terça-feira, 1 de dezembro de 2009

“Morte tratada como ofensa”

"Mas que morte vivemos hoje?" Foi este o mote lançado pelo procurador Manuel Cardoso, á poucos dias, no debate ‘A Ética: a Vida na Morte’, promovido pela Comissão de Ética para a Saúde (CES) do Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco.
A dicotomia entre a vida e a morte e a responsabilidade partilhada do acto médico estiveram em destaque numa conferência que contou a presença do médico João Lobo Antunes, de Maria do Céu Machado (alta-comissária para a Saúde) e de Walter Osswald (presidente da Comissão de Bioética da Universidade do Porto). Os três consideram que a eutanásia e a morte assistida só devem ser discutidas "quando houver uma rede de cuidados paliativos".
O cirurgião Lobo Antunes verteu para os assistentes muitas dúvidas sobre alguns "dilemas éticos difíceis de resolver".
Salientou que o envelhecimento "é um grande problema de saúde", e que os médicos são hoje confrontados "com os genuinamente doentes e com os preocupados saudáveis". Para o especialista, o debate ético tem de ser feito "com muita responsabilidade", porque a medicina de hoje é "mais difícil, complicada, arriscada, perigosa e poderosa".
Maria do Céu Machado, pediatra, referiu-se à ética no início da vida e abordou casos reais de situações de crianças que nasceram com problemas de saúde e outras vítimas de maus tratos.
A Walter Osswald coube "valorizar" o conceito da morte. "No ano passado, 52 por cento das mortes ocorreram em ambiente hospitalar e, muitas delas, em situações miseráveis. Tapam as cortinas, tentam ocultar a morte. Trata-se dela como uma ofensa, de forma pornográfica", referiu o presidente da Comissão de Bioética e professor universitário, acrescentando que "as pessoas têm de se consciencializar que uma maneira de ter uma boa morte é ter uma boa vida."

Luís Oliveira

Sem comentários: