sexta-feira, 28 de maio de 2010

Genoma bacteriano sintético funcional criado em laboratório

Na edição online da Science, da semana passada, foi publicado um artigo que é certamente um dos mais importantes do ano e que reporta a criação em laboratório de um genoma bacteriano sintético funcional. Trata-se sem dúvida de uma investigação altamente inovadora e que vem trazer a possibilidade de manipular genomas que podem depois dar origem a novos organismos vivos.

Este é um resultado com importância semelhante à clonagem da ovelha Dolly e por isso é estranho que não tenha recebido tanta atenção por parte dos meios de comunicação social.

Talvez porque neste caso o resultado foi uma colónia bacteriana milimétrica e não um mamífero como a Dolly. Mas o impacto que poderá ter não é menor. Para além disso vem trazer questões filosóficas sobre o que é a vida e até que ponto deveremos manipulá-la para nosso benefício, assumindo o papel de criadores de vida.

Esta foi mais uma investigação da responsabilidade de Craig Venter que desempenhou um papel muito importante noutra grande descoberta - a descodificação do genoma humano. Um homem que perseguiu este resultado durante 15 anos e que é sem dúvida um cientista visionário. O que a equipa liderada por Venter fez foi sintetizar um genoma e inseri-lo numa bactéria diferente daquela que serviu de molde.

O genoma sintético tinha várias “marcas de água” que o distinguiam e permitia que as bactérias que o adoptassem ficassem azuis. Desta forma, as bactérias que adoptaram o genoma sintético adquiriram as características determinadas por este e deixaram de ter as características da estirpe de bactérias original, que eram brancas.

Este avanço foi sobretudo técnico pois o genoma sintético foi feito usando um molde de um genoma bacteriano já existente na Natureza, com algumas alterações não muito significativas. Também importa realçar que o genoma sintético foi transferido para uma bactéria já existente e por isso não se criou vida completamente sintética. No entanto, esta é uma questão menor pois ao fim de várias gerações o que resta da bactéria original é praticamente nada. Além disso tratou-se de bactérias, que são os seres vivos mais simples com reprodução autónoma.

No entanto, este estudo abre a porta a que se possam desenhar genomas com genes novos. E é aqui que se começam a levantar algumas questões: esta técnica tanto poderá ser aproveitada para criar bactérias com características que queiramos, como por exemplo produzir hidrogénio ou combustíveis ou transformar produtos poluentes em produtos biodegradáveis; como poderá também ser usada com fins maléficos para criar bactérias que sejam letais e possam ser usadas como armas de destruição maciça.

Tal como em inúmeras outras descobertas o conhecimento pode sempre ser usado para diferentes fins e por isso é essencial que o público compreenda o alcance deste estudo e que se discutam as implicações morais, éticas e filosóficas que poderão surgir no futuro, usando esta técnica.


"CH"

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