alerta a esse sintoma, indicador de que a infecção pode ser mais grave”, disse a patologista Thais Mauad, da USP, primeira autora do estudo publicado on-line em 29 de outubro no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, o primeiro a descrever de modo sistemático as lesões fatais induzidas pelo H1N1.
Thais e outros 14 pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP que trabalharam sob a coordenação dos patologistas Paulo Hilário Saldiva e Marisa Dolhnikoff chegaram a essa conclusão ao examinar amostras de diferentes órgãos de 21 pessoas mortas na cidade de São Paulo em decorrência da gripe suína.

Drogas antirretrovirais reduz suicídios entre pacientes de Aids

O suicídio entre pacientes de Aids na Suíça diminuiu em mais de 50% depois que eles começaram a tomar drogas anti-retrovirais em 1996, segundo descoberta recente de um estudo suíço.

Praticamente todos os pacientes de Aids suíços recebem os remédios necessários, mas o estudo pode se mostrar significativo também no terceiro mundo. Está havendo um debate ativo em países que realizam grandes doações sobre se realmente faz sentido oferecer aos países mais pobres drogas antirretrovirais caras em vez de itens mais baratos e capazes de salvar vidas, como antibióticos, redes de mosquito e filtros de água.

Embora o índice de suicídio ainda seja mais alto que o normal entre pacientes suíços com Aids, 62% dos que se mataram também tinham algum tipo de doença mental, disse Olivia Keiser, especialista em HIV da Universidade de Berna e principal autora do estudo, publicado no The American Journal of Psychiatry.

Quando questionada se seria possível chegar a resultados similares em países africanos com altos índices de Aids, Keiser afirmou que não havia como saber, pois há muito poucos dados sobre o suicídio na África.

No entanto, um estudo recente realizado por Lourens Schlebusch, professor de psicologia da faculdade de medicina Nelson R. Mandela, da Universidade de Natal, descobriu que os índices de suicídio aumentaram bastante entre os jovens negros na África do Sul na última década.

Problemas acadêmicos, incesto, estresse e depressão eram as principais causas, mas as pessoas infectadas com Aids tinham 36% mais probabilidade de cometer suicídio, disse Schlebusch.

Células-tronco podem ser desenvolvidas para matar o HIV

Pesquisadores do UCLA Aids Institute e colegas demonstraram pela primeira vez que as células-tronco do sangue humano podem ser criadas para alvejar e matar as células infectadas pelo vírus HIV, causador da Aids, processo que pode ser usado contra uma série de doenças virais crônicas.
O estudo, publicado em 7 de dezembro no jornal online (revisado pelos pares) PLoS One, fornece uma prova de princípio, ou seja, uma demonstração de viabilidade, de que as células-tronco podem ser desenvolvidas para o equivalente a uma vacina genética.
» Cura da AIDS? Transplante de medula desaparece com HIV de paciente
“Nós demonstramos no estudo dessa prova de princípio que esse tipo de abordagem pode ser usado para programar o sistema imunológico humano, particularmente a resposta dos linfócitos T, para especificamente visar as células infectadas pelo HIV”, disse o investigador-chefe Scott G. Kitchen, professor-assistente de Medicina na Divisão de Hematologia e Oncologia na Escola de Medicina David Geffen na UCLA e membro do UCLA Aids Institute. “Esses estudos estabelecem a base para o desenvolvimento futuro de novas terapias que envolvam a restauração de respostas danificadas ou defeituosas do sistema imunológico com respeito a uma variedade de vírus que causam doenças crônicas, ou mesmo diferentes tipos de tumor.”
Examinando o citotóxico CD8 dos linfócitos T – o “matador” do sistema imunológico, que ajuda a combater as infecções – de um indivíduo infectado com o HIV, os pesquisadores identificaram a molécula conhecida como receptora de linfócitos T, que os guiam para reconhecer e matar as células infectadas. Essas células boas, mesmo que aptas a destruir as infectadas pelo HIV, não existem em quantidades suficientes para eliminar completamente o vírus do corpo. Então, os cientistas clonaram o receptor e geneticamente criaram células-tronco originárias do sangue humano, depois colocaram as células-tronco em um timo humano que tinha sido implantado em ratos, permitindo a eles estudar a reação em um organismo vivo.
As células-tronco criadas se desenvolveram em uma grande população de células CD8, maduras e multifuncionais, específicas para o HIV, que poderiam visar especificamente células que contivessem proteínas do HIV. Os pesquisadores descobriram também que os receptores de linfócitos T específicos para o HIV devem ser adaptados ao indivíduo da mesma forma que um órgão deve ser compatível a um paciente de transplante.
O próximo passo é testar essa estratégia em um modelo mais avançado para determinar se esse procedimento iria funcionar em um corpo humano, segundo o co-autor da pesquisa Jerome A. Zack, professor de Meidicina na Divisão de Hematologia e Oncologia da UCLA e diretor-adjunto do UCLA Aids Insitute. Os pesquisadores esperam também expandir a gama de vírus contra os quais essa abordagem possa ser utilizada.
» Vacina AIDS HIV protege contra o vírus
Mas os resultados do estudo já sugerem que essa estratégia pode ser uma arma efetiva na luta contra a Aids e outras doenças virais.
“Essa abordagem pode ser usada para combater uma variedade de doenças virais crônicas”, disse Zack, que é também professor de Microbiologia, Imunologia e Genética Molecular. “É como uma vacina genética.”
Além de Kitchen e Zack, fazem parte do grupo Michael Bennett, Zoran Galic, Joanne Kim, Qing Xu, Alan Young, Aléxis Lieberman, Hwee Ng e Otto Yang, todos da UCLA, e Aviva Joseph e Harris Goldstein, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, de Nova Iorque. O estudo foi financiado pelo California Institute for Regenerative Medicine (CIRM) e pelo UCLA Center for Aids Research. [Science Daily]

