quinta-feira, 29 de abril de 2010

Anticorpos sintéticos

Tecnologia da UFMG poderá facilitar diagnóstico de males cardiovasculares e criar identificadores de doenças tipicamente tropicais. Hoje, 99% dos kits são importados
Frederico Bottrel
A partir do próximo semestre, uma nova tecnologia para produção de anticorpos sintéticos, desenvolvida pela UFMG, vai poder aumentar a precisão quanto a diagnósticos precoces de doenças cardiovasculares e tipos raros de câncer. A plataforma também pode agilizar a detecção de doenças negligenciadas como dengue, malária, mal de Chagas, leishmaniose, febre amarela e hanseníase, a partir da produção de testes rápidos, como os que são usados hoje para identificar a gravidez.
Os novos anticorpos sintéticos foram batizados de anfitechs. "São na verdade fragmentos de RNA e DNA (conhecidos como oligonucleotídeos) que funcionam da mesma maneira que os anticorpos nos exames", explica o professor doutor Luiz Augusto Pinto, diretor da Bioaptus, empresa incubada na UFMG responsável pela plataforma. Hoje, são importados 99% dos anticorpos usados no Brasil, em exames, como o de sangue, de acordo com a Bioaptus. Além de produzir kits, a tecnologia permite atender demandas específicas de empresas nacionais de medicina laboratorial, diagnóstico in vitro e biociências.
A previsão é de que, em agosto, os primeiros kits diagnósticos para exames cardiovasculares criados a partir da novidade cheguem ao mercado. Com o novo método, podem custar até 10 vezes menos, em comparação com aqueles produzidos na maneira tradicional - que utiliza células ou animais para chegar às proteínas que ajudam a identificar as doenças nos exames.
"Em vez do procedimento usual, partimos de uma sopa com 1x1020 anticorpos sintéticos, que servem de matriz para a replicação em escala industrial daquele anticorpo específico que interessa, em cada caso", explica o especialista. A maneira como os pesquisadores mineiros produziram a tal sopa é o segredo industrial da produção, já patenteado.
Nesse tubo de ensaio é feito o procedimento de purificação da molécula. "É por isso que chamamos a tecnologia de plataforma, porque a mesma estratégia pode ser usada para a criação de diversos tipos de anfitechs", diz Pinto. Diferentemente dos anticorpos naturais, os anfitechs não têm reação cruzada, sem diferença entre lotes, o que evita processos por diagnósticos equivocados. O professor aponta outras vantagens da nova produção: "Os anticorpos sintéticos são estáveis à temperatura ambiente - o que minimiza custos de refrigeração e logística de transporte. Como não utilizamos células ou animais na produção, também reduzimos custos de manutenção".
Além do uso para diagnósticos, os anfitechs encontram aplicação em vacinas e soros . O soro antiofídico, por exemplo, dispensaria a necessidade de aplicação exclusiva em hospitais. Hoje essa é uma cautela necessária, já que os anticorpos produzidos por cavalos podem gerar reações adversas no organismo humano, facilmente tratáveis em ambiente hospitalar. Como o anfitech é direcionado, a partir da sintetização em laboratório, esse risco, de acordo com o professor, é zerado. "A reação alérgica à vacina do H1N1, por exemplo, apresentada por aqueles com intolerância a ovo, seria inexistente se a vacina fosse produzida com um anticorpo sintético", emenda.

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