Comparada com a crise financeira mundial, esta não tem nada de surpresa. Já se sabe que os frios de Inverno atacam as gargantas, sobretudo as das crianças, e provocam uma vaga de amigdalites e outras doenças febris. Dá para prever e, eventualmente, tomar medidas nos serviços de urgência pediátrica. O que se vê, no entanto, é que a crise geral arrasa tudo. E bate fundo nos serviços de saúde.
No sábado á tarde, a Urgência para crianças do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, era pior do que um purgatório. Quem por lá passou sentiu que aquilo só podia estar assim para castigo das pessoas. Destina-se a atender crianças, mas é dos raros locais públicos de espera onde não há um aparelho de TV para distrair.
O resultado é terrível. as crianças doentes, obrigadas a esperar horas pelas consultas, desatam a chorar. Os pais sem paciência passam-se dos carretos e quem para se acalmar olha à volta sente as piores ganas. As paredes enegrecidas estão a precisar de pintura, há cadeiras de plástico estragadas a aguardar substituição. Mães despem os filhos à pressa um saco de plástico para a criança, maldisposta, vomitar. O cenário com o despojo dos pequenitos nus dá ares de uma antecâmara de extermínio. Os exaltados por estarem mais de duas horas a sofrer por uma consulta que se anunciava com uma espera de uma hora revoltam-se. O que mais se ameaça é ir lá dentro, aos gabinetes médicos, e partir tudo.
Confrontados com a situação, a resposta dos médicos é de que é sempre assim com a crise do Inverno. E que há falta de pessoal. Pergunta-se se é resposta que se dê. O Governo não pode servir com miséria os utentes do Serviço Nacional de Saúde quando o Estado não aceita que se deixe de pagar impostos por falta de dinheiro.
Há uma razão particular para trazer este caso ao jornal e não o deixar pelo livro amarelo das reclamações nos serviços públicos. Numa reportagem, enfrentei há dias com um fotógrafo dois vigilantes de um local privado de uso publico. Um deles ameaçou chamar a policia para nos prender; o outro, ao saber que se tratava do “Correio da Manhã”, mostrou-se compreensivo. “Quando a minha mãe foi para o hospital – explicou – estavam a demorar muito a operá-la e eu escrevi para o CM a denunciar o caso. Publicaram a carta e depressa houve cirurgias. À minha mãe e às outras doentes da enfermaria”. Um jornal cumpre quando se afirma ao Aldo dos cidadãos.
‘João Vaz’
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