domingo, 26 de outubro de 2008

Cientistas criam próstata com células estaminais

Cancro. Investigadores norte-americanos conseguiram

isolar as células estaminais da próstata de ratos, transplantando-as para criar novas glândulas. Esta pesquisa permitirá estudar como as células são capazes de crescer indefinidamente e como se pode travar esse crescimento
A primeira próstata fabricada a partir de células estaminais já é uma realidade. Pelo menos nos ratos do laboratório da empresa norte-americana Genetech. De acordo com o último número da revista Nature, a detecção de células estaminais na próstata dos animais possibilitou a posterior regeneração total da glândula. Os resultados do estudo poderão ser mais um passo no combate ao cancro da próstata.

Arnaldo Figueiredo, professor de Urologia na Faculdade de Medicina de Coimbra, explica a importância desta investigação: "Uma das vantagens é conseguir desenvolver um modelo experimental da próstata num rato. É um modelo em que se pode perceber como estimular ou inibir o órgão, desenvolver fármacos e fazer a respectiva translação para o humano." Como o cancro da próstata é decorrente de um desenvolvimento anormal de tecido, conseguir fazer crescer uma próstata dá a possibilidade de reproduzir os mecanismo do cancro e, eventualmente, compreender como se pode travar a multiplicação desregulada das células.

Para este primeiro passo, que é fazer crescer uma próstata, os investigadores procuraram identificar quais as células estaminais da glândula. Estas células caracterizam-se pela sua grande facilidade em dividir-se e em transformar-se em qualquer tecido do corpo humano que tenha sido danificado ou que precise de se desenvolver. Compreendendo a importância destas células, os cientistas procuraram encontrar um marcador que as distinguisse das outras células da próstata. Deste modo, seria possível reutilizá-las para compreender a formação de tecidos.

Segundo refere Wei-Qiang Gao, um dos responsáveis pela experiência, um estudo recente já sinalizara que as regiões da próstata do rato próximas da uretra podiam constituir um "nicho de células estaminais". De forma a perceberem que marcadores específicos se concentravam ali com maior prevalência, compararam as células desta zona com as das outras regiões, identificando um elemento biológico chamado CD117. A expressão deste marcador "está especialmente evidenciada na zona próxima da uretra e os seus níveis aumentam depois de uma castração química induzida. Duas características que indicam tratar-se de células estaminais adultas", refere o documento da investigação, citado pelo jornal espanhol El Mundo.

Ainda para provar que estas células podiam transformar-se em novos órgãos, os especialistas misturaram as células estaminais num gel com células do estroma de ratos, capazes de auxiliar o crescimento dos tecidos. Quando o preparado foi introduzido no fígado de ratos, regenerou-se num tecido prostático funcional.

Também ao transplantarem uma única célula estaminal para os ratos, os cientistas conseguiram observar o crescimento de uma nova próstata. Concretamente, a partir de 97 células estaminais implantadas individualmente, a equipa conseguiu gerar 14 próstatas nas cobaias. De acordo com o El mundo, Gao qualificou o trabalho como "um avanço espectacular na investigação de células estaminais".

Porém, o estudo de células estaminais funcionará mais como um modelo do funcionamento do cancro da próstata do que como qualquer forma de cura. De facto, as células estaminais são normalmente tidas em conta "pelo seu uso no conceito de regeneração de tecidos. Mas no caso da próstata não é a sua recuperação que está em causa", salienta Arnaldo Figueiredo.

Mesmo que a descoberta esteja longe de poder reproduzir-se em humanos, como advertem os próprios investigadores na revista Nature, abrem-se novos caminhos para a compreensão de como estas células são capazes de se auto-renovar indefinidamente.

Por outro lado, a evolução do tratamento do cancro da próstata tem conseguido um grande aumento da sobrevida e a comunidade científica não pára de investigar.


'Sara Gamito'

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