No encalço das moléculas

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Os pesquisadores que se dedicam à descoberta e desenvolvimento de novos fármacos acabam de ganhar um importante aliado: foi lançada a primeira base de dados brasileira de propriedades farmacocinéticas.
A base de dados, que contém informações sobre propriedades farmacocinéticas e físico-químicas de mais de 1,3 mil fármacos, foi inteiramente criada por pesquisadores do Laboratório de Química Medicinal e Computacional (LQMC) do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP).
O LQMC faz parte do Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural (CBME), um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP.
De acordo com o coordenador do LQMC, Adriano Andricopulo, o termo "farmacocinética" se refere ao caminho que um medicamento faz no organismo, englobando processos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção (ADME).
"O cientista que trabalha no projeto de um novo fármaco precisa estudar essas propriedades, mas encontra grande dificuldade, pois há pouca disponibilidade de dados padronizados. Essa base de dados, inédita na América Latina, tem poucas similares no mundo e nenhuma delas tem acesso aberto e gratuito", disse Andricopulo à Agência FAPESP.
As informações sobre os 1,3 mil fármacos disponíveis na base, batizada de PK/DB (de Database for Pharmacokinetic Properties), incluem mais de 3,2 mil medidas de propriedades farmacocinéticas, entre as quais absorção intestinal, biodisponibilidade oral, ligação às proteínas plasmáticas, metabolismo mediado pelo citocromo P450, volume de distribuição, tempo de meia-vida e permeabilidade da barreira hemato-encefálica.
Segundo Andricopulo, que também é diretor da Divisão de Química Medicinal da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), foram necessários cinco anos de trabalho para reunir e padronizar informações detalhadas sobre uma quantidade tão grande de compostos.
"O resultado é uma base bastante robusta, que permite estudar propriedades de moléculas com grande diversidade química. Com isso, os pesquisadores podem planejar mudanças estruturais na molécula e observar como elas vão afetar as propriedades", disse.


Predição de propriedades
Andricopulo explica que a farmacodinâmica, isto é, o estudo sobre como os fármacos interagem com seu receptor-alvo para exercer sua ação farmacológica, tem sido muito valorizada. Mas sem conhecer as propriedades farmacocinéticas não se pode compreender como o fármaco poderá chegar a seu alvo.
"Para que um fármaco seja administrado por via oral – que é um objetivo fundamental para a indústria farmacêutica – a fase farmacocinética precisa ser profundamente estudada. Eventualmente, uma molécula pode ter excelentes características famacodinâmicas, mas pode não ser solúvel em água, por exemplo, o que inviabilizaria um projeto de medicamento com administração oral", explicou.
Outra característica importante da base PK/DB é que ela conta com um novo sistema integrado de predição de propriedades, que se baseia em modelos desenvolvidos pelo grupo do LQMC com uma nova tecnologia de fragmentos moleculares especializados.
"Pelo sistema, o pesquisador pode enviar a molécula nova que desenvolveu e nós enviamos a predição das propriedades. Nenhuma base de dados do mundo disponibiliza esse serviço gratuitamente, de forma rápida e eficaz", disse o pesquisador.
Segundo ele, os modelos inovadores incluem a predição de propriedades de absorção intestinal, ligação às proteínas plasmáticas, permeabilidade da barreira hemato-encefálica, solubilidade em água e biodisponibilidade oral.
Desenvolvido com auxílio da FAPESP no doutorado de Tiago Moda, um dos alunos de Andricopulo no LQMC, o modelo de biodisponibilidade oral teve repercussão internacional. Ele foi descrito em artigo na revista Bioorganic & Medicinal Chemistry e foi destaque, em nono lugar, na lista dos 25 melhores artigos da revista em 2007.
"A biodisponibilidade oral humana se refere à fração do fármaco administrado que chega de fato à via sistêmica, isto é, à corrente sangüínea do paciente, onde poderá encontrar seu receptor-alvo e exercer o efeito terapêutico. Por exemplo, no caso do medicamento de maior sucesso de vendas da história - US$ 12,68 bilhões somente em 2007 -, o redutor de colesterol Lípitor, a biodisponibilidade é de 14%. Por isso, é fundamental ter acesso a esses dados na hora de desenvolver um novo medicamento com propriedades otimizadas", disse.
De acordo com Andricopulo, a base de dados permite também que o pesquisador faça uma busca por um fragmento de uma molécula, caso trabalhe com uma molécula que não esteja disponível. "É possível encontrar uma imensa quantidade de moléculas. Mas também se pode encontrar, por meio de um fragmento, as propriedades farmacocinéticas aplicáveis ao caso estudado", destacou.
PK/DB: www.pkdb.ifsc.usp.br

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Tratamento de quimioterapia pode ser amenizado com atividade física

