terça-feira, 16 de setembro de 2008

VULNERABILIDADE: HIV/AIDS E PESSOAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS


Cerca de 30 anos se passaram desde que o vírus do HIV passou a fazer parte do cotidiano da humanidade, trazendo sofrimento, colocando novos desafios à ciência e à comunidade e exigindo estratégias de prevenção e tratamento. Somente nos últimos poucos anos, porém, alguns grupos especialmente vulneráveis estão sendo incluídos nas pesquisas, nas campanhas de prevenção e na busca por qualificar o atendimento a pessoas vivendo com HIV/AIDS.

Entre estes grupos vulneráveis estão as pessoas com necessidades especiais. Trata-se de um grupo altamente heterogêneo, composto por mulheres e homens, jovens e crianças que vivem em diferentes contextos socioeconômicos e culturais e que enfrentam o desafio de estudar, trabalhar, constituir família, em uma sociedade pouco preparada para aceitar diferenças visuais, auditivas, cognitivas, físicas ou de sofrimento mental.

Preconceitos de toda ordem têm dificultado a inclusão destas pessoas no cenário do HIV/Aids. Imaginar que pessoas portadoras de necessidades especiais não têm vida sexual ativa ou não são capazes de tomar decisões e realizar escolhas é um dos equívocos mais comuns, não raro de se ver até mesmo entre profissionais da educação e da saúde.

Em pesquisa realizada com adolescentes surdos em uma cidade do Rio Grande do Sul, vimos que as experiências no campo da sexualidade – iniciação sexual, escolha de parceiros, vida social – dos adolescentes surdos são muito similares às experiências de jovens ouvintes. No entanto, seu conhecimento sobre a realidade do HIV/Aids é muito menor, assim como seu nível de escolarização. Alto índice de abuso sexual foi também encontrado.

Estes fatores indicam que há uma maior vulnerabilidade e uma necessidade de maior atenção por parte da sociedade: campanhas sistemáticas de prevenção e orientação sexual adaptadas às especificidades de comunicação dos surdos (utilizando-se principalmente a Língua Brasileira de Sinais), estratégias de proteção contra a violência sexual e preparo de profissionais da saúde para garantir acessibilidade na prestação dos serviços são exemplos de iniciativas urgentes. Ao mesmo tempo, cabe à ciência, aos governos e órgãos financiadores incluí-los efetivamente nas pesquisas e no monitoramento da epidemia.

Nos últimos anos, novas leis e movimentos sociais têm ampliado os direitos e fortalecido a luta pela inclusão de pessoas surdas e pessoas portadoras de necessidades físicas, visuais, cognitivas ou de sofrimento mental em todos os setores da sociedade. Mas pode-se ainda dar um passo além.

Dadas as condições de acessibilidade, essas pessoas podem contribuir ativamente para a melhoria das suas próprias condições de vida e se integrar plenamente à sociedade nos esforços de prevenção e controle da epidemia e na garantia de qualidade de vida às pessoas vivendo com HIV/AIDS.


Cláudia Alquati Bisol é Professora e Pesquisadora do Curso de Psicologia da Universidade de Caxias do Sul/RS.

Sem comentários: