domingo, 26 de outubro de 2008

TESTAMENTOS EM VIDA E SUICIDIO ASSISTIDO

No dia 12 de Setembro, um jovem inglês de 23 anos de idade, de seu nome James, pôs termo à vida numa clinica suíça onde se pratica a eutanásia. Jogador de râguebi, vira uma mêlêe desabar sobre si. As suas vértebras cervicais foram deslocadas e passaram a prender a medula espinal. Ficou, assim imediatamente, paralisado do pescoço para baixo.
Até à sua ida para a Suíça já tentara suicidar-se diversas vezes. Não estava preparado para uma ‘vida de segunda’ e sentia o corpo como uma ‘prisão’. Os pais, Mark e Julie, acompanharam-no na sua viagem.
A semana passada a policia inglesa tornou publico o facto de ter aberto um inquérito relativamente à morte de James. Em causa está a eventual prática do crime de suicídio assistido existente na legislação inglesa e que prevê que os auxiliares do suicida possam ser condenados numa pena de prisão até 14 anos. Segundo a policia, já tinham sido ouvidas duas pessoas e iria ser entregue um relatório ao Ministério Publico.
Na nossa terra, a situação está prevista no artigo 135º do Código Penal, que pune com a pena de prisão até três anos ‘quem incitar outra pessoa a suicidar-se, ou lhe prestar ajuda para esse fim (...) se o suicídio vier efectivamente a ser tentado ou a consumar-se.
A questão que se propõe é simples: poderão/deverão aqueles pais ser perseguidos criminalmente? Aquilo que eles praticaram, acompanhando o filho na sua decisão, foi um crime ou um acto sobre-humano de amor e de razão? Creio que seria um bom exercício imaginamos o que aquela mãe e aquele pai terão passado até se decidirem a acompanhar a decisão do filho. Há que aguardar pelo bom senso, ou pela falta dele, por parte das autoridades britânicas.
Mas a eutanásia não está na ordem do dia no nosso país e a morte raramente é bem-vinda, mesmo como tema de conversa. No entanto, ela sempre comparecerá e não seria mal para os cidadãos que algumas coisas estivessem mais organizadas. Uma das questões que é necessário tratar na nossa sociedade respeita à divulgação de ‘testamentos em vida’ (living Will) ou ‘testamento de paciente’ ou, ainda, ‘testamento biológico’.
Estes documentos, praticamente desconhecidos no nosso país, mas muito divulgados nos EUA, permitem que enquanto estamos sãos de corpo e de espírito possamos decidir o que queremos como tratamentos médicos quando já não estivermos em condições de o dizer. Se, se encontrar em estado vegetativo persistente, quer ser ventilado e alimentado artificialmente? Quanto tempo? Quer ser ressuscitado? Quer prolongar a sua estadia no hospital? Quer ir para sua casa e aí morrer?
O nosso Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) produziu um parecer, em 2005, sobre o estado vegetativo persistente. O documento é um parecer em aberto, que opta por não definir regras, embora afirme alguns princípios, mas termina por considerar que ‘não poderão ser aplicadas soluções uniformes às pessoas em estado vegetativo persistente, impondo-se, pois, uma avaliação criteriosa em cada situação.
Mas o parecer afirma também que a ‘pessoa em estado vegetativo persistente tem direito a cuidados básicos, que incluem a alimentação e hidratação artificiais’, e que ‘toda a decisão sobre o inicio ou a suspensão’ desses cuidados ‘deve respeitar a vontade do próprio’. Mais afirmou o CNECV que essa vontade ‘pode ser expressa ou presumida ou manifestada por pessoa de confiança’ previamente por si designada.
Isto é, a vontade da pessoa em estado vegetativo persistente é central na tomada de decisões sobre o prolongamento dos tratamentos médicos e da sua própria vida. ora, a manifestação da vontade, enquanto se está são, é, posteriomente, determinante na tomada de decisões, pelo que é de toda a conveniência que a mesma esteja registada por escrito.
É certo que o CNECV entende que não podem ‘ser aplicadas soluções uniformes’ e deixa à equipa médica e à família a tarefa de descobrirem a solução, o que até funciona bem em alguns casos. Mas quantas angústias não se poupariam se estivesse divulgado o ‘testamento em vida’?
O CNECV bem podia elaborar um modelo dos testamentos em vida que cobrisse as diversas situações possíveis, nomeadamente a situação de doença terminal ou estado vegetativo persistente e o tipo de cuidados7tratamentos recusados e promover a sua divulgação.
Em 2002, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) pronunciou-se, no caso Pretty contra Reino Unido, sobre a existência deste ‘direito a morrer’ para concluir que tal direito não resulta da Convenção Européia dos Direitos do Homem (CEDH), não condenando o Reino Unido. Dianne Pretty tinha 44 anos e sofria de uma doença degenerativa muscular sem cura, já se encontrando numa fase avançada da mesma, quase integralmente paralisada e pretendendo ser ela a decidir da dignidade da sua própria morte, pediu ‘imunidade’ para o seu marido do crime de suicídio assistido, já que a teria de auxiliar a pôr termo à vida. Mas as autoridades britânicas recusaram o pedido e Pretty recorreu ao TEDH, mas, embora reconhecendo que havia muitas questões controversas que se levantavam com a impossibilidade de escolher o seu momento da morte, o TEDH não descobriu nenhuma violação da CEDH.

‘Francisco Teixeira da Mota’

Cientistas criam próstata com células estaminais

Cancro. Investigadores norte-americanos conseguiram

isolar as células estaminais da próstata de ratos, transplantando-as para criar novas glândulas. Esta pesquisa permitirá estudar como as células são capazes de crescer indefinidamente e como se pode travar esse crescimento
A primeira próstata fabricada a partir de células estaminais já é uma realidade. Pelo menos nos ratos do laboratório da empresa norte-americana Genetech. De acordo com o último número da revista Nature, a detecção de células estaminais na próstata dos animais possibilitou a posterior regeneração total da glândula. Os resultados do estudo poderão ser mais um passo no combate ao cancro da próstata.

Arnaldo Figueiredo, professor de Urologia na Faculdade de Medicina de Coimbra, explica a importância desta investigação: "Uma das vantagens é conseguir desenvolver um modelo experimental da próstata num rato. É um modelo em que se pode perceber como estimular ou inibir o órgão, desenvolver fármacos e fazer a respectiva translação para o humano." Como o cancro da próstata é decorrente de um desenvolvimento anormal de tecido, conseguir fazer crescer uma próstata dá a possibilidade de reproduzir os mecanismo do cancro e, eventualmente, compreender como se pode travar a multiplicação desregulada das células.

Para este primeiro passo, que é fazer crescer uma próstata, os investigadores procuraram identificar quais as células estaminais da glândula. Estas células caracterizam-se pela sua grande facilidade em dividir-se e em transformar-se em qualquer tecido do corpo humano que tenha sido danificado ou que precise de se desenvolver. Compreendendo a importância destas células, os cientistas procuraram encontrar um marcador que as distinguisse das outras células da próstata. Deste modo, seria possível reutilizá-las para compreender a formação de tecidos.

Segundo refere Wei-Qiang Gao, um dos responsáveis pela experiência, um estudo recente já sinalizara que as regiões da próstata do rato próximas da uretra podiam constituir um "nicho de células estaminais". De forma a perceberem que marcadores específicos se concentravam ali com maior prevalência, compararam as células desta zona com as das outras regiões, identificando um elemento biológico chamado CD117. A expressão deste marcador "está especialmente evidenciada na zona próxima da uretra e os seus níveis aumentam depois de uma castração química induzida. Duas características que indicam tratar-se de células estaminais adultas", refere o documento da investigação, citado pelo jornal espanhol El Mundo.

Ainda para provar que estas células podiam transformar-se em novos órgãos, os especialistas misturaram as células estaminais num gel com células do estroma de ratos, capazes de auxiliar o crescimento dos tecidos. Quando o preparado foi introduzido no fígado de ratos, regenerou-se num tecido prostático funcional.

Também ao transplantarem uma única célula estaminal para os ratos, os cientistas conseguiram observar o crescimento de uma nova próstata. Concretamente, a partir de 97 células estaminais implantadas individualmente, a equipa conseguiu gerar 14 próstatas nas cobaias. De acordo com o El mundo, Gao qualificou o trabalho como "um avanço espectacular na investigação de células estaminais".

Porém, o estudo de células estaminais funcionará mais como um modelo do funcionamento do cancro da próstata do que como qualquer forma de cura. De facto, as células estaminais são normalmente tidas em conta "pelo seu uso no conceito de regeneração de tecidos. Mas no caso da próstata não é a sua recuperação que está em causa", salienta Arnaldo Figueiredo.

Mesmo que a descoberta esteja longe de poder reproduzir-se em humanos, como advertem os próprios investigadores na revista Nature, abrem-se novos caminhos para a compreensão de como estas células são capazes de se auto-renovar indefinidamente.

Por outro lado, a evolução do tratamento do cancro da próstata tem conseguido um grande aumento da sobrevida e a comunidade científica não pára de investigar.


'Sara Gamito'

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Caos na linha Saúde 24

Oito supervisores do Saúde 24, fundadores da linha de atendimento telefónico 808 24 24 24, escreveram uma carta à ministra da Saúde denunciando o "caos organizativo" em que caiu o serviço e pedindo a Ana Jorge uma intervenção rápida, para bem dos utentes.

Falhas constantes no sistema, decisões tomadas apenas para ganhar mais dinheiro, erros nos contactos com os utilizadores, mudanças diárias "arbitrárias", mau ambiente e perseguições internas aos enfermeiros que não concordam com as decisões. A lista de problemas é extensa e, dizem os subscritores da carta, culmina numa "crescente insatisfação" da maioria dos utilizadores.