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra que a atividade física pode amenizar os efeitos colaterais do tratamento do câncer. Cientistas descobriram que se o paciente realizar, durante o período de quimioterapia, um programa de condicionamento físico adequado, serão amenizados sintomas como perda ou ganho de peso, náuseas e vômitos.
A atividade física é uma excelente dica para os pacientes com câncer, pois além de diminuir o tempo de recuperação dos enfermos, ela também proporciona menos agressão ao organismo pelos efeitos da medicação.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Casamento reduz risco de depressão e ansiedade

O casamento pode reduzir os riscos de depressão e distúrbios da ansiedade, segundo estudo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia.
O fim do casamento, no entanto, pode representar um grande problema para a saúde mental das pessoas.
De acordo com os pesquisadores, a relação marital oferece muitos benefícios para a saúde mental para homens e mulheres, mas o desconforto e a perturbação associados ao fim do casamento podem fazer as pessoas mais vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos mentais.
A pesquisa, que avaliou mais de 34 mil pessoas de 15 países, mostra que o fim de um casamento, seja pelo divórcio ou por morte do cônjuge, está associado a um aumento nos riscos de distúrbios de saúde mental, com as mulheres sendo mais propensas a abusar de drogas, incluindo álcool e medicamentos, e os homens a se tornarem depressivos.
Os resultados indicaram também que os casados correm menos riscos de problemas com ansiedade e depressão do que os solteiros.
De acordo com a pesquisa, os homens são menos propensos do que as mulheres a terem depressão no primeiro casamento. O casamento reduz, mais entre as mulheres, o risco de abuso de substâncias, pois têm a função cuidadora dos filhos pequenos.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Coração aumentado

Por José Tadeu Arantes

Agência FAPESP – Excesso de hormônio tireoidiano (T3), obesidade, hipertensão e diabetes podem fazer a massa do coração crescer em até 20%, podendo levar à morte.
Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP) descobriu um dos mecanismos pelos quais o T3 atua nesse processo contribuindo para que futuros medicamentos possam ser produzidos para bloquear o crescimento cardíaco.
“Descobrimos que o T3 provoca o crescimento do coração por meio de uma via bioquímica conhecida pela sigla WNT. Quando essa via é inibida, o hormônio não consegue fazer o coração crescer”, disse o biólogo Anselmo Sigari Moriscot, professor associado do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas.
Moriscot coordena o projeto “Papel da beta-catenina na resposta cardíaca promovida pelo hormônio tireoidiano”, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, e o Projeto Temático “Aspectos celulares e moleculares da plasticidade muscular”, entre outros projetos apoiados pela Fundação.
A WNT é classicamente considerada uma via envolvida em proliferação celular. Quando funciona bem, ela é fundamental para a reposição e renovação das células do organismo. Seu funcionamento anormal constitui, porém, uma notória causa do câncer. “Descobrimos que essa via intermedeia também o efeito do hormônio tireoidiano no crescimento do coração”, disse à Agência FAPESP.
A técnica utilizada pela equipe foi a do rastreamento por microarray, uma estratégia de busca avançada que permite mapear o comportamento de aproximadamente 30 mil genes ao mesmo tempo. “O rastreamento por microarray é parecido com uma pescaria de largo espectro. Você lança apenas uma rede e colhe milhares de peixes de uma só vez”, comparou Moriscot.
Por meio do rastreamento por microarray, os pesquisadores conseguiram adquirir as pistas necessárias para identificar a associação entre a via WNT e o T3 no coração.
A pesquisa feita na USP traz a esperança de que, em um futuro próximo, inibidores farmacológicos capazes de interromper o crescimento do coração sejam desenvolvidos.
Mas não se trata de bloquear diretamente a via WNT, porque, possuindo essa uma expressão sistêmica, tal ação provocaria uma série de indesejáveis efeitos colaterais. O aumento da massa cardíaca seria interrompido, mas a capacidade de reposição e renovação celular também ficaria comprometida.
“A tática é atuar diretamente nas proteínas internas das células cardíacas, fazendo com que essas deixem de responder ao estímulo recebido pela via WNT. Essa é a forma de conferir especificidade ao tratamento”, disse Moriscot.
A busca por procedimentos terapêuticos cada vez mais específicos – portanto, com um leque cada vez menor de efeitos colaterais – é uma forte tendência da medicina contemporânea, amparada nos avanços da genômica e da biologia celular e molecular.
A equipe liderada por Moriscot, que reúne três pesquisadores principais, quatro pós-doutores, 12 pós-graduandos e vários estudantes em nível de iniciação científica, atua em pesquisa básica na área de saúde. O desenvolvimento de remédios não faz parte do escopo de atividades do time, mas nada impede que suas descobertas venham a ser aproveitadas por outros grupos de estudiosos e pela indústria farmacêutica.

