quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Investigadores do ICBAS descobrem gene associado à enxaqueca

As causas da enxaqueca podem estar nos nossos genes. Investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto identificaram que existem variantes genéticas responsáveis por um risco aumentado da doença na população portuguesa. Os resultados, publicados na conceituada revista «Archives of Neurology», podem vir a fornecer pistas para explorar novas terapêuticas, de forma a diminuir a ocorrência de enxaquecas nas pessoas predispostas, bem como atenuar a grande incapacidade que provocam.
O estudo realizado por um grupo de investigadores do ICBAS debruçou-se sobre o gene STX1A, responsável pela produção de uma proteína, a sintaxina 1A, que regula a libertação de neurotransmissores no sistema nervoso central – o que explica a importância de explorar a ligação entre este gene e a susceptibilidade à doença.

A investigação envolveu um grupo de 188 doentes com enxaqueca e um grupo controlo de 287 indivíduos sem o problema, com o objectivo de identificar variantes que pudessem explicar uma susceptibilidade maior para a maleita em certas famílias portuguesas. Neste contexto, foram encontradas duas variantes associadas com um risco aumentado de enxaqueca no grupo dos doentes. Assim, os resultados permitiram associar, pela primeira vez, este gene à susceptibilidade a esta doença na população portuguesa, bem como identificar uma nova variante neste que até agora não lhe tinha sido associada.


Factores ambientais

Carolina Lemos, uma das autoras do estudo, explicou ao
«Ciência Hoje», que agora "é importante perceber como agem estas variantes do gene e por que aumenta a susceptibilidade de algumas pessoas para a doença". A investigadora sublinha que esta é uma doença bastante complexa e, mesmo que determinadas pessoas tenham a variante, não significa que venham a ter enxaquecas. “Embora esteja relacionada com variantes genéticas, depende muito dos factores ambientais, como a alimentação ou a variação do ritmo do sono”, refere.

A enxaqueca é uma doença muito frequente e incapacitante, afectando 15 por cento da população em geral e, por isso, constitui um problema de saúde pública. Está incluída no
‘top 20’ das doenças mais incapacitantes pela World Health Organization, por ser uma das maiores causas de absentismo.

Os resultados podem fornecer pistas para, mais tarde, se desenvolverem melhores estratégias terapêuticas. O estudo contou também com a colaboração do Instituto de Biologia Molecular e Celular e o Hospital de Santo António.

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