Ano e meio depois de o serviço ser lançado, em parceria público-privado, a gestão do Saúde 24 feita pela empresa LCS é arrasada numa carta com 15 pontos. Os enfermeiros dizem que "a plataforma de atendimento falha todos os dias e chega a estar várias horas inoperacional. Os utentes ligam e não são atendidos". A comunicação com as unidades de saúde "também falha frequentemente" e "a fragilidade da plataforma tecnológica põe em causa a resposta em situações de emergência", porque o serviço deixa de conseguir comunicar com o INEM.

Mas os problemas não se ficam por aqui. A empresa é acusada de alterar as regras dos contactos com os doentes para poder cobrar mais dinheiro. Como a Direcção-Geral da Saúde não paga os reencaminhamentos (informações adicionais de esclarecimento depois de um doente já ter sido atendido), estes foram "proibidos". Se um utente voltar a ligar com uma dúvida simples, é novamente submetido a uma triagem e tem de responder de novo ao questionário inicial.

Nas transferências para o INEM, em caso de emergência, "o director do centro de atendimento pediu aos supervisores para serem feitas de imediato, mesmo antes de qualquer avaliação mínima da real necessidade do utente". Porquê? "Porque o Estado só paga se 95% das chamadas forem tratadas e transferidas em menos de dez minutos". Mais: "A administração tem tomado decisões sobre o processo de triagem que não parecem fundamentadas em qualquer critério clínico ou de melhoria de serviço", mas que "parecem ser relevantes para a execução financeira e motivadas exclusivamente por isso".

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Como funcionava antes?

Havia várias linhas especializadas de atendimento telefónico que funcionavam na esfera da Direcção-Geral da Saúde. Entre elas, a linha pediátrica Dói Dói Trim Trim e a Linha de Saúde Pública.

Como surgiu o Saúde 24?

Lançado há 17 meses, o Saúde 24 (808 24 24 24) foi uma das apostas do Ministério da Saúde para a reforma do Serviço Nacional de Saúde, herdado do anterior Governo e adjudicado em 2004. Centralizou as várias linhas que existiam. Serve para prestar atendimento telefónico em caso de doença e libertar as Urgências das situações que não são urgentes. Foi apresentado como uma peça fundamental para criar uma alternativa ao fecho de SAP e de Urgências.

Quem explora a linha?

É um serviço público explorado por um grupo privado que ganhou um concurso público em 2004 – A Linha de Cuidados de Saúde LCS, SA, do grupo Caixa Geral de Depósitos.

Que tipo de serviços presta?

Funcionando 24 horas por dia com enfermeiros com formação específica, faz triagem, aconselhamento e encaminhamento. Esclarece dúvidas de doentes, encaminha-os para as unidades de saúde, caso necessário, dá conselhos sobre medicamentos e facilita o acesso a informação e aos serviços de saúde.

Quantas pessoas já atendeu?

O balanço feito ao fim de um ano aponta para 125 mil horas de atendimento e mais de 106 mil idas a uma Urgência evitadas.

MINISTÉRIO DIZ QUE ESTÁ TUDO BEM

O Ministério da Saúde responde às denúncias de alerta feitas pelos supervisores do Saúde 24 saindo em defesa da empresa concessionária. Em esclarecimentoà carta dirigida à ministra Ana Jorge, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) – que supervisiona o contrato – diz não ter dados que mostrem o descontentamento dos utentes em relação ao serviço.

"Afigura-se importante esclarecer que a linha está em pleno funcionamento. Como entidade pública contratante, a DGS promove auditorias e outras acções de monitorização" e "não registou ocorrências por parte dos utilizadores que possam comprometer o bom desempenho do serviço." A relação entre as chamadas recebidas e efectivamente atendidas está "em níveis superiores a 95%" e a facturação das transferências para o INEM "obedece a níveis de serviço previstos contratualmente". Sobre o alerta de que a direcção clínica está ausente, a DGS responde que mantém contactos regulares com a mesma e garante que "o aconselhamento terapêutico é prestado por farmacêuticos e não técnicos de farmácia".

TRIBUNAL DÁ RAZÃO AOS ENFERMEIROS

Cinco dos enfermeiros supervisores entregaram uma providência cautelar no Tribunal do Trabalho de Lisboa contra a LCS, depois de verem os horários de trabalho "alterados unilateralmente" pela empresa. O tribunal deu-lhes razão e obrigou a LCS a voltar ao mapa acordado antes. A mudança de horas – que impedia os enfermeiros que exercer nos centros de saúde e hospitais de origem – é apenas uma das situações laborais de que se queixam. Dizem que, por questionarem decisões com as quais não concordam, "são vítimas de uma senda persecutória". Chegaram a ser impedidos de entrar no edifício, de ter acesso ao sistema informático, são "permanentemente humilhados" em público e afastados da supervisão do atendimento.

DENÚNCIAS

BUROCRACIA

A identificação dos doentes tornou-se "num processo burocrático e desnecessário" que provoca "atrasos consideráveis a um serviço com estatuto de emergência".

INQUÉRITO OBRIGATÓRIO

Há perguntas "incompreensíveis e insuportáveis para grande parte dos doentes". Exemplo: é sempre perguntado se o utente autoriza o envio de um inquérito de satisfação, mesmo que este já tenha dito que ‘sim’.

SEM SUPERVISÃO

Os técnicos de farmácia, que fazem aconselhamento de medicamentos, funcionam sem monitorização ou regulamento interno.

NOTAS

FUNCIONAMENTO: DESDE ABRIL

Primeiro começou a título experimental em Abril de 2007. Um mês depois passou a funcionar em pleno. Foi inaugurada pelo primeiro-ministro e pelo ex-ministro da Saúde Correia de Campos

FALHAS: ERROS DE TRADUÇÃO

O sistema de atendimento foi comprado no exterior e adaptado a Portugal. Mas 17 meses depois "há ainda erros de tradução e perguntas desadequadas à realidade nacional"

CRÍTICA: DIRECÇÃO AUSENTE

A direcção clínica "está ausente" e os enfermeiros "esperam há mais de um ano por respostas" para resolver erros. Exemplo: a suspeita de hérnia umbilical é tratada como hérnia inguinal

Rute Aaújo

Cozinha ao lado da capela mortuária

Há mais de duas semanas que a cozinha do Hospital de Santa Maria, local onde são confeccionadas as refeições dos doentes, se encontra ao lado (cerca de dois metros) da capela mortuária da mesma unidade hospitalar.

Na parte lateral do edifício, onde a capela se situa há mais de 50 anos, cruzam-se actualmente carrinhas funerárias e outros veículos com produtos alimentares, havendo por vezes situações menos agradáveis. "Ainda no outro dia, um carro funerário com uma urna lá dentro teve que esperar que um indivíduo acabasse de servir pão, para poder entregar a urna à família que já a esperava há muito", disse ao CM uma fonte que preferiu não se identificar.

A mesma fonte revelou ainda que a situação normal é "sair um cadáver junto à cozinha", mas garantiu que a "comida não está em contacto directo com os mortos".

José Pinto Costa, assessor do Hospital de Santa Maria, emLisboa, disse ao CM que a situação "em nada afecta a alimentação, as condições de higiene e de segurança dos utentes" e que se trata de uma situação "provisória".

A cozinha desta unidade de saúde está a ser remodelada e estará pronta no "princípio do próximo ano. Até essa data a situação irá continuar tal como está", confirmou ao CM José Pinto Costa.

PORMENORES

ENCERRADA

A cozinha do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi encerrada pela ASAE em Outubro do ano passado.

OBRAS

O hospital garante, que as obras na cozinha nada têm a ver com o encerramento determinado pela ASAE.

54 ANOS

O Hospital de Santa Maria tem 54 anos e é um dos maiores e melhores equipados do País.

Joana Freire

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

HOSPITAL GARCIA DE ORTA UM CASO INEDITO...

Não há nada pior do que desperdiçar meios na saúde. O Hospital Garcia de Orta, em Almada, Portugal, deve ser um dos poucos no mundo que chama alguém de fora para acorrer às urgências lá dentro. Sempre que existe uma emergência na ala de psiquiatria, os enfermeiros preferem chamar o INEM a chamar os especialistas de Medicina Interna que estão no sétimo piso. A justificação? Lentidão.
Segundo o director clínico do hospital, da ala de Medicina Interna à Psiquiatria os médicos demoram cinco minutos – e o INEM é mais rápido. Até pode ser, mas não devia ser. De cada vez que um médico do INEM se mete no carro para fazer 50 metros das urgências até à ala de psiquiatria, há menos uma viatura disponível para acudir a uma emergência noutra ponta da cidade, onde não há médicos, equipamentos, enfermeiros, clinicas ou hospitais – nem no sétimo piso nem em lado nenhum à volta.
Implantar esta regra é grave, defendê-la e orgulhar-se dela – como faz o director clínico do Garcia de Orta – é pior: é um desperdício. E os desperdícios na área da saúde pagam-se caro.

‘Direcção do Semanário Sábado’

O CERTO E O ERRADO…

Tem razão o jurista que defendeu a criação de uma lista com as actividades profissionais para as quais se pode pedir aos trabalhadores que efectuem testes ao VIH/Sida?

Tem. E não apenas para acautelar a saúde de quem está infectado. A avaliação dos riscos que os infectados com sida podem trazer para os seus locais de trabalho tem revelado critérios muito variáveis: em Portugal, um cozinheiro foi despedido por ser portador do VIH mas um cirurgião também infectado foi mantido em funções. E há outras questões: em 2006, o Sindicato dos Enfermeiros denunciou que a notificação obrigatória em caso de sida não era feita em metade dos casos e alertou para o facto de alguns médicos optarem por não informar os enfermeiros sobre os pacientes portadores de VIH. Dada a natureza das suas funções, os enfermeiros alegavam que a ausência dessa informação os expunha a riscos desnecessários. Na verdade há poucos assuntos mais irritantes do que aqueles em que se misturam a mania do progressismo e o medo. O caso da sida é um deles. Clarificar que testes se podem pedir e a quem pode ser dada essa informação evitará muitas zonas cinzentas, terreno fértil para arbitrariedades.

‘Helena Matos’

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MITOS

O Selim causa impotencia?

Em 1997, um urologista norte-americano disse haver dois tipos de ciclistas: os que são impotentes e os que vão ser. Quando um homem anda de bicicleta, a artéria critica que fornece sangue ao penis fica esmagada. Regra geral, volta ao normal em pouco tempo. Mas, se for esmagada muitas vezes, acabará por ficar assim sempre. O clitóris também é afectado. Cerca de 60% das mulheres que andam de bicicleta três a quatro vezes por semana sentem dores e formigueiros na vagina. Isto acontece porque os selins são demasiado estreitos e não distribuem o peso de forma equilibrada.

Um homem percebe se a mulher está a fingir um orgasmo?

Dificilmente. E se a sua parceira é muito exuberante na cama, isso é um mau sinal. Um orgasmo verdadeiro caracteriza-se por espasmos musculares, tremores nas coxas, costas arqueadas, gemidos e frases incompletas. Os estudos revelam que entre 50% a 70% das mulheres já fingiram um orgasmo pelo menos uma vez. No entanto, pelo menos de 1% dos homens admitem ter sido vitimas dessa mentira. Anahad O’Connor diz que há outros sinais a que os homens devem estar atentos. Antes do orgasmo, o clitóris fica erecto, a vagina incha e a pele da área genital escurece. Além disso, os mamilos ficam duros, o ritmo respiratório torna-se mais rápido, curto e profundo. O pescoço, o peito e a cara ficam encarnados.

Podemos sobreviver a um ataque cardíaco se tossirmos?

Tossir durante um ataque cardíaco pode acelerar a paragem do coração. Este mito surgiu devido ao facto de os médicos pedirem às pessoas para tossirem com força durante angiogrfias (radiografias ao coração) motivadas por batimentos cardíacos repentinos e anormais. Provocar a tosse pode, de facto, evitar que uma pessoa desmaie durante uma paragem cardíaca, mas o procedimento é tão perigoso que só deve ser feito debaixo de supervisão médica.

Uma chávena de café tem mais cafeína do que uma chávena de chá?

Sim. Vinte centilitros de chá (tamanho médio de uma chávena) contém entre 20 e 90 miligramas de cafeína. Uma chávena de café do mesmo tamanho tem cerca de três vezes mais. Mas se compararmos um quilograma de chá e um de café, o chá tem mais cafeína. A questão é que com um quilo de folhas de chá é impossível encher centenas de chávenas. E com um quilo de grão de café moído só conseguimos fazer cem bicas.

As mulheres embebedam-se mais depressa do que os homens?

Sim, até quando se trata de uma mulher e de um homem com peso e altura similares. O corpo das mulheres tem menos água do que o dos homens. Além disso, as mulheres têm mais dificuldade em digerir o álcool – a concentração da enzima gástrica que o decompõe é 50 vezes maior no estômago masculino – e o fígado do homem consegue metabolizar 80% mais álcool do que o da mulher. A percentagem de álcool que vai directamente para o cérebro depois de entrar no sangue é muito superior na mulher. Por causa disso, as mulheres alcoólicas desenvolvem cirroses muito mais depressa do que os homens alcoólicos.

A carne de churrasco bem passada causa cancro?

Sim. As pessoas que consomem muita carne vermelha e bem passada têm maior probabilidade de vir a sofrer de cancro do colon. E quem come muita carne grelhada ou assada no churrasco duplica o risco de cancro do pâncreas. A carne contém um aminoácido (creatina) que se decompõe a altas temperaturas e se transforma em aminas heterocíclicas. Em 2005, este composto foi acrescentado à lista de agentes carcinogéneos do Departamento de Saúde dos EUA. Outros químicos cancerígenos presentes na carne grelhada são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Estes agentes altamente tóxicos contaminam a carne através do fumo que se cria quando a gordura pinga sobre o carvão.

O álcool mata células cerebrais?

Nem os alcoólicos inveterados correm o risco de perder neurônios. Este mito deve-se ao facto de o álcool ser um poderoso desinfectante, capaz de matar células humanas. Mesmo assim, as concentrações mínimas de álcool necessárias para matar uma célula estão muito acima das concentrações máximas suportadas pelo organismo humano.

Podemos morrer se tomarmos duche durante uma tempestade?

Para ser electrocutado, basta estar em contacto com uma torneira no momento em que um raio fulminar o edifício onde se encontra, além de serem óptimos condutores de electricidade, os canos de metal que compõem o saneamento básico das casas transportam água carregada de impurezas que ajudam a fazer passar a corrente eléctrica..

A televisão faz mal aos olhos?

A televisão não faz mal aos olhos, porque a dose média de radiação a que uma pessoa é exposta por ano (mesmo que veja TV com regularidade a poucos metros do aparelho) é um décimo da radiação que sofre se fizer uma radiografia.
Os primeiros aparelhos e televisão emitiam níveis de radiação que podiam causar problemas oftalmológicos após exposição prolongada. Hoje, no entanto, as televisões são feitas com matérias protectoras e isolantes e usam uma voltagem muito mais baixa, logo, a radiação deixou de ser um problema.

Sentar-se direito é bom para as costas?

Vários estudos revelam que esta posição aumenta a pressão nos discos lombares na parte inferior das costas. O mito persiste, embora os cientistas defendam há mais de 30 anos que a posição reclinada é a melhor – não cria tensão e minimiza a pressão na zona lombar. Em 2006, um estudo da Universidade de Aberdeen, na Escócia, reconfirmou: sentar-se reclinado num ângulo de 135º, com os pés bem assentes no chão, causa menos tensão nas costas do qe sentar-se direito.

A canja é mesmo boa para a gripe?

Até mesmo se for embalada, pré-cozida ou liofilizada. Em 1978, os cientistas descobriram que esta sopa alivia a congestão nasal e é poderosíssima contra as infecções. A carne de galinha contém cisteína, um aminoácido que dissolve as secreções e ajuda o organismo a recompor-se mais depressa.
Em 2000, um grupo de investigadores norte-americanos elaborou a receita da canja ideal para combater a gripe – leva frango, cebola, batata-doce, nabo, cenoura, aipo, sal, pimenta e pastinaca (uma raiz parecida com a cenoura).

Os homens carecas são mais viris?

Este mito surgiu na Antiguidade por causa dos eunucos. Como não tinham testículos, não produziam testosterona (hormona responsável pelo desejo sexual masculino). As pessoas notavam que quase todos os eunucos tinham cabeleiras fartas e, embora isso não passasse de uma coincidência, começaram a associar a falta de cabelo à produção de testosterona e à virilidade. Hoje sabe-se que a calvíce se deve à presença de células receptoras de hormonas supersensíveis no couro cabeludo.

As retretes são fontes de germes?

Um estudo do ‘New England Medicine Jounal’ revelou que as bactérias que provocam a gonorréia podem resistir numa sanita pelo menos durante duas horas. Já os vírus da hepatite B e do herpes genital podem sobreviver durante uma semana e váris horas, respectivamente. Mesmo assim, o maior perigo nas casas de banho não são as sanitas, são as torneiras, os autoclismos e os puxadores das portas onde as pessoas tocam sem lavar as mãos. Dois factos curiosos: as casa de banho das mulheres têm duas vezes mais germes do que as dos homens e as secretárias têm, em média, quatrocentas vezes mais bactérias do que as sanitas.

O bocejo é contagioso?

É realmente contagioso, não se sabe exactamente porquê. Dois factos curiosos: as pessoas que criam mais empatia são as mais contagiadas pelo bocejo e a hora que se segue ao açodar é o momento do dia em que mais bocejamos.
O bocejo é geralmente tão forte e incontrolável que basta ler a palavra para desencadear um. E ver alguém bocejar pode desencadear uma serie deles. Não se sabe ao certo por que razão bocejamos, mas alguns cientistas defendem que o fazemos por falta de oxigênio no sangue ou excesso de dióxido de carbono no organismo. A única certeza é que não somos os únicos animais a fazê-lo: cães, peixes, crocodilos, macacos e pássaros também bocejam. E até os fetos humanos o fazem.

As melgas escolhem as pessoas?

Todos os humanos exalam um cheiro fascinante para as melgas. Estes insectos sentem-se atraídos pelo calor do nosso corpo e pelos químicos que libertamos durante a transpiração- mas há pessoas que conseguem produzir cerca de 12 substancias que mascaram os cheiros e afastam as melgas.nao se sabe ao certo porque é que isso acontece, mas poderá ser uma estratégia evolutiva natural.

As feridas curam-se melhor se apanharem ar?

Expor uma ferida ao ar cria um ambiente seco para a pele e provoca a morte celular. Se as feridas são mantidas húmidas e cobertas, os vasos sanguíneos regeneram-se mais depressa e a infecção desaparece rapidamente. O ideal é mantê-las cobertas e húmidas durante pelo menos cinco dias. Além disso, os pensos protegem a ferida do sol, evitando que a pele por baixo descolore. Quando a crosta começa a ficar muito dura, mais vale molhá-la e arrancá-la aos poucos do que esperar que caia por si – as crostas que ficam muito tempo na pele deixam cicatriz maior.

O microondas mata nutrientes?

De todos os métodos de cozedura, o microondas é até o menos destrutivo. Os factores que levam à perda de nutrientes são a temperatura, a duração da cozedura e a quantidade de líquido que se adiciona aos alimentos. Dado que os microondas usam menos calor e são mais rápidos do que os métodos tradicionais , em geral preservam mais as características nutritivas dos alimentos.
Os fornos microondas não matam os nutrientes dos alimentos porque aquecem a comida fazendo com que as suas moléculas vibrem. O processo é exactamente igual ao produzido nos fornos clássicos, só que mais rápido.