Alzheimer mais cedo

Agência FAPESP – Cientistas dos Estados Unidos e da Itália identificaram variações genéticas associadas com o desenvolvimento precoce do mal de Alzheimer. O estudo publicado no site e na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
A doença se caracteriza pela presença de anomalias no citoplasma dos neurônios, conhecidas como novelos neurofibrilares, e por placas beta-amilóides duras e insolúveis, que se acumulam entre as células nervosas no cérebro. Esses novelos são compostos de agregados das chamadas proteínas tau.
Estudos anteriores haviam tentado estabelecer uma ligação entre variações na seqüência da proteína tau com o risco de adquirir a doença, mas sem resultados conclusivos.
Agora, o grupo coordenado por John Kauwe, da Faculdade de Medicina da Universidade Washington, em Saint Louis, descreve que certas variantes no gene tau, apesar de não estarem diretamente ligadas com o risco de Alzheimer, podem indicar um desenvolvimento da doença mais cedo do que nos casos típicos.
Os pesquisadores analisaram DNA de 313 pessoas, voltando a atenção especialmente para 21 regiões da proteína tau que variam de pessoa a pessoa.
O grupo verificou que diversas variações nas seqüências estavam associadas com elevados níveis da proteína em fluído cerebrospinal (líquido cefalorraquidiano), mas somente quando acompanhadas da evidência de que as placas beta-amilóides estavam presentes no cérebro, o que, por sua vez, indicava que o voluntário era portador de Alzheimer.
Os autores do estudo sugerem que as pessoas que têm tais variantes estão mais propensas a experimentar um início precoce do desenvolvimento de características associadas à doença, como declínio da capacidade cognitiva e demência.
O artigo Variation in MAPT is associated with cerebrospinal fluid tau levels in the presence of amyloid-beta deposition, de John Kauwe e outros, poderá ser lido em www.pnas.org.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nutrientes desperdiçados

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – A rotina agitada faz com que cada vez mais pessoas optem por alimentos industrializados, o que tem levado a um constante aumento na produção. Com isso, cresce também um problema ainda pouco estudado no país, o desperdício industrial.
Mieko Kimura, professora do Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de São José do Rio Preto, encontrou importantes substâncias nutricionais, chamadas bioativas, nos lixos das empresas.
Os resíduos industriais analisados mostraram ser fontes ricas de carotenoides, compostos fenólicos, fibras e vitamina C, substâncias que poderiam ser aproveitadas pelas indústrias farmacêutica e cosmética e pelo próprio ramo alimentício.
“Descartados, esses resíduos geram ônus para as empresas, que muitas vezes pagam para terceiros fazerem o descarte, além de criar problemas ambientais e aumentar o valor do produto fabricado”, afirmou durante o 8º Simpósio Latino-Americano de Ciência de Alimentos, realizado na semana passada na Universidade Estadual de Campinas.
A pesquisadora recolheu resíduos de pequenas e médias indústrias oriundos de diferentes matérias-primas, como tomate, abóbora e goiaba. Em apenas uma empresa, como resultado do processamento do tomate, Mieko contabilizou o desperdício de 24 quilos de licopeno e cerca de 250 gramas de betacaroteno no período de um mês.
“Parece pouco, mas não é. Basta considerar que 1 miligrama de betacaroteno vale US$ 25 no mercado norte-americano”, apontou. Betacaroteno é uma pró-vitamina que, ao ser processada pelo organismo, auxilia na produção de substâncias nutricionais importantes, especialmente a vitamina A. A triste ironia, lembra, é que muitas empresas de alimentos compram pró-vitaminas para enriquecer os seus produtos.
Mieko listou vários fatores que têm estimulado o aumento do consumo de alimentos industrializados, entre os quais o fato de os vegetais in natura serem mais perecíveis em contraponto ao período de validade dos industrializados, maior devido ao uso de conservantes.
Também há o problema da falta de tempo para preparar os alimentos e a melhora da qualidade sensorial, ou seja, no gosto dos produtos industrializados. “Esses fatores têm feito a produção crescer bastante, em especial a de sucos prontos, que está entre os ramos que mais têm prosperado”, disse.
Como solução para o desperdício, a professora da Unesp preconiza a pesquisa científica no setor. “Precisamos incentivar os estudantes a trabalhar com resíduos industriais”, afirmou.
Segundo Mieko, o Brasil tem perdido recursos valiosos nos processos industriais de alimentos. Se a fábrica está tomando cada vez mais o papel do consumidor na hora de espremer um suco, fazer uma compota de doce ou extrair molho de tomate, ela também deve investir no aproveitamento total das matérias-primas para que todos saiam ganhando.

Café e chá ajudam na prevenção de diabetes

O consumo de café e chá pode reduzir os riscos de desenvolver diabetes tipo 2, segundo uma revisão de estudos publicada na revista Archives of Internal Medicine.
A cafeína não é a principal responsável por essa proteção, já que o café descafeinado apresentou os maiores efeitos nessas pesquisas avaliadas.
A pesquisa, que avaliou 18 estudos independentes, num total de 500 mil pessoas, mostrou que pessoas que tomam de três a quatro xícaras de café ou chá diariamente têm reduzidos em um quinto ou mais seus riscos de desenvolver diabetes.
O consumo da mesma quantidade de café descafeinado foi associado a efeitos ainda maiores, reduzindo o risco em até um terço. A cada xícara de café consumida, há redução de 7% nas chances de ter a doença.

