segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Listeriose faz 13 mortos na zona de Lisboa

A Direcção-Geral de Saúde ainda não o assumiu oficialmente mas foi nesse sentido a informação prestada na semana passada pelo laboratório de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto: os mais de vinte casos de listeriose registados em Lisboa permitem classificar a situação como «um surto».
Segundo soube o SOL, os responsáveis do laboratório do Porto – que é especialista no estudo deste tipo de bactérias e analisa as amostras remetidas regularmente pelos hospitais públicos – começaram por identificar, em cerca de 24 casos, o mesmo subtipo da bactéria que provoca a listeriose, o que não é comum nos casos de listeria que anualmente se registam em Portugal. Além disso, esses 24 casos surgiram concentrados na mesma zona – tendo os doentes sido tratados, na sua maioria, no Hospital Garcia de Orta, em Almada, e alguns deles, no Curry Cabral, em Lisboa.
«Confirmo a identificação do mesmo pulsotipo das bactérias em vários casos», declarou ao SOL Paula Teixeira, investigadora na área da segurança alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Porto, acrescentando: «Trata-se, de facto, de um número de casos acima do normal. O ano passado registaram-se 20 casos e, neste momento, temos mais do que isso, sendo casos muito concentrados numa região».
E adiantou: «Na minha opinião, poderemos, sim, estar perante um surto de listeriose. Mas essa é uma decisão que compete às autoridades de saúde».
A Direcção-Geral de Saúde (DGS), por seu lado, mantém que a situação continua a ser analisada, não tendo entretanto tomado qualquer outra medida senão a de ter activado «os mecanismos para esclarecimento e resposta adequada», alertando os médicos para estarem atentos aos doentes com a sintomatologia típica das intoxicações alimentares – «para porem a hipótese de se tratar de um caso destes» – e solicitando aos delegados de Saúde a notificação rápida dos casos que venham a surgir, explicou ao SOL Etelvina Calé, da DGS.
Segundo soube o SOL, entre estes 24 casos de listeriose, ocorreram cerca de 13 mortes – quase todos idosos muito doentes, com o sistema imunitário muito fragilizado. Isto além das duas grávidas que perderam os bebés, em consequência da mesma infecção. «São os grupos de risco», reconhece a especialista da DGS, confirmando as mortes mas lembrando: «Não ocorreram todos nos últimos dias. Estes casos vêm-se registando desde o início do ano». Por seu lado, a investigadora Paula Teixeira diz que «a listeriose tem uma taxa de mortalidade elevado, dependendo das estirpes».
Inquérito tarda
Esta infecção transmite-se pela ingestão de alimentos contaminados, provoca febre, diarreias e, nos casos mais graves e raros (nos grupos de risco) meningites. Tem um período de incubação que pode ir até 70 dias, o que dificulta, na maior parte dos casos, a identificação da origem da doença.
É por isso, diz Paula Teixeira, que «enquanto não for identificada a fonte da doença, ou seja, o tipo de alimento que provocou a intoxicação alimentar, é difícil tomar medidas concretas», alertando, no entanto, para «as medidas básicas de prevenção, sobretudo para os grupos de risco (grávidas, idosos, doentes crónicos), como evitar comer certo tipo de alimentos», como queijo, vegetais crus e produtos de charcutaria.
Já depois de o laboratório da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto ter alertado para a situação, Paula Teixeira diz ter enviado para a DGS «um modelo do inquérito epidemiológico, com perguntas sobre os hábitos alimentares, para ser feito aos doentes e familiares» – inquérito que, ao que tudo indica, ainda não começou a ser feito. «Só depois dos resultados desse inquérito é que poderemos estabelecer o elemento comum que ajude a identificar a fonte desta situação e, então, actuar em conformidade», conclui.

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