Dormir demais faz mal?

É muito pior dormir muito do que dormir pouco. Em 2002,um grupo de cientistas norte-americano descobriu que dormir mais de sete horas por noite está associado a uma vida mais curta. E tomar comprimidos para dormir aumenta a possibilidade de se morrer jovem. Dormir entre seis e sete horas por noite parece ser o ideal.

A tinta do cabelo provoca cancro?

Tem de se admitir que sim, embora o risco de isso acontecer seja baixo. As primeiras preocupações surgiram em 1975, quando um grupo de cientistas revelou que um derivado do alcatrõ presente em 90% das tintas causava danos genéticos. O composto foi retirado do mercado, mas os investigadores descobriram outros agentes cancerígenos na formula das tintas. Em 2005, um estudo do jornal da Associação Médica Americana revelou que as tintas para o cabelo aumentam o risco de desenvolvimento de cancro no sistema linfático.
Para minimizar o risco de cancro (que é muito baixo), use luvas durante a aplicação da tinta, prefira as cores mais claras e que saem com as lavagens (são menos concentradas) e evite ao máximo que a tinta entre em contacto com o couro cabeludo.

A água engarrafada é mais limpa do que a que sai da torneira?

Pelo contrario. Um estudo de 2000, nos Estados Unidos, mostrou que um quarto das águas engarrafadas tinha níveis de bactérias 10 vezes superiores aos da água da rede pública. Outra investigação revelou que um terço das águas minerais tinha elevadas concentrações de arsênico e de químicos orgânicos causadores de cancro. É que a água da torneira é monitorizada diariamente e, nos EUA, as garrafas são testadas uma vez por mês.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Saúde reduz taxa moderadora

Em ano de contenção, o orçamento para a Saúde vai subir pouco mais de dois por cento, com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a receber 8,2 mil milhões de euros. O Ministério da Saúde é um dos quatro ministérios que terão os limites de despesa mais elevados. Apesar disso, corta parte das receitas ao reduzir em 50% o valor das taxas moderadoras da cirurgia do ambulatório (dispensa internamento).


Os utentes do SNS passam a pagar 5,10 euros e não 10,20 euros pela cirurgia em ambulatório. Medida aplaudida pelos administradores hospitalares, que não concordam com essa taxa criada pelo antigo ministro da Saúde, Correia de Campos.

Pedro Lopes, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, critica ao CM esse pagamento. 'Essa taxa moderadora não modera nada. Portugal é dos países europeus com uma taxa de cirurgia no ambulatório das mais baixas. É positivo que haja desenvolvimento nesta área, que traz ganhos para o doente.'

A ministra da Saúde, Ana Jorge, quer uma melhor gestão na Saúde. Temos o orçamento que é o possível neste momento e, portanto, temos obrigação de o gerir bem'. Segundo Ana Jorge, 'gerir bem não significa cortar, mas pensar nos recursos e nas necessidades que existem'.

EDUCAÇÃO REFORÇA VERBAS

A verba destinada ao Ensino e à Ciência é reforçada, com o Governo a assumir que estas são áreas prioritárias. 'A aposta na Educação, no Ensino Superior e na Ciência é fundamental para a valorização dos nossos recursos humanos. É uma aposta que se vai repetir em 2009', anunciou o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.

A proposta de Orçamento do Estado para 2009 (OE 2009) indica que o alargamento do ensino do Inglês aos dois primeiros anos de escolaridade vai custar 22 milhões de euros ao erário público.

No documento ontem apresentado o Governo inscreve também verbas que permitem financiar o alargamento da Acção Social Escolar (ASE). Segundo os números já avançados pelo Ministério da Educação, os beneficiários da ASE triplicam, passando este ano a atingir 700 mil estudantes. Também as intervenções previstas em 130 escolas com vista à modernização estão inscritas no Orçamento. A proposta de OE não especifica ainda se o Governo pretende tornar o 12º ano obrigatório, sendo apontado o objectivo de transformar o Ensino Secundário no referencialmínimo e de oferecer cursos profissionais para metade dos estudantes do Secundário. No Superior, o executivo promete rever o Estatuto da Carreira Docente Universitária e prevê construir mais quatro centros de Ciência Viva.

MAIS 100 MILHÕES PARA AS POLÍCIAS

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, prometeu e o Governo assegurou-lhe um aumento de 100 milhões de euros no Orçamento para 2009. Este ano, o Ministério de Rui Pereira trabalhou com 1,694 milhões de euros (575 milhões para a PSP e 749 milhões para a GNR). Em 2009, o reforço de cem milhões de euros no Orçamento servirá de ‘almofada’ à entrada de dois mil novos agentes nas duas forças de segurança. O Governo quer ainda reforçar os programas ‘Táxi Seguro’ e ‘Abastecimento Seguro’, assim como o combate ao carjacking. O ministério de Rui Pereira pretende ainda reduzir a sinistralidade rodoviária e reforçar as estruturas de protecção civil.

PJ COM REFORÇO DE OITO MILHÕES

Depois de um ano marcado por uma onda de criminalidade violenta, o Orçamento do Estado para 2009 prevê um reforço de oito milhões na verba a atribuir à Polícia Judiciária, tutelada pelo Ministério da Justiça. Segundo o documento, proposto no Orçamento do Estado entregue ontem na Assembleia da República, o objectivo é reforçar a capacidade de investigação da criminalidade grave e violenta.

NÚMEROS

350

Mil é o número de estudantes que o Governo prevê para o programa Novas Oportunidades.

22

Milhões de euros é o valor inscrito no Orçamento para o ensino do Inglês nos dois primeiros anos de escolaridade.

130

Milhões de euros é a verba transferida para as autarquias, cujas competências são alargadas.

130

Escolas serão alvo de intervenções com vista à modernização, de acordo com o documento.

NOTAS

PROPOSTA: ATRASO

As três horas e meia de atraso para a entrega do Orçamento no Parlamento levaram a que os serviços informáticos não autenticassem o documento e não o encaminhassem aos deputados

ISENTO DE IRS: ATÉ 1896 EUROS

Os contribuintes cuja matéria colectável, após a aplicação do quociente conjugal, seja igual ou inferior a 1896 euros estão isentos do pagamento de IRS

REGIME SIMPLIFICADO: IRC

O Governo promoverá a criação de um regime simplificado de determinação do lucro tributável para os sujeitos passivos de IRC de pequena dimensão

CGTP: PARALISIA ECONÓMICA

Carvalho da Silva considerou que a proposta de OE não ajuda a tirar o País da 'paralisia económica' e não mostra que impacto terá sobre a vida das famílias e pessoas

BANCOS: BENEFÍCIOS FISCAIS

O Orçamento prevê a atribuição de benefícios fiscais às instituições financeiras que concedam empréstimos e outras operações de financiamento a entidades congéneres

SERVIÇOS: SUSPENSÃO

O Governo suspendeu as reorganizações de serviços públicos até final de 2009, bem como a criação de novos serviços, a não ser que destas operações resultem cortes na despesa

TRANSPORTES: APOIOS ATÉ 2012

Os táxis, autocarros de passageiros e as transportadoras de mercadorias vão poder descontar 120% dos gastos com combustível até ao final de 2012, ganhando 3 anos de apoios estatais

EMIGRANTES: DEVOLUÇÃO DE IRS

Quem seja residente noutro país da UE, Islândia, Liechtenstein ou Noruega, pode solicitar a devolução do imposto retido e pago, se tiver sido superior ao resultante das tabelas de IRS.

REACÇÕES

PAULO RANGEL: LÍDER PARLAMENTAR DO PSD

Os serviços da presidência dizem que [o OE] foi entregue e que por problemas informáticos ainda não foi posto à disposição. Já devia estar acessível. Teríamos condições para fazer um comentário com mais dados

PEDRO MOTA SOARES: DEPUTADO DO CDS-PP

O crescimento da economia é medíocre e o problema do desemprego mantém-se. Lamentamos que nada se tenha ouvido acerca dos pensionistas com pensão mínima e sobre o pagamento de dívidas do Estado às empresas

FRANCISCO LOUÇÃ: DEPUTADO DO BE

Não vou comentar porque ainda não tenho o documento, que já foi entregue há duas horas ao presidente da Assembleia, mas está desaparecido. Não sou comentador do ministro, quero ver o documento. Estou indignado

VITALINO CANAS: PORTA-VOZ DO PS

É um OE que se adapta bem à realidade que temos e em que a crise internacional está a ter o seu impacto. Este OE tem o cuidado de salvaguardar pessoas e famílias em geral, tem uma consciência social muito aguda

JOSÉ MANUEL SILVA: ORDEM DOS MÉDICOS

O principal problema do Serviço Nacional de Saúde não é financeiro, mas de competência de gestão. Se houver critérios de competência, aumenta a qualidade dos serviços e baixam os custos'

MÁRIO NOGUEIRA: FENPROF

Tem de existir sempre um reforço do orçamento para a Educação. Resta saber se esse reforço supera o valor da inflação, para haver um aumento real, e se compensa as perdas registadas nos últimos anos'

LUCIANO ALMEIDA: PRES. INST. POLITÉCNICOS

Saudamos a intenção de rever o Estatuto da Carreira Docente, uma reivindicação nossa. O crescimento de 6,5% no orçamento do Ensino Superior é um honrar do compromisso assumido pelo primeiro-ministro'

PAULO RODRIGUES: PRESIDENTE DA ASPP/PSP

Os 575 milhões de euros entregues à PSP em 2008 condicionaram esta polícia. A verba da PSP para o próximo ano tem, por isso, de ser reforçada significativamente. Estamos a discutir um novo estatuto, por si só insuficiente'

JOSÉ ALHO: PRESIDENTE DA ASPIG / GNR

Entendemos que a GNR precisa de um investimento no desbloqueamento de escalões. Os suicídios de jovens são reflexo disso. O investimento nas viaturas, no reforço dos vencimentos e nas fardas é também fundamental

Cristina Serra / B.E. / M.C.