Substância cancerígena tem atuação desvendada

Agência FAPESP – A aflatoxina, substância tóxica produzida por alguns tipos de fungos em nozes, amendoim e outras sementes oleosas, pode causar câncer do fígado se ingerida em grandes quantidades, reforça estudo feito nos Estados Unidos e publicado na revista Nature.
O novo estudo revela o processo por meio do qual ocorre esse papel cancerígeno, o que pode levar ao desenvolvimento de métodos de controle. Segundo a pesquisa, a toxina destrói um gene que atua na prevenção de câncer em humanos, conhecido como p53.
O trabalho aponta que, sem a proteção do p53, a aflatoxina pode comprometer a imunidade, interferindo com o metabolismo e causando grave desnutrição e, finalmente, câncer.
Shiou-Chuan (Sheryl) Tsai, da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), e colegas da mesma instituição e da Universidade Johns Hopkins descobriram também que uma proteína chamada PT é fundamental para que a aflatoxina se forme em fungos. Até então, não se sabia o que disparava o crescimento da toxina.
“A proteína PT é a chave para fazer o veneno. Com esse conhecimento, talvez possamos combatê-la com drogas, inibindo a capacidade do fungo de fazer a aflatoxina”, disse Sheryl.
Destruir o fungo é o método tradicional de descontaminação, mas se trata de um processo caro. Eliminar a proteína seria uma alternativa muito mais eficiente.
“Essa descoberta levará a um aumento no conhecimento de como a aflatoxina causa câncer de fígado em humanos. Ela deverá permitir o desenvolvimento de inibidores e de, assim esperamos, uma nova abordagem de prevenção química contra essa doença mortal”, disse Frank Meyskens, diretor do Centro de Pesquisa do Câncer da UCI.
O estudo aponta que, por causa da legislação insuficiente, cerca de 4,5 bilhões de pessoas em países em desenvolvimento estão criticamente expostas a alimentos com grandes quantidades de aflatoxina, em alguns casos centenas de vezes as quantidades consideradas seguras.
Em países como China, Vietnã e África do Sul, a combinação de aflatoxina com a exposição ao vírus da hepatite B aumenta os riscos de ocorrência de câncer de fígado em 60 vezes.
“É realmente chocante como esses fungos podem afetar a saúde pública”, disse Sheryl. A aflatoxina forma colônias e contamina grãos antes da colheita ou durante a estocagem. A Food & Drug Administration do governo norte-americano considera inevitável a contaminação de alimentos por essa toxina, mas estipula limites toleráveis.

Viver mais sem comer menos

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP– Na década de 1930, cientistas demonstraram que uma dieta com poucas calorias retardava o envelhecimento, aumentando a longevidade dos animais. Agora, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram promover em camundongos os mesmos efeitos benéficos da dieta de restrição calórica sem precisar diminuir a quantidade de alimento.
A estratégia consistiu em tratar os animais com uma droga que diminui o aproveitamento energético das mitocôndrias. Além de aumentar em cerca de 10% a longevidade, o tratamento reduziu os índices ligados à síndrome metabólica – o conjunto de fatores de risco cardiovascular que inclui diabetes, hipertensão arterial, distúrbios lipídicos e obesidade.
O estudo, coordenado por Alicia Kowaltowski, professora do Departamento de Bioquímica da USP, foi publicado no site e em breve sairá na edição impressa da revista Aging Cell.
A mitocôndria é uma organela celular que, com o uso do oxigênio da respiração, converte a energia dos alimentos em energia química, ou trifosfato de adenosina (ATP), vital às atividades celulares.
De acordo com Alicia, a estratégia utilizada se baseou no mecanismo conhecido como desacoplamento mitocondrial. "O desacoplamento consiste em diminuir a síntese de ATP mantendo a mesma quantidade de alimento", disse à Agência FAPESP. O estudo tem apoio da FAPESP na modalidade Projeto Temático.
Segundo a cientista, para sintetizar o ATP, a mitocôndria gera um gradiente de prótons – isto é, fica mais positiva do lado de fora do que em seu interior. Esse gradiente serve como fonte de energia para a síntese de ATP.
"A droga que utilizamos, o dinitrofenol, diminui esse gradiente de prótons, deixando que alguns deles voltem para dentro da mitocôndria sem que haja síntese de ATP", explicou.
O dinitrofenol é conhecido há muito tempo e, na década de 1930, já era utilizado como droga para o emagrecimento. Mas, apesar de eficaz, seu uso causava controvérsias, uma vez que a dose terapêutica estava muito próxima da dose tóxica.
"O que fizemos foi utilizar o dinitrofenol em uma dose muito menor para mostrar que a diminuição do aproveitamento de energia da mitocôntria é capaz de prevenir os efeitos do envelhecimento", afirmou Alicia.
O estudo teve participação da professora Marisa Medeiros e das estudantes Camille Caldeira da Silva, Fernanda Cerqueira e Lívea Barbosa, que realizaram os experimentos.
Segundo Alicia, o grupo já havia realizado um estudo semelhante, em 2004, em um modelo de envelhecimento de leveduras. "A partir daquele estudo em células in vitro resolvemos testar a estratégia em animais", disse.
O objetivo da pesquisa foi mimetizar os efeitos de uma dieta de restrição de calorias para diminuir o aproveitamento energético, mas sem reduzir a quantidade de comida ingerida.
"Assim como os humanos, os camundongos tendem a engordar quando envelhecem. Os que foram tratados com o dinitrofenol, no entanto, ganharam menos peso à medida que envelheciam, apesar de comerem a mesma quantidade do que os outros", afirmou.
O ganho de peso, segundo a pesquisadora, está associado ao aumento dos níveis de glicemia, triglicérides e insulina, características da síndrome metabólica. "Nos camundongos submetidos à estratégia todos esses indicadores estavam diminuídos."


Lesões por radicais livres
Segundo a professora do Departamento de Bioquímica da USP, o estudo não pretende sugerir o dinitrofenol como opção terapêutica, devido a seus efeitos tóxicos. "A idéia foi demonstrar que a manipulação das funções da mitocôndria é muito eficaz para controlar o envelhecimento e o ganho de peso", disse.
O estudo demonstrou também que a estratégia é eficiente para diminuir as lesões provocadas por radicais livres – outra das causas do envelhecimento.
"À medida que envelhecemos, acumulamos lesões por radicais livres nas moléculas. Sabemos que a restrição calórica diminui a geração de radicais livres na mitocôndria, diminuindo também essas lesões. Comprovamos que o tratamento com o dinitrofenol também é eficiente para diminuí-las, configurando uma estratégia antioxidante muito mais eficaz que o uso de vitaminas, por exemplo", disse.
Um dos objetivos do grupo, a partir de agora, é modificar o dinitrofenol para gerar novas drogas que possam ser utilizadas para o desacoplamento mitocondrial.
"Outra possibilidade é ativar vias naturais de desacoplamento presente nas mitocôndrias, como os canais para potássio, ou certas proteínas desacopladoras. Uma droga que ativasse essas vias seria muito interessante para promover, sem depender de nenhuma proteína, os efeitos que conseguimos produzir quimicamente", destacou.
Alicia salienta que a FAPESP acaba de aprovar novo pedido de bolsa de pós-doutorado para o Projeto Temático que coordena, de modo a dar continuidade a essa linha de pesquisa. "Estou selecionando candidatos. Além de continuar essa pesquisa aplicada, com fins farmacêuticos, queremos estudar os mecanismos e os processos celulares envolvidos no envelhecimento", disse.

Transcriptoma do diabetes será mapeado

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – A cada ano, 7 milhões de pessoas desenvolvem diabetes e se somam aos mais de 250 milhões que sofrem da doença no mundo, de acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema já é considerado uma epidemia que tende a afetar principalmente os países em desenvolvimento.
Um passo importante para a compreensão das bases moleculares dessa enfermidade foi dado em setembro, quando pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo iniciaram o Projeto Temático “Controle do transcriptoma no diabetes mellitus”, apoiado pela FAPESP.
“O transcriptoma é o conjunto dos RNAs [ácido ribonucleico] da célula, incluindo os RNAm e os microRNAs. O objetivo de sua análise é descobrir como e quando os genes funcionam. É uma espécie de 'fisiologia genética', explicou o professor Geraldo Passos, coordenador do projeto.
Segundo ele, ao saber como um gene atua numa doença, poderemos pensar em desenvolver drogas específicas para tentar atenuar sua expressão, se for o caso. Ou, por outro lado, estimular a expressão de outros genes na tentativa de controlar a manifestação da doença.
Formada pelos professores Elza Sakamoto Hojo e Eduardo Antonio Donadi, além de alunos de pós-graduação, a equipe de Passos terá um longo trabalho pela frente.

Semelhanças e diferenças

A pesquisa começou com a seleção de pacientes dos três tipos de diabetes (DM-1, DM-2 ou DMG). Essa fase é supervisionada pelos médicos Milton César Foss e Maria Cristina Foss-Freitas, do Hospital das Clínicas da FMRP.
Das mostras de sangue periférico coletadas desses pacientes serão separados os linfócitos, nos quais se encontram os RNAs. A equipe então aplicará a técnica de microarrays para avaliar a expressão gênica da amostra incluindo os RNAm e os microRNAs.
A enorme quantidade de dados obtidos será então processada por softwares de bioinformática. Outro detalhe da pesquisa é que o material humano será comparado ao de camundongos NOD, que possuem semelhança genética significativa com o ser humano e também desenvolvem o diabetes do tipo 1 (DM-1).
“Há tipos de estudos que só podem ser feitos nos camundongos. Um gene ligado à doença pode iniciar sua manifestação na fase fetal, por exemplo, o que só podemos analisar nos animais”, explicou Passos.
O grande diferencial desse projeto, de acordo com o coordenador, é o fato de ele analisar simultaneamente os três tipos de diabetes: DM1 (de caráter autoimune e herdado geneticamente), DM2 (provocado por hábitos como ingestão de calorias em demasia e sedentarismo) e DMG (ou diabetes gestacional, desenvolvido pela mulher durante a gravidez).
Com isso, será possível levantar semelhanças e diferenças na expressão gênica nos três tipos da doença, dando uma visão mais ampla do diabetes, do ponto de vista genético.
“Trata-se de um ramo de pesquisa que depende de altos investimentos, pois exige equipamentos importados de última geração que conseguimos graças ao apoio da FAPESP”, salientou Passos.
O Projeto Temático para estudar o transcriptoma do diabetes vai até 2013 e é, em parte, continuação de outro Temático da FAPESP, o “Projeto transcriptoma: análise da expressão gênica em larga escala usando DNA-arrays”, que a mesma equipe trabalhou de 2001 a 2005 e avançou o conhecimento do grupo nesse tipo de análise funcional do genoma em doenças complexas.

