quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

UMA TERAPIA GENÉTICA CONTRA O HIV VAI SER TESTADA NOS EUA

A primeira fase do ensaio clinico, destinada principalmente a avaliar a inocuidade do novo tratamento, está prestes a começar.”

Doze doentes seropositivos com problemas de resistência aos tratamentos contra o vírus da sida começaram esta semana a ser recrutados para participar no primeiro ensaio clínico de uma terapia genética anti-HIV, destinada a imunizar de forma personalizada as células de acda um dos doentes contra o temível vírus.
Ninguém sabe se este tratamento que consiste em desactivar um gene indispensável à entrada do HIV nas células imunitárias humanas, poderá ou não funcionar um dia. Mas resultados promissores obtidos nos últimos meses levaram uma equipa da empresa californiana Sangamo BioScieences e da Universidade da Pensilvânia, liderada por Carl June, a avançar com a primeira fase da experiência.
À superfície dos linfócitos CD4 humanos (o principal alvo do HIV), há uma proteína, a CCR5, sem a qual o HIV não consegue invadir essas células. Sabe-se desde 1996 que uma pequena minoria de pessoas, naturalmente imunes ao HIV, são portadoras de uma mutação precisamente no gene que comanda o fabrico da proteína CCR5. Essas pessoas herdaram duas cópias não funcionais do gene – uma vinda do pai, outra da mãe. E como nenhuma delas funciona, a proteína CCR5 não é produzida pelos linfócitos CD4 – e não aparece à sua superfície, o que impede a entrada do HIV.
Para inactivar deliberadamente o gene CCR5, os cientistas utilizam uma proteína sintética (cujo nome técnico é ‘nuclease dedos de zinco’ – em inglês ‘zinc finger nuclease’). Injectada nos linfócitos, ela retira um bocadinho de ADN a cada uma das duas cópias do gene CCR5. a seguir, a célula ‘remenda’ o gene, mas este, sem aquele bocadinho, já não funciona. No fundo, imita-se a natureza: tudo se passa como se os linfócitos tivessem sofrido espontaneamente a mutação imunizante. Há seis meses, June e os colegas já tinham experimentado o efeito desta desactivaçao deliberada do gene CCR5 em linfócitos humanos em cultura e em ratinhos imunodeficientes infectados com HIV. Em ambos os casos, o tratamento permitiu reduzir a carga viral e, nos animais, fez aumentar o numero de linfócitos CD4 (indicador de uma certa ‘regressão’ da doença).
Concretamente, os cientistas tencionam agora colher linfócitos não infectados junto dos 12 voluntários, torná-los mutantes para o CCR5 num tubo de ensaio, cultivá-los para obter uns 10 mil milhões de linfócitos mutantes e por último reintroduzi-los nos seus donos. O que esperam é que – para além de não ter efeitos indesejáveis – o tratamento surta efeitos positivos semelhantes aos observados ‘in vitro’ e nos ratinhos.
‘Esta é a primeira vez que temos a capacidade de tornar as células T dos doentes permanentemente resistentes à infecção e estamos muito excitados’ diz June, citado pela Reuters.


‘Ana Gerschenfeld’

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