GRAVIDA DÁ A ESCOLHER...

Uma grávida pergunta ao filho de seis anos:

- Filho o que é que preferes? Mano ou Mana?

- Se não doer muito, prefiro um pônei...

PRESERVATIVOS FURADOS...

Quatro enfermeiras comentavam as partidas que tinham pregado ao novo medico.
- Pus-lhe o termômetro em água quente – diz uma.
- Enchi os auscultadores com algodão – diz a segunda.
- Furei-lhe os preservativos – disse a terceira.
Ao ouvir isto, a quarta desmaiou...

‘José Gaio’

VISITA DO MINISTRO

O Ministro da Saúde visita um hospital. Cumprimenta um doente e este pergunta quem é.
- Sou o Ministro da Saúde.
- Coitadinho! Mas olhe, fique descansado que isso passa. Quando eu vim para cá pensava que era o Primeiro Ministro!!!

‘Daniel Lopes’

Luc Montagnier admite cura da sida através de vacina terapêutica

Um dos galardoados com o Prémio Nobel da Medicina de 2008, o virologista francês Luc Montagnier, admitiu numa entrevista à agência Lusa a cura da sida através de uma vacina terapêutica

O investigador que isolou e identificou o vírus da Sida, juntamente com a sua colega Françoise Barre-Sinoussi, falou à Lusa em 30 de Maio no Estoril, onde se deslocou para participar no I Congresso Ibérico Anual sobre Medicina Anti-Envelhecimento e Tecnologias Biomédicas.
Barre-Sinoussi, Monagnier e o investigador alemão Harald zur Hausen foram os vencedores do Prémio Nobel da Medicina e da Fisiologia, hoje atribuído.
«Tem que se conseguir restabelecer totalmente o sistema imunitário para que o próprio doente possa lutar contra o vírus e isso não pode ser apenas através de medicamentos, porque os vírus desenvolvem novas formas de resistência, o que torna a corrida sem fim. Poderemos ter uma cura pela vacina», argumentou.
Montagnier têm-se batido desde há 10 anos pelo desenvolvimento de uma vacina terapêutica e lembrou que têm ocorrido «fracassos» na vacina preventiva.
Na sua perspectiva, o desenvolvimento de uma vacina terapêutica seria mais «simples e rápido» devido ao envolvimento de um menor número de pacientes nos ensaios clínicos.
O acesso a este tipo de vacina também seria mais fácil que aos medicamentos: «A toma de medicamentos tem que ser feita todos os dias e em países com muitas pessoas infectadas é impossível um tratamento durante toda a vida porque é muito caro. [A existir], com a vacina bastariam três administrações».
Luc Montagnier disse ainda à Lusa que a prevenção deve ser feita sobretudo através da educação e que o combate à infecção da SIDA também tem de levar em conta os níveis de vida da população.
«Em África as pessoas não têm acesso a água grátis, são pobres. Se pudermos melhorar os níveis de vida, mais homens não irão aceitar relações sexuais desprotegidas», ilustrou.
Por outro lado, o virologista considerou necessária a criação de «centros de medicina preventiva», onde as pessoas possam fazer exames completos, com recurso às novas tecnologias, e onde sejam identificados o «stress oxidativo e os agentes infecciosos que provocam as doenças».

Lusa/SOL

Quanto mais bebida, mais o cérebro encolhe, diz estudo

Estudo mostra que aqueles que bebiam mais do que 14 doses por semana tinham o cérebro em média 1 por cento menor do que os abstêmios

Muitos estudos demonstram que o consumo moderado de álcool pode ser bom para o coração. Mas o grupo liderado por Carol Ann Paul, da Faculdade Wellesley, em Massachusetts, comprovou que a bebida não evita a perda do volume cerebral acarretada pela idade.
Na verdade, os abstêmios convictos tinham a menor perda cerebral. Em seguida, pela ordem, vinham os ex-consumidores, os consumidores moderados e os consumidores abusivos, segundo o artigo publicado na revista Archives of Neurology.
A tendência era mais notável em mulheres do que em homens, o que pode se dever à maior sensibilidade feminina aos efeitos do álcool e à menor massa corporal.
"Sabe-se que as pessoas que bebem têm um declínio no volume cerebral. O que eu estava procurando era um efeito protetor nas pessoas que bebem uma a sete doses por semana", disse Paul por telefone.
"Minha expectativa era de que seria protetor. E não foi assim", acrescentou ela, que realizou o estudo quando estava na Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston.
As conclusões foram baseadas em dados de 1.839 norte-americanos de 33 a 88 anos, que fizeram relatos sobre o seu consumo de álcool e tomografias por ressonância magnética. Eles fazem parte de um estudo mais amplo em andamento em Massachusetts.
Quem bebia mais do que 14 doses por semana tinha o cérebro em média 1 por cento menor do que os abstêmios, segundo os pesquisadores. Em geral, o volume cerebral diminui cerca de 2 por cento por década. A atrofia está vinculada a dificuldades cognitivas e motoras.
Vários estudos indicam os benefícios cardíacos do consumo moderado de álcool, mas o consumo excessivo pode provocar problemas graves e fatais, especialmente no fígado e cérebro.

REUTERS

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

MOÇAMBIQUE: Roupas, telemóvel e HIV

MAPUTO, 7 Outubro 2008 (PlusNews) - Mais um turno de aulas acaba na Escola Secundária Francisco Manyanga, em Maputo, e professores e alunos do segundo ciclo do ensino secundário caminham em direcção à paragem dos chapas. Outros vão para casa a pé.

Júlia*, 16 anos, aluna da 10ª classe nesta escola, entra numa viatura de luxo, onde um homem de seus 40 anos espera por ela. Mas engana-se quem pensa que ele é seu pai. Lucas é seu namorado, com quem se relaciona desde Março.

Tudo começou num dia de chuva, quando ele lhe ofereceu uma boleia até a escola. Pouco tempo depois estavam namorando. No início da relação, eles usavam preservativo, mas actualmente abandonaram-no. Júlia nunca fez o teste de HIV, mas acredita ser seronegativa.

Lucas*, apenas três anos mais novo que o pai de Júlia, compra roupas, recargas para o telemóvel e dá um subsídio mensal para as despesas pessoais da namorada. Mais do que o relacionamento em si, são esses benefícios que mantêm a rapariga na relação.

“Meu namorado tem 42 anos. Mas o que ele me dá um jovem da minha idade não me daria, e preciso desses bens para viver”, diz Júlia. “Os meus amigos me reprovam por estar a namorar com um senhor, mas o que vou fazer?”

Júlia sonha em entrar para a universidade, formar-se em ciências jurídicas e começar a ganhar pelo seu trabalho. Mas enquanto isso não acontece, vai pagando as suas contas com a mesada que o seu parceiro lhe dá, já que os seus pais não lhe podem ajudar.

Apelo irresistível

Relações em que um dos parceiros é muito mais velho são chamadas inter-geracionais.

Em Moçambique, a maioria das relações inter-geracionais envolve um homem mais velho e uma rapariga adolescente, segundo Marcelo Kantu, oficial de programas e activista da Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família (AMODEFA).

“Na sua maioria, estes casos decorrem em situações em que um homem, muito mais velho e geralmente com dinheiro, convence a rapariga a envolver-se com ele e depois impõe as regras do jogo. E nessas situações as meninas são sempre dependentes”, explica.

Chamadas de catorzinhas, essas adolescentes sucumbem a um apelo quase irresistível desses homens mais velhos: o poder económico.

Assim como Lucas, foi esse poder que Pedro Muchanga, 50 anos, usou para conquistar a sua namorada de 17 anos. Casado e pai de quatro filhos, ele se encontra às escondidas com a menina, pois não tem coragem de andar de braços dados com uma rapariga que tem idade para ser sua filha.

“Prefiro estar com ela em lugares não muito públicos. Assim pouca gente nos verá”, admite.

Questionado sobre o uso do preservativo na sua relação extra-conjugal, Muchanga reage: “Eu não estou infectado, porque faço o teste regularmente. Como a minha menina é muito jovem ainda, descarto a hipótese dela ser já seropositiva. Por essa razão não usamos preservativo.”

Idade não conta para HIV

É esse tipo de raciocínio que acaba por tornar o HIV um dos principais riscos nas relações inter-geracionais, já que a idade conta muito pouco para a infecção.

Segundo o Inquérito Demográfico e de Saúde de 2003, a idade média da primeira relação sexual entre moçambicanos é de 16 anos para as raparigas e 16,8 anos para rapazes.

Porém, apesar de serem sexualmente activos, esses adolescentes têm pouca informação sobre o manejo da sexualidade ou métodos contraceptivos, segundo profissionais de saúde. Muitos praticam sexo desprotegido, sem consciência dos possíveis riscos.

No caso das catorzinhas, soma-se à desinformação o pouco poder de negociação em relação ao sexo seguro, já que elas se vêem obrigadas a submeter-se às vontades e decisões do parceiro.

O resultado disso é uma maior chance de contrair infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV, e uma gravidez indesejada.

“Geralmente os homens são casados e não assumem a gravidez. Optam pelo aborto clandestino, que é feito sem segurança na maioria das vezes. Isso coloca em risco a saúde da rapariga”, explica Kantu.

Moçambique, com uma população de quase 20 milhões de habitantes, tem uma seroprevalência de 16,2 por cento.

Onde estava sua filha?

O fenómeno catorzinhas é tão comum em Moçambique que hoje existem campanhas específicas para esse público. O objectivo é despertar a atenção de ambas as partes sobre os riscos das relações inter-geracionais.