Risco precoce

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Com as mudanças nos hábitos de vida, como alimentação inadequada e ausência de atividade física regular, cada vez mais crianças e adolescentes estão sujeitos à aterosclerose, de acordo com uma pesquisa feita na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O estudo, publicado na Revista Paulista de Pediatria, constatou valores alterados de colesterol, LDL-colesterol ("colesterol ruim") e triglicérides, respectivamente, em 44%, 36% e 56% das crianças de 2 a 9 anos avaliadas. A alteração apareceu em 44%, 36% e 50% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos.
A pesquisa envolveu 1.937 crianças e adolescentes de 2 a 19 anos, de ambos os sexos, de diferentes classes socioeconômicas, atendidos nos ambulatórios do Hospital de Clínicas da Unicamp, no período de 2000 a 2007.
De acordo com a autora principal do estudo, Eliana Cotta de Faria, professora da FCM da Unicamp, o objetivo era estabelecer a prevalência de dislipidemias, o aumento anormal da taxa de lipídios no sangue, em uma amostra populacional brasileira ambulatorial de crianças e adolescentes.
Segundo ela, a dislipidemia nessa faixa etária está cada vez mais prevalente, provavelmente devido às mudanças nos hábitos alimentares, à obesidade e ao sobrepeso associados à redução na prática de atividades físicas regulares com o estabelecimento de vida sedentária.
"Deve-se sempre enfatizar que existe uma associação entre fatores ambientais e genéticos na etiologia das dislipidemias. Outro aspecto a destacar é o fato de o estudo ter envolvido uma amostra populacional que procurou o serviço hospitalar, o que naturalmente seleciona os casos que espelham a realidade da população geral", disse à Agência FAPESP.
A pesquisadora afirma que diversos estudos demonstram que a doença arterial coronariana (DAC) se inicia na infância de forma silenciosa, progredindo significativamente com o decorrer dos anos. "O diagnóstico precoce da dislipidemia, cada vez mais freqüente em crianças e adolescentes, é essencial para a prevenção dessa doença, especialmente quando existem na família antecedentes de fatores de risco para a DAC", salientou.
Os índices encontrados podem ser explicados tanto por fatores ambientais como genéticos. Pode ocorrer uma associação entre fatores ambientais e genéticos na etiologia das dislipidemias. Em alguns casos, existem deficiências genéticas familiares em enzimas, proteínas e receptores celulares responsáveis pelo catabolismo dos lípides e lipoproteínas circulantes, o que leva a graves elevações de suas concentrações e que constituem as dislipidemias primárias que são independentes dos fatores ambientais.
"Em crianças, pode ocorrer o quadro grave de pancreatite aguda secundária à elevação de triglicérides. Ressalto que o tratamento e acompanhamento medicamentoso, nessa faixa etária, devem ser reservados aos casos muito graves, aqueles com complicações, e os sem resposta ao tratamento inicial de mudanças de estilo de vida, pois a experiência maior na literatura com os fármacos hipolipemiantes se restringe a adultos", afirmou Eliana.
Os resultados apontaram ainda uma combinação de vários problemas como aumento do colesterol total (hipercolesterolemia), aumento de triglicérides (hipertrigliceridemia) e redução da HDL-colesterol (hipoalfalipoproteinemia, o "colesterol bom"), a lipoproteína que retira colesterol dos tecidos e leva para o fígado para excreção biliar.
"A combinação desses resultados demonstrou a gravidade do problema e um aumento do risco de desenvolver DAC, pois, além de a criança ter uma elevação nos níveis de colesterol e triglicérides, ela tem uma redução da HDL", disse Eliana.
A pesquisadora da Unicamp ressalta que a prevalência da síndrome metabólica (dislipidemia, obesidade e glicose alta) em crianças e adolescentes cresceu muito na última década com aumento nas taxas de sobrepeso e obesidade em crianças entre 2 e 5 anos.


Hábitos saudáveis
Há poucos estudos sobre a prevalência de dislipidemias entre crianças e adolescentes no país, segundo a autora. Os estudos são raros, mas a maioria demonstra alta taxa nessa faixa etária. "Como não é comum a análise do perfil lipídico no sangue entre crianças e adolescentes, poucos centros têm uma amostragem significativa para a realização de um estudo como este", disse Eliana.
De acordo com a professora da FCM, o estudo prosseguirá com a avaliação dos lípides circulantes de diferentes comunidades de crianças e adolescentes na região e no país para quantificar o impacto sobre eles da condição socioeconômica, dos hábitos alimentares e de atividade física sobre o perfil lipídico.
"Precisamos implantar programas educacionais nas escolas que enfatizem a importância de hábitos alimentares saudáveis, abolir a obesidade e sobrepeso e da prática de atividades físicas regulares, além de proceder às análises periódicas dos lípides sangüíneos sempre que houver um ou mais fatores de risco cardiovasculares associados e procurar orientação médica especializada para tratamento quando necessário", destacou.

