terça-feira, 7 de outubro de 2008

NOBEL DA MEDICINA - 2008

Nobel de Medicina premia virologistas por pesquisas sobre câncer e aids
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Estocolmo, 6 out (EFE).- O Prêmio Nobel de Medicina 2008 reconheceu hoje as pesquisas de três virologistas que, com suas descobertas, permitiram um salto qualitativo determinante para a identificação e o tratamento do câncer de colo do útero e da aids, duas doenças que matam milhões de pessoas todos os anos.

O alemão Harald zur Hausen foi premiado por descobrir a relação entre o papilomavírus (HPV) e o câncer do colo do útero, enquanto os franceses Luc Montagnier e Françoise Barré-Sinoussi foram distintos por terem descoberto o vírus da imunodeficiência humana (HIV), informou hoje em Estocolmo o Instituto Karolinska, que concede o prêmio.

Indo contra as teorias dominantes na década de 1970, Zur Hausen (Gelsenkirchen, 1936) postulou que o HPV desempenhava um papel no desenvolvimento do câncer de colo do útero, o segundo mais comum entre as mulheres.

Zur Hausen disse que, se as células tumorais continham um vírus cancerígeno, deviam esconder DNA viral em seus genomas e dedicou uma década a pesquisar as centenas de variantes de HPV conhecidas.

A partir da descoberta de DNA do HPV em biópsias de câncer de colo do útero, Zur Hausen identificou em 1983 o HPV16 e depois o HPV18, que clonou um ano depois.

Graças a sua demonstração desta propriedade do HPV, foi possível o avanço do conhecimento sobre este tipo de câncer e sobre os fatores de predisposição à persistência viral e à transformação celular, possibilitando o desenvolvimento de uma vacina, que está no mercado desde 2006.

Já Barré-Sinoussi (Paris, 1947) passou a fazer parte da equipe de virologistas de Luc Montagnier (Chabris, 1932) no Instituto Pasteur em 1974. Juntos começaram a trabalhar sete anos depois na busca do agente causador de uma síndrome que gerou comoção mundial e causou milhões de vítimas: a aids.

Dois anos depois, descobriram o vírus causador da aids, o HIV, cuja produção tinham identificado em linfócitos de pacientes com gânglios linfáticos alterados em quadros avançados de imunodeficiência adquirida e em sangue de pacientes com síndrome em fase terminal.

Os cientistas franceses caracterizaram este retrovírus como o primeiro lentivírus - com período de incubação muito longo - humano conhecido baseado em suas propriedades morfológicas, bioquímicas e imunológicas.

Era 1984 quando isolaram várias amostras de pacientes com infecções por relações sexuais, por transfusão de sangue e de mães que passaram a síndrome para seus filhos.

Sua descoberta tornou possível uma clonagem rápida do genoma do HIV-1, fundamental para determinar o comportamento do vírus, o diagnóstico da doença e o desenvolvimento de remédios antivirais, que limitaram a expansão da pandemia, além de impulsionar os estudos sobre sua origem e evolução.

O Prêmio Nobel de Medicina é um apoio a Montagnier na polêmica sobre quem realmente descobriu o HIV, feito atribuído por mais de uma década ao americano Robert Gallo.

Os dois selaram a paz anos mais tarde para unirem esforços na luta contra a aids, depois que Gallo admitiu que Montagnier realmente descobriu o HIV.

Isto é comumente aceito no mundo científico, apesar dos inquestionáveis méritos da equipe de Gallo, entre outras coisas, na demonstração definitiva de que o HIV é o causador da aids, como reconheceu, sem citá-los diretamente, o Instituto Karolinska.

Montagnier e Gallo dividiram em 2000 o Prêmio Príncipe de Astúrias de Pesquisa Científica e Técnica por seus trabalhos sobre o HIV, e os dois, assim como Barré-Sinoussi, continuam trabalhando em um novo desafio: o desenvolvimento de uma vacina.