A AMODEFA desenvolve desde 1993 campanhas sobre saúde sexual e reprodutiva, que começaram na escola frequentada por Júlia, e a partir de 2005 criou programas específicos para adolescentes que podem se envolver ou se encontram numa relação inter-geracional.

A iniciativa é parte do Programa Geração Biz, apoiada pelo Fundo das Nações Unidas para a População, e inclui discussões com adolescentes e jovens entre 10 e 24 anos nas escolas e apresentação de peças teatrais e bailados nas comunidades.

Mas o trabalho com essas meninas não é fácil, já que em muitos casos, os atractivos vão além dos benefícios materiais. Segundo a psicóloga Filza Cassam, muitas raparigas se sentem superiores quando se relacionam com homens muito mais velhos.

“Há raparigas que se metem com gente mais velha em busca de um afecto que os seus pais não puderam dar. Nesses casos, elas sentem-se bem”, diz Cassam.

Outras iniciativas procuram atingir os homens que se envolvem com catorzinhas. A Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), por exemplo, está a veicular uma campanha publicitária na televisão, cujo lema é “Onde estava sua filha quando tu estavas com a filha de outro?”.

PlusNews

terça-feira, 7 de outubro de 2008

LIXO CONTAMINADO DEIXA RASTO DE CORRUPÇÃO, DOENÇAS E MORTES NO RIO DE JANEIRO

Um dos maiores escândalos quanto à saúde pública e a cidadania acontece diariamente no Rio de Janeiro, a céu aberto. Lixo infectado com todo tipo de bactérias e vírus, verdadeiro risco iminente à vida dos seres humanos, é recolhido nos hospitais mais modernos da cidade, nas clínicas que oferecem serviços caros para classe média, em laboratórios luxuosos, farmácias e consultórios médicos dos mais diversos e jogado no quintal de desvalidos, em uma aglomeração miserável no município de Duque de Caxias. Nesse fim de mundo, cercados pelas piores estatísticas em qualidade de vida do país, homens, mulheres e crianças são sustentados pela corrupção e o tráfico de drogas.

Tuberculose, aids e lepra são apenas algumas das doenças a que se submete a população de Vila Alternativa, onde a morte é banal, a vida é curta e a sobrevivência, apenas uma obrigação. Para ganhar alguns reais, centenas de moradores são expostos ao risco cotidiano de uma seringa quebrada, com restos de sangue contaminado, agulhas infectadas e venenos ativos, em embalagens que deveriam ser destruídas de acordo com a legislação vigente, mas seguem deixando um rastro de perigo.

– As pessoas normalmente vêem os catadores como mendigos. Mas elas não sabem que o negócio do lixo é muito lucrativo. Alguns catadores chegam a faturar R$ 2,8 mil por mês só no lixão – afirma o presidente da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho (ACAMG), Sebastião Carlos dos Santos, 29 anos. Os números explicam o interesse de grupos criminosos que agem livremente na região, há décadas. A reportagem do Correio do Brasil, no início dessa semana, localizou três aterros clandestinos, a 300 metros da Via Alternativa. Os detritos contaminados foram vazados no local na noite anterior. Após recolherem o material de valor comercial, os atravessadores incendiaram o resto, mas o fogo não consumiu tudo. Estavam visíveis, por exemplo, seringas e cateteres com sangue coagulado, além de aventais, usados em cirurgias, em frangalhos. O cheiro de tecido orgânico queimado era facilmente perceptível.

– Incendiar o lixo hospitalar depois de retirar os produtos de valor é uma prática comum entre os atravessadores. Eles tentam esconder seu crime, mas sempre sobram resíduos – revela Sebastião Santos.

Impedir a prática dos atravessadores é muito difícil. A atrativa atividade criminosa é defendida por bandos armados, que, agindo na madrugada, espalham olheiros em várias posições para serem avisados de qualquer aproximação da polícia, através de rádio-comunicadores. O modus operandi das quadrilhas revela que há organização em cada passo da operação, desde o suborno aos motoristas até a venda do material em locais que compram sucata e ferro-velho.

Classificação e ameaça

O Lixo hospitalar classificado nas categorias de risco A (biológico), B (químico) e E (perfurantes) que é despejado em aterros clandestinos do Jardim Gramacho, ameaça a vida de 5,2 mil moradores da comunidade do Parque Planetário, onde se situa a Vila Alternativa. Crianças, que representam 75% dos habitantes, mulheres grávidas e homens têm contato direto com seringas, agulhas, bisturis, curativos e bolsas de sangue contaminados, tecidos e partes anatômicas de corpos humanos, bem como remédios e drogas vencidos.

Os dejetos são atirados durante a madrugada na Via Alternativa, uma estrada de chão de pouco mais de um quilômetro, aberta em 2005 pela Prefeitura daquele município, ligando a Rua Imperatriz ao Aterro Sanitário de Gramacho, às margens de um manguezal. De acordo com catadores de lixo, que construíram e habitam o Parque Planetário, quadrilhas de atravessadores lotearam as margens da estrada. Quando os caminhões chegam para levar suas cargas para o aterro, os motoristas são interceptados e recebem R$ 50,00 para largar o lixo em locais pré-determinados.

O faturamento das quadrilhas é alto. Junto com o lixo biológico e o químico, há o material plástico das embalagens de soro fisiológico e de remédios, que são vendidos a R$ 1,10 o quilo – produto de maior valor entre todos os outros encontrados nos lixões. Cada caminhão transporta 30 toneladas de detritos. Segundo diretores da ACAMG, metade da carga é de lixo hospitalar. O volume do valioso plástico pode chegar a dez toneladas, conferindo para as quadrilhas uma arrecadação de R$ 11 mil por caminhão. Há quem encontrou, nesta vertente do crime organizado, um oásis para sobreviver. É o caso de Jerusa Maria dos Santos, 59 anos. Ela criou oito filhos com o lixo hospitalar no Aterro de Gramacho, ao longo de 28 anos. Hoje, tem mais de 20 netos e dois bisnetos.

– Mas continuo aqui, porque lixo dá dinheiro, basta querer trabalhar – afirma, resignada, sem comentar o drama que é ver a sua família vivendo em condições subumanas.
A antropóloga americana Kathleen Millar, 28 anos, está desenvolvendo uma tese de doutorado para a Universidade Brown, em Rhode Island, junto aos catadores de lixo de Gramacho. Ela tem acompanhado o cotidiano daquela comunidade e vive, inclusive, a experiência de catar lixo.

– Eu tenho um foco específico sobre as relações sociais, o que aqui é bem evidente – explica.

Venda avulsa de lixo hospitalar

Há uma outra operação para venda ilegal de lixo hospitalar no Rio de Janeiro. Caminhões e outros veículos menores, que recolhem os detritos diretamente dos hospitais e clínicas, levam a carga contaminada para ferros-velhos da cidade. Separam os produtos de valor comercial, vendem e seguem depois para os depósitos com o que sobrou do material infectado.

Na última terça-feira, a reportagem do Correio do Brasil seguiu um caminhão baú, que fazia o recolhimento de lixo do Hospital Copa D'Or, um dos mais luxuosos do Rio, em Copacabana, Zona Sul da cidade. O veículo, de placa KQR-0861 do Rio de Janeiro, chegou à unidade hospitalar às 13h32m. Na carroceria, estava estampado o nome da empresa responsável pelo recolhimento: Multi Ambiental. E o tipo de carga a ser transportada: Lixo Extraordinário – que é basicamente composto de restos de alimento, latas e garrafas de água e refrigerantes consumidos por pacientes.

Uma hora depois, o veículo deixou o hospital, seguindo pelo Aterro do Flamengo. Subiu o elevado da Perimetral, no Centro do Rio, e desceu em direção à Central do Brasil. Na Rua Barão de São Félix, o caminhão parou em frente a um depósito de ferro-velho, situado entre os números 109 e 117. O motorista e o ajudante abriram a porta traseira da carroceria e retiraram, sem nenhuma proteção, como luvas e aventais, vários sacos, contendo latas de alumínio e outros materiais. Tudo foi vendido para um homem, que aparentava ser o responsável pelo depósito. Em frente ao estabelecimento, há uma rua que dá acesso ao Morro da Providência, um dos mais violentos do Rio de Janeiro. Lá, dois homens faziam a segurança do local e vigiavam toda a movimentação do ferro-velho.

No dia seguinte, outro carro da Multi Ambiental fez o mesmo trajeto do caminhão baú. Desta vez, porém, era uma Fiorino, placa do Rio de Janeiro LCF 3584, com a marca Lixo Infectante na carroceria. Este material, classificado como de alto contágio, é composto por seringas, agulhas, bisturis, curativos e bolsas de sangue contaminado, tecidos e partes anatômicas de corpos humanos, bem como remédios e drogas vencidos.

A Fiorino chegou ao Copa D'Or às 6h59m. Uma hora depois, estava novamente no ferro-velho na Central do Brasil. Entrou no acesso ao Morro da Providência e estacionou, saindo do ângulo de visão da Rua Barão de São Félix. O motorista e o ajudante saltaram do veículo. No entanto, eles perceberam que estavam sendo seguidos pelo carro da reportagem e voltaram para a Fiorino, indo embora sem deixar nenhuma carga no depósito.

– Este é um quadro extremamente preocupante, já que aproximadamente 58% da quantidade diária de resíduos dispostos são descartadas sob soluções inadequadas, do ponto de vista técnico – afirma a engenheira sanitarista Nélia Lima Machado, autora da pesquisa Estudo comparativo de soluções adotadas para o tratamento e destino final de resíduos sólidos de serviços de saúde.

Procurado pela reportagem, Janio Ribeiro, um dos sócios da Multi Ambiental, limitou-se a afirmar que o lixo recolhido no hospital Copa D'Or e levado para o ferro-velho é material reciclável e que não representa perigo para a população, pois não há risco de contaminação. Segundo ele, esse lixo é composto apenas por papel, alumínio e plástico.