Problema moderno e antigo

Agência FAPESP – Um grupo internacional de cientistas descobriu que problemas cardiovasculares eram conhecidos dos antigos egípcios, indicando que é preciso olhar além dos fatores de risco modernos para compreender adequadamente as doenças do coração.
Os pesquisadores identificaram a formação de arteriosclerose em múmias com cerca de 3,5 mil anos. O endurecimento da parede arterial, causada pelo depósito de gordura, cálcio ou outras substâncias na parede das artérias, pode provovar infarto ou derrame.
O estudo foi apresentado em reunião da American Heart Association em Orlando, nos Estados Unidos, por Randall Thompson, professor de medicina do Mid America Heart Institute.
O grupo usou tomografia computadorizada para examinar em raio X 20 múmias do Museu de Antiguidades Egípcias, no Cairo. As múmias datam de 1981 a.C. a 364 d.C.
Os cientistas encontraram evidência de vasos sanguíneos e de tecido do coração em 13 múmias. Em quatro, o coração estava intacto. O grupo confirmou em três delas sinais inequívocos de arteriosclerose, com outras três consideradas como prováveis portadoras de endurecimento arterial.
Segundo o estudo, a calcificação se mostrou significativamente mais comum em múmias de indivíduos que morreram com idade estimada de 45 anos ou mais. Não foi verificada diferenças no endurecimento nas artérias entre homens e mulheres.
Da múmias analisadas, a mais antiga com arteriosclerose morreu entre 1570 a.C. e 1530 a.C. De acordo com o grupo, o trabalho é novo indicador de que a doença não é exclusiva do homem moderno, uma vez que se fazia presente há mais de 3 mil anos.

Anti-inflamatório laser

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Um estudo realizado por um grupo internacional de cientistas, com participação brasileira, demonstrou que a terapia com laser de baixa potência é altamente eficaz para o tratamento de dores de pescoço causadas por lesão muscular.
A pesquisa, que foi publicada no site da revista médica The Lancet – e sairá em breve na edição impressa –, consistiu em uma revisão sistemática e uma metanálise de 16 ensaios controlados realizados com mais de 800 pacientes.
De acordo com um dos autores, Rodrigo Lopes Martins, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), o laser de baixa potência é uma terapia não invasiva que, por não causar dor ou efeitos colaterais, pode ser uma boa alternativa para substituir os tratamentos com drogas anti-inflamatórias.
“No estudo, trabalhamos especificamente com a dor cervical, mas os dados obtidos indicam que a terapia é clinicamente eficaz para o tratamento de qualquer dor miofascial – isto é, decorrente de lesões musculares causadas por traumas”, disse à Agência FAPESP.
Para dar continuidade às pesquisas que geraram o artigo, Martins, que é chefe do Laboratório de Farmacologia e Terapêutica Experimental do ICB, recebeu apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. O projeto, intitulado “Efeito da terapia laser de baixa potência na lesão muscular induzida por estiramento passivo em ratos”, teve início em setembro.
Segundo Martins, a comprovação da eficácia do laser de baixa potência no tratamento de dores musculares é um passo importante para que a terapia seja adotada, no futuro, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), substituindo o uso de fármacos e resultando em uma considerável economia.
“Só com o tratamento dos efeitos adversos causados pelas drogas anti-inflamatórias, os Estados Unidos gastam mais de US$ 25 bilhões ao ano, de acordo com dados divulgados em 2004. A adoção em grande escala de uma terapia sem esses efeitos colaterais seria uma economia imensa”, afirmou.
Martins explica que, apesar da comprovação da eficácia da terapia, ainda há dúvidas sobre o mecanismo de ação do laser de baixa potência, embora existam cerca de 5 mil artigos sobre o assunto na literatura científica internacional.
“Ainda não desvendamos o mecanismo de ação e estamos investindo muito nisso. No entanto, o uso clínico vem sendo feito há alguns anos, em especial na área de odontologia, além de ortopedia e fisioterapia. Mesmo assim, acreditamos que, com a comprovação da eficácia da terapia, ela poderá ter seu uso expandido, inclusive sendo adotada pelo SUS”, disse Martins, que é secretário científico da Associação Mundial de Terapia Laser.
O investimento no equipamento, explica, é feito uma única vez – diferentemente do que ocorre com os medicamentos – e a terapia pode ser utilizada até mesmo em centros de baixa complexidade como as Unidades Básicas de Saúde, contanto que seja feito um treinamento mínimo.
Além de Martins, participaram do estudo pesquisadores da Noruega, Austrália e Inglaterra. O grupo avaliou 16 ensaios randômicos – que totalizavam 820 pacientes – comparando à aplicação de um placebo a eficácia do laser de baixa potência para tratamento da dor cervical.
Os dados mostraram que, na maioria dos casos, a terapia reduziu a dor imediatamente após o tratamento da dor cervical aguda e em até 22 semanas depois do início do tratamento em pacientes com dor cervical crônica.
O artigo na The Lancet, segundo Martins, não é uma revisão simples da literatura sobre a terapia com laser de baixa potência. Trata-se de uma revisão sistemática com metanálise de estudos clínicos considerados de alto padrão. Por conta disso, o estudo fornece aos médicos um suporte decisivo para utilização clínica.
“Demonstramos que todos esses estudos efetivamente comprovam que a terapia funciona. Para isso, usamos um procedimento sistemático de revisão de artigos, descartando os que não se encaixavam em padrões rigorosos. Era preciso ter escolha aleatória de pacientes e comparação com um grupo de placebo, por exemplo, para que cada estudo fosse aceitável”, explicou.
Uma vez selecionados os artigos, os autores realizaram testes estatísticos a fim de garantir a homogeneidade das amostras utilizadas nos estudos clínicos de base. “Comprovando a homogeneidade de diversos estudos, pudemos somar o número de voluntários em cada um deles para avaliar a probabilidade de eficácia da terapia. Com isso, ganhamos um poder estatístico de evidência muito grande”, afirmou Martins.