O Governo francês parabenizou hoje os pesquisadores Barré-Sinoussi e Montagnier.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, manifestou suas felicitações aos premiados com o primeiro Nobel de Medicina, que volta a ser concedido a uma equipe de franceses desde 1980, quando Jean Dausset foi distinto por suas descobertas na técnica dos transplantes.

"A descoberta da aids no início dos anos 1980 marcou o começo de um período de intensas pesquisas que conduziram aos tratamentos anti-retrovirais. Hoje, milhões de pessoas no mundo se beneficiam destes tratamentos", declarou Sarkozy em comunicado.

"Este Prêmio Nobel honra o conjunto da medicina e da pesquisa biomédica francesa e européia", acrescentou Sarkozy, que considerou que é um "estímulo para continuar as reformas que favoreçam a excelência e a inovação no campo da pesquisa".

O ministro de Assuntos Exteriores da França, Bernard Kouchner, médico de profissão, transferiu suas "mais calorosas felicitações" a Montagnier e Barré-Sinoussi e lembrou que os trabalhos destes cientistas "contribuíram de forma decisiva para a mobilização da comunidade internacional" em relação à aids.

Em 2007, o prêmio foi para os geneticistas Mario Capecchi, Oliver Smithies e Martin J. Evans por causa de suas descobertas relacionadas às células-tronco embrionárias e à recombinação do DNA em mamíferos.

Zur Hausen ficará com a metade das 10 milhões de coroas suecas do prêmio, enquanto os franceses ficarão com um quarto do valor.

O anúncio do Nobel de Medicina abre a rodada de concessão dos prêmios, já que depois virão o de Física, de Química, de Literatura e da Paz, entre amanhã e a próxima sexta, fechando com o de Economia, na próxima semana. EFE

alc/wr/fal

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'UM DIA FELIZ PARA INFECTOLOGISTAS', AFIRMA MÉDICO ITALIANO
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MILÃO, 6 OUT (ANSA) - "Hoje é um dia feliz para nós, infectologistas", disse Mauro Moroni, diretor da Divisão de Doenças Infecciosas do hospital Sacco de Milão, um dos mais importantes centros da Itália para o tratamento da Aids, e diretor da Associação Nacional da Luta contra a Aids (Anlaids) Lombardia, comentando a entrega do prêmio Nobel da Medicina aos pesquisadores franceses Françoise Barre-Sinoussi e Luc Montagnier, que descobriram o vírus da imunodeficiência humana (HIV), e ao pesquisador alemão Harald zur Hausen, que conseguiu isolar o vírus do papiloma humano (HPV).
Moroni define como "devida", há 25 anos da "histórica" descoberta do vírus do Hiv, a atribuição do Nobel ao grupo de Montagnier.
Um prêmio, acrescenta, "que gostaria que fosse estendido idealmente a todos aqueles pesquisadores que nesses anos contribuíram para transformar uma infecção com 100% de mortalidade em uma doença curável com a qual se pode conviver: hoje os doentes infectados podem morrer de velhice graças a eles".
Estima-se que os casos de Aids no mundo alcancem os 33 milhões. Dois milhões são crianças e adolescentes, dos quais 90% vivem na África. O vírus do papiloma humano provoca quase meio milhão de tumores de colo de útero e 250 mil mortes anualmente.
Moroni, porém, não quis comentar a exclusão de Robert Gallo, pesquisador que anunciou ter descoberto o vírus simultaneamente ao grupo de Montagnier: "Imagino que se desencadeara uma polêmica, mas não quero ser envolvido. Penso que a entrega do Nobel seja correta e não quero perturbar a felicidade do prêmio", acrescentou.
O diretor da Anlaids Lombardia considera positivo que o Nobel seja entregue a três pesquisadores europeus. "Trata-se de um bom sinal para a pesquisa européia que demonstra como o Velho Continente seja ainda capaz de jogar num papel de primeiro plano". (ANSA)

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