– O lixo hospitalar, classificado como infectante, é levado diretamente para o Aterro de Gramacho, onde há uma área especial reservada para este tipo de material – limitou-se a afirmar Ribeiro, sem comentar o trajeto suspeito que, diariamente, cumprem os veículos da empresa.

O Hospital Copa D'Or sequer atendeu à reportagem.

A Central de Tratamento de Resíduos (CTR) de Nova Iguaçu, administrada pela empresa de engenharia S.A. Paulista é considerada a mais moderna do Estado do Rio em tratamento de lixo, inclusive o hospitalar. No entanto, o despejo dos resíduos lá é mais caro. Enquanto em Gramacho, na célula destinada ao lixo infectante, a empresa municipal de limpeza do Rio de Janeiro, Comlurb, cobra R$ 50,00 por cada eixo do caminhão de lixo, em Nova Iguaçu o preço é de R$ 2,50 para cada quilo de dejeto perigoso transportado. A tabela de preço dos atravessadores é ainda inferior à da estatal, mas igualmente rentável.

– Tabela mesmo os atravessadores não têm. Vai conforme a negociação com cada empresa e até mesmo com cada motorista – disse um dos catadores, que prefere não se identificar, por motivos óbvios.

Baía de Guanabara atingida

Além de infectar os catadores de lixo com doenças como tuberculose e hanseníase, o lixo hospitalar jogado nos aterros clandestinos do Jardim Gramacho também atingem diretamente a Baía de Guanabara. A construção da Via Alternativa cortou o manguezal ao meio. De um lado e de outro, barracos de madeira, onde moram os catadores e suas famílias, foram instalados sobre entulho e, mais abaixo, há uma matéria gelatinosa composta pelo chorume, líquido espesso, que é fruto da decomposição da matéria orgânica despejada.

Como não há renovação das águas do manguezal e o acúmulo de lixo hospitalar tem aumentado a cada dia, o chorume, com toda sua carga infecciosa, está indo parar nas águas da Baía de Guanabara, aumentando ainda mais a poluição provocada pelo Aterro Sanitário. O Aterro de Gramacho tem 1,5 milhão de metros quadrados, foi estabelecido em 1978 e recebe diariamente 7.700 toneladas de lixo. Destas, 6.500 são do município do Rio de Janeiro e o restante de Duque de Caxias, São João de Meriti, Mesquita, Belford Roxo e Queimados.

– O problema é que Gramacho já está com sua capacidade preenchida e, certamente, o descarte do lixo terá de ir para o Aterro de Nova Iguaçu – diz a biomédica Andrea Perossi, do Hospital universitário Antônio Pedro.

Justiça amarrada

Preservar a saúde pública e a qualidade do meio ambiente são os objetivos descritos na legislação que recomenda o gerenciamento referente à geração, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e deposição final dos resíduos sólidos infectantes. Também conhecidos como "lixo hospitalar", os resíduos infectantes podem ser produzidos em qualquer estabelecimento prestador de serviços na área de saúde, tais como hospitais – públicos e privados – laboratórios, drogarias, consultórios médicos e dentários e até em nossa própria casa. Mas essa legislação – ratificada pela resolução RDC nº 33 de abril de 2000 – está longe de ser obedecida no aterro sanitário de Jardim Gramacho – Baixada Fluminense.

O Promotor de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo de Duque de Caxias, Marcus Leal, além de detectar que a legislação não está sendo obedecida, adverte para uma situação potencialmente explosiva para o meio ambiente da Baía da Guanabara e de grande risco para a saúde dos catadores de lixo que trabalham no local e para quem vive no entorno do depósito. Segundo ele, o lixão, situado à beira das águas da Baia de Guanabara, local de trabalho para milhares de pessoas, apresenta um perigoso vazamento clandestino do chorume – líquido gerado pela degradação de produtos com alta carga poluidora que ameaça toda a região.

Ainda de acordo com o Promotor, o lixão de Gramacho não foi preparado para receber o lixo infectante, mas no local foi criada uma célula - destacada do depósito principal onde é atirado o chamado lixo comum – que está sendo usada como destino final deste resíduo especial – composto por, entre outros produtos, gás tóxico, seringas, agulhas, restos de limpezas de salas de cirurgia, curativos, gazes, ataduras, fraldas e materiais descartáveis que podem conter microorganismos causadores de doenças.

– Há segurança 24 horas por dia no depósito, os catadores são mantidos afastados e não há como eles operarem. O problema está no entorno do depósito, onde há um enorme vazamento clandestino que ainda não está sendo reprimido. O vazamento clandestino é o grande problema do resíduo ambientalmente inaceitável atirado sem tratamento adequado em Gramacho – diz Marcos Leal, para quem Gramacho não tem a menor condição de cumprir essa legislação, principalmente com relação aos resíduos dos hospitais públicos.

O promotor informou ainda que há uma grande preocupação do Ministério Público com relação ao problema ambiental e que já está em andamento um programa que tem por objetivo acabar com os aterros clandestinos. Mas enquanto não se chega a esse propósito, o que MP pode fazer é exercer um controle maior sobre os aterros e com a ajuda do estado adequar os municípios a uma nova situação.

– Na cidade do Rio de Janeiro, em particular, temos dois ou três locais em que isso (acabar com os aterros clandestinos) ainda é possível. Mas na maioria dos lugares, que antes recebiam esse material sem controle algum, o que se pode fazer atualmente é aumentar a vigilância e combater as irregularidades. Mas o termo mais adequado para o que se pode fazer hoje é “controlar” esse passivo ambiental que herdamos – sentencia Marcus Leal.

Anvisa regulamentou descarte do lixo hospitalar

Segundo dados oficiais da última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (2000), realizada pelo IBGE, são produzidas, no Brasil, mais de 228 mil toneladas por dia de lixo hospitalar. Todo esse material coletado tem os mais variados destinos finais, como lixões (21%), aterros controlados (37%), aterros sanitários (36,2%), entre outros.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu, em 2003, regras nacionais sobre acondicionamento e tratamento do lixo hospitalar gerado, da origem ao destino - aterramento, radiação e incineração - atingindo hospitais, clínicas, consultórios, laboratórios, necrotérios e outros estabelecimentos de saúde.

Os resíduos perigosos são tema da Resolução RDC nº 33/03, que, antes de aprovada, foi discutida com representantes de todos os setores envolvidos, como meio ambiente, limpeza urbana, indústria farmacêutica, associações e sociedades de especialidades médicas.
De acordo com a Resolução RDC nº 33/03, os resíduos serão classificados como:

• Grupo A (potencialmente infectantes) - que tenham presença de agentes biológicos que apresentem risco de infecção, como bolsas de sangue contaminado;

• Grupo B (químicos) - que contenham substâncias químicas capazes de causar risco à saúde ou ao meio ambiente, independente de suas características inflamáveis, de corrosividade, reatividade e toxicidade. Por exemplo, medicamentos para tratamento de câncer, reagentes para laboratório e substâncias para revelação de filmes de Raio-X;

• Grupo C (rejeitos radioativos) - materiais que contenham radioatividade em carga acima do padrão e que não possam ser reutilizados, como exames de medicina nuclear;

• Grupo D (resíduos comuns) - qualquer lixo que não tenha sido contaminado ou possa provocar acidentes, como gesso, luvas, gazes, materiais passíveis de reciclagem e papéis;

• Grupo E (perfurocortantes) - objetos e instrumentos que possam furar ou cortar, como lâminas, bisturis, agulhas e ampolas de vidro.

Quem desobedece aos critérios é punido de acordo com a Lei 6.437/77, que prevê de notificação a multas que vão de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. As vigilâncias sanitárias estaduais e municipais são responsáveis pela fiscalização.

As empresas prestadoras de serviço de limpeza têm que comprovar que seus profissionais foram treinados para prevenir e reduzir riscos de acidentes. Essa é uma das exigências para contratação das companhias e uma das condições para participação em licitações.

Jornal Correio

NOBEL DA MEDICINA - 2008

Nobel de Medicina premia virologistas por pesquisas sobre câncer e aids
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Estocolmo, 6 out (EFE).- O Prêmio Nobel de Medicina 2008 reconheceu hoje as pesquisas de três virologistas que, com suas descobertas, permitiram um salto qualitativo determinante para a identificação e o tratamento do câncer de colo do útero e da aids, duas doenças que matam milhões de pessoas todos os anos.

O alemão Harald zur Hausen foi premiado por descobrir a relação entre o papilomavírus (HPV) e o câncer do colo do útero, enquanto os franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi foram distintos por terem descoberto o vírus da imunodeficiência humana (HIV), informou hoje em Estocolmo o Instituto Karolinska, que concede o prêmio.

Indo contra as teorias dominantes na década de 1970, Zur Hausen (Gelsenkirchen, 1936) postulou que o HPV desempenhava um papel no desenvolvimento do câncer de colo do útero, o segundo mais comum entre as mulheres.

Zur Hausen disse que, se as células tumorais continham um vírus cancerígeno, deviam esconder DNA viral em seus genomas e dedicou uma década a pesquisar as centenas de variantes de HPV conhecidas.

A partir da descoberta de DNA do HPV em biópsias de câncer de colo do útero, Zur Hausen identificou em 1983 o HPV16 e depois o HPV18, que clonou um ano depois.

Graças a sua demonstração desta propriedade do HPV, foi possível o avanço do conhecimento sobre este tipo de câncer e sobre os fatores de predisposição à persistência viral e à transformação celular, possibilitando o desenvolvimento de uma vacina, que está no mercado desde 2006.

Já Barré-Sinoussi (Paris, 1947) passou a fazer parte da equipe de virologistas de Luc Montagnier (Chabris, 1932) no Instituto Pasteur em 1974. Juntos começaram a trabalhar sete anos depois na busca do agente causador de uma síndrome que gerou comoção mundial e causou milhões de vítimas: a aids.

