terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O JOGO DA SEDUÇÃO

“Os factores que numa pessoa atraem a outra e vice-versa variam conforme a personalidade, as expectativas, os desejos e as prioridades de cada um. E são diferentes dos que imperavam no passado”

Dantes, quando as raparigas tinham a sua primeira menstruação ficavam pois capacitadas a ser mães. Os rapazes por sua vez, ao terem as primeiras ejaculações, eram potenciais pais. Mas se durante alguns milênios as relações reprodutivas terão sido (como são ainda em alguns pontos do planeta) diferenciadas dos afectos, rapidamente as coisas começam a evoluir no sentido da monogamia (mesmo que seqüencial). O sentimento de poder masculino, associado ao “ter” (ter “pilinha”, leia-se), acasalou bem com o sentimento de “não ter”, com o complexo de castração das mulheres, com o culto do “ser” (e ás vezes do “parecer”). Eles a quererem conquistar, elas a quererem deixar-se conquistar. Estavam na mesa todos os ingredientes necessários ao jogo. Mas não só. Também se assumiam grandes responsabilidades, como a escolha do pai ou da mãe dos filhos, do companheiro da companheira de uma vida e, tantas vezes, do herdeiro ou herdeira de fortunas, bens, terras ou outras coisas semelhantes. Fazia-se a integração na família, no clã, na tribo ou na comunidade – a escolha prévia ao “acasalamento” passou também a ser mais elaborada e a envolver outras componentes. Acresce que a chamada “lei do mais forte” que, de formas diversas, afastava os potenciais concorrentes até deixar o que, geralmente pela sua força física, se conseguia impor, perdeu muita da sua vitalidade. A astucia, o poder de sedução, o charme (e tantas outras coisas), começaram a ganhar valor. Bem como os verdadeiros afectos e sentimentos.
É assim que surge o namoro – uma fase que começa, muitas vezes, sem se saber muito bem porquê e que evolui com diversos ritmos e para diferentes desenlaces. De facto, desconhece-se o que numa nova pessoa, atrai outra – provavelmente muitos factores, mas valorizados conforme a personalidade, as expectativas, os desejos e prioridades de cada um. As feromonas, espécie de hormonas sentidas a larga distancia pelo nariz, têm o condão de atrair – a ciência explica isso. A beleza (a graça de ser-se “giro” mesmo se feio), a inteligência, a ternura, a simpatia, o humor, o feitio, a elegância (no corpo e na maneira de ser), enfim, são alguns entre tantos e tantos “ingredientes” que provocam a atracção e o desejo de conquistar o outro ou a outra. Depois deste primeiro “clique”, segue-se outra fase: a da confirmação da escolha, que terá de passar por um melhor conhecimento dos pontos fracos e fortes da pessoa amada. Mas o pior é que a paixão e o desejo de conquista, pela sua natureza “transitoriamente patológica”, faz que freqüentemente (provavelmente sempre) se perca a noção crítica e a lucidez. Uma pessoa apaixonada não temos pés na terra pois para ela só o outro existe e o mundo e as pessoas são algo que perdem na prioridade e no valor”.


‘Mário Cordeiro’

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