terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dormir de mais faz mal?

A maior parte dos adultos, principalmente os adolescentes, adoram o pensamento de desligar o alarme e dormir até tarde. Vamos tarde para a cama, acordamos cedo e passamos os nossos dias a beber café, a comer açúcar, a bebericar Coca-Cola e a fumar cigarros atrás uns dos outros, tudo isto num esforço para nos mantermos vivos de modo a trabalhar o dia todo, e depois recomeçar o ciclo todo outra vez algumas horas mais tarde.

Dizem-nos que toda esta privação de sono mais tarde acabará por ter o seu preço. Afecta-nos fisiologicamente, cansando-nos, causando "stress" e excesso de peso. E afecta os que estão à nossa volta, tornando-nos rezingões, letárgicos, irritáveis e aumentando as possibilidades de causarmos acidentes no trabalho e na auto-estrada.

Mas imaginem por segundos que o inverso era verdade. Imaginem que as oito horas de sono que os responsáveis pela saúde há muito recomendam podiam mesmo fazer-nos mal. E se dormir muito fosse pior do que dormir pouco?

Isso é exactamente o que os cientistas suspeitam agora. Esqueça-se das velhas ideias de quanto é demasiado sono ou poucas horas de sono. A pesquisa do mundo do sono virou-se para outro lado em 2002, quando se descobriu num estudo de mais de um milhão de americanos adultos - depois de se verificar a idade, a dieta alimentar, o tabaco e outras importantes variáveis - que dormir mais de sete horas por noite está associado a uma vida mais curta.

Estas descobertas foram chocantes. No período de investigação de seis anos, o risco de morrer aumentou enquanto as pessoas ficavam na cama mais de sete horas a dormir. As pessoas que tinham uma média de oito horas por noite tinham mais 12% de hipóteses de morte antecipada e as pessoas que tomavam comprimidos para dormir também tinham mais probabilidades de morrer mais novos.

Seis a sete horas de sono por noite pareciam ser a dose mágica que leva a uma vida mais dilatada. Um estudo único com descobertas tão inesperadas como estas pode muitas vezes não ser valorizado por um público incrédulo que o considera um acaso. Mas desde a sua publicação, vários outros estudos, incluindo um no Brigham e Women's Hospital, em Boston, chegaram à mesma conclusão.

Também se demonstrou claramente que a esperança de vida diminui quando o sono cai para menos de sete horas, embora não tão abruptamente como acontece com oito horas ou mais. Mas a parte mais interessante disto tudo é que ninguém sabe exactamente porque é que ter mais de sete horas de olhos fechados, a longo prazo, é tão mau para a nossa saúde.

Dormir de mais será como comer de mais. Podemos comer mais comida do que a que precisamos, beber mais líquidos do que os que precisamos, empanturrarmo-nos em doces e álcool e ao mesmo tempo apreciarmos cada segundo em que o fazemos. Mas mais tarde pagamos um preço por estes excessos, sob a forma de aumento de peso, doença e outros problemas de saúde. Possivelmente haverá um aspecto desconhecido do sono que funcione de forma semelhante e que se vire contra nós.

Então, mais uma vez, há a forte possibilidade de sono a mais não ser a causa da doença, mas o resultado dela. As pessoas que dormem mais podem simplesmente ter doenças não diagnosticadas que causam a fadiga - diabetes, apneia do sono, problemas de coração - e a morte prematura.

A maior parte dos especialistas do sono estão relutantes em retirar conclusões firmes para já porque a relação entre dormir muito e uma esperança de vida mais curta ainda é tecnicamente uma correlação. A causa e o efeito ainda têm de ser estabelecidos. Entretanto, talvez seja melhor levar a ligação a sério. Encare-a como a forma de o seu corpo lhe dizer para se deixar de preguiças, sair da cama e apreciar o dia.


'Anahad O'Connor, do 'The New York Times'

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