Dois anos depois, descobriram o vírus causador da aids, o HIV, cuja produção tinham identificado em linfócitos de pacientes com gânglios linfáticos alterados em quadros avançados de imunodeficiência adquirida e em sangue de pacientes com síndrome em fase terminal.

Os cientistas franceses caracterizaram este retrovírus como o primeiro lentivírus - com período de incubação muito longo - humano conhecido baseado em suas propriedades morfológicas, bioquímicas e imunológicas.

Era 1984 quando isolaram várias amostras de pacientes com infecções por relações sexuais, por transfusão de sangue e de mães que passaram a síndrome para seus filhos.

Sua descoberta tornou possível uma clonagem rápida do genoma do HIV-1, fundamental para determinar o comportamento do vírus, o diagnóstico da doença e o desenvolvimento de remédios antivirais, que limitaram a expansão da pandemia, além de impulsionar os estudos sobre sua origem e evolução.

O Prêmio Nobel de Medicina é um apoio a Montagnier na polêmica sobre quem realmente descobriu o HIV, feito atribuído por mais de uma década ao americano Robert Gallo.

Os dois selaram a paz anos mais tarde para unirem esforços na luta contra a aids, depois que Gallo admitiu que Montagnier realmente descobriu o HIV.

Isto é comumente aceito no mundo científico, apesar dos inquestionáveis méritos da equipe de Gallo, entre outras coisas, na demonstração definitiva de que o HIV é o causador da aids, como reconheceu, sem citá-los diretamente, o Instituto Karolinska.

Montagnier e Gallo dividiram em 2000 o Prêmio Príncipe de Astúrias de Pesquisa Científica e Técnica por seus trabalhos sobre o HIV, e os dois, assim como Barré-Sinoussi, continuam trabalhando em um novo desafio: o desenvolvimento de uma vacina.

O Governo francês parabenizou hoje os pesquisadores Barré-Sinoussi e Montagnier.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, manifestou suas felicitações aos premiados com o primeiro Nobel de Medicina, que volta a ser concedido a uma equipe de franceses desde 1980, quando Jean Dausset foi distinto por suas descobertas na técnica dos transplantes.

"A descoberta da aids no início dos anos 1980 marcou o começo de um período de intensas pesquisas que conduziram aos tratamentos anti-retrovirais. Hoje, milhões de pessoas no mundo se beneficiam destes tratamentos", declarou Sarkozy em comunicado.

"Este Prêmio Nobel honra o conjunto da medicina e da pesquisa biomédica francesa e européia", acrescentou Sarkozy, que considerou que é um "estímulo para continuar as reformas que favoreçam a excelência e a inovação no campo da pesquisa".

O ministro de Assuntos Exteriores da França, Bernard Kouchner, médico de profissão, transferiu suas "mais calorosas felicitações" a Montagnier e Barré-Sinoussi e lembrou que os trabalhos destes cientistas "contribuíram de forma decisiva para a mobilização da comunidade internacional" em relação à aids.

Em 2007, o prêmio foi para os geneticistas Mario Capecchi, Oliver Smithies e Martin J. Evans por causa de suas descobertas relacionadas às células-tronco embrionárias e à recombinação do DNA em mamíferos.

Zur Hausen ficará com a metade das 10 milhões de coroas suecas do prêmio, enquanto os franceses ficarão com um quarto do valor.

O anúncio do Nobel de Medicina abre a rodada de concessão dos prêmios, já que depois virão o de Física, de Química, de Literatura e da Paz, entre amanhã e a próxima sexta, fechando com o de Economia, na próxima semana. EFE

alc/wr/fal

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'UM DIA FELIZ PARA INFECTOLOGISTAS', AFIRMA MÉDICO ITALIANO
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MILÃO, 6 OUT (ANSA) - "Hoje é um dia feliz para nós, infectologistas", disse Mauro Moroni, diretor da Divisão de Doenças Infecciosas do hospital Sacco de Milão, um dos mais importantes centros da Itália para o tratamento da Aids, e diretor da Associação Nacional da Luta contra a Aids (Anlaids) Lombardia, comentando a entrega do prêmio Nobel da Medicina aos pesquisadores franceses Françoise Barre-Sinoussi e Luc Montagnier, que descobriram o vírus da imunodeficiência humana (HIV), e ao pesquisador alemão Harald zur Hausen, que conseguiu isolar o vírus do papiloma humano (HPV).
Moroni define como "devida", há 25 anos da "histórica" descoberta do vírus do Hiv, a atribuição do Nobel ao grupo de Montagnier.
Um prêmio, acrescenta, "que gostaria que fosse estendido idealmente a todos aqueles pesquisadores que nesses anos contribuíram para transformar uma infecção com 100% de mortalidade em uma doença curável com a qual se pode conviver: hoje os doentes infectados podem morrer de velhice graças a eles".
Estima-se que os casos de Aids no mundo alcancem os 33 milhões. Dois milhões são crianças e adolescentes, dos quais 90% vivem na África. O vírus do papiloma humano provoca quase meio milhão de tumores de colo de útero e 250 mil mortes anualmente.
Moroni, porém, não quis comentar a exclusão de Robert Gallo, pesquisador que anunciou ter descoberto o vírus simultaneamente ao grupo de Montagnier: "Imagino que se desencadeara uma polêmica, mas não quero ser envolvido. Penso que a entrega do Nobel seja correta e não quero perturbar a felicidade do prêmio", acrescentou.
O diretor da Anlaids Lombardia considera positivo que o Nobel seja entregue a três pesquisadores europeus. "Trata-se de um bom sinal para a pesquisa européia que demonstra como o Velho Continente seja ainda capaz de jogar num papel de primeiro plano". (ANSA)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

EUTANÁSIA – Sono eterno ou doença persistente?

“Quase metade dos médicos de Oncologia defendem a eutanásia”

“As escrituras dizem que mais vale a morte do que a vida sem proveito”


O sociólogo Moisés Espírito Santo defende que o suicídio medicamente assistido não deveria sequer ser considerado “fracturante”. O Estado não se deve intrometer porque a eutanásia não traz prejuízo a ninguém. O especialista não compreende como o assunto pode ter a oposição da Igreja já que não há uma demonstração bíblica que condene a eutanásia. Pelo contrario. Há um versículo do “Eclesiástico” que diz: “É melhor a morte do eu uma vida sem proveito. Mais vale o sono eterno do que uma doença persistente”.
Argumentação diferente tem João César das Neves. “Temas como a eutanásia são meros pretextos para os partidos de esquerda se afirmarem. Há outros problemas reais a preocupar os portugueses”. O economista da Universidade Católica não acredita que no futuro haja qualquer referencia sobre a eutanásia. “A classe política está ‘queimada’ com as consultas populares”. César das Neves crê que o assunto irá ser, mais tarde ou mais cedo, “imposto de cima para baixo”.
Para o Presidente da Associação Portuguesa de Bioética, Rui Nunes, não faz sentido discutir o papel da família no apoio aos idosos e sem melhorar a rede de cuidados continuados. “Não se deve passar do oito para o 80”.
O novo Código Deontológico dos médicos proíbe a ajuda da eutanásia. Mas a questão divide a classe medica: um estudo revela que 40% dos médicos oncológicos defende o suicídio assistido. “A eutanásia não deve ser legalizada, mas é admissível em situações excepcionais”, diz o autor do trabalho, Ferraz Gonçalves, chefe de serviço dos cuidados paliativos do Instituto Português de Oncologia do Porto.

‘Hugo Franco’

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

SIDA - VIRUS EXISTE HÁ CEM ANOS

O vírus da SIDA circula entre a população mundial há cem anos,de acordo com um estudo cientifico, publicado na revista 'Nature'. A analise genética do vírus situou a origem do VIH entre 1884 e 1924, com o relatório a focar as principais previsões em 1908.
O vírus foi reconhecido em 1981 e, até agora, estimava-se que tivese surgido em 1930.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

NANOTERAPIA EM MARCHA

E se um dia for possível curar doenças neurológicas por dentro do cérebro? Ir à raiz dos problemas, já se sabe, é o melhor caminho para os resolver. Mas, no caso de um órgão tão complexo, como fazer empreitada tão ambiciosa?
A resposta está num novo tipo de implantes cerebrais desenvolvido por uma equipa de investigadores da Universidade do Texas. O principal não é o novo, mas ainda se encontra em fase de testes em vários centros de investigação hospitalares dos EUA.
A equipa texana, liderada por Edward Keefe, conseguiu aumentar a resistência dos implantes e o seu funcionamento. O objetivo é desenvolver eléctrodos que servem de estimulantes dos neurônios /as células do cérebro) danificados por doenças como a depressão ou o Parkinson.
Para o conseguir, mais não foi preciso do que encolher um pouco os eléctrodos usados nos implantes. Essa redução é feita traves de nanotubos (ligações minúsculas cujas componentes só são visíveis ao microscópio de carbono, que podem limitar a área de acção dos eléctrodos. Com as técnicas convencionais – que ainda não foram testadas em seres humanos – as áreas cerebrais que os electrodos alcançam são maiores. Por isso, podem estimular neurônios saudáveis, ao contrário do que se pretende com a terapia.
O novo sistema de Keefe também pretende durar mais tempo. Como funcionam a energia electrica, os eletrodos têm prazo de validade. Em laboratório, testados. Em ratinhos, não ultrapassaram os 60 dias em funcionamento. Num paciente humano, seria muito incómodo e dispendioso voltar ao consultório médico para fazer fazer novos implantes.
Para já, a palavra cura não consta do dicionário de Keefe e de todos os outros colegas de oficio americanos com esta técnica. Alem disso, ela não implica, ainda, mais do que uma travagem da progressão das doenças a que se destina.
Mas os eléctodos em nanutubos ainda podem vir a dar que falar, se conjugados com outras terapias.


‘Ricardo Nabais’