segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma viagem no tempo à saúde portuguesa de 1937

João Rui Pita apresenta a obra «Portugal Sanitário» de Fernando da Silva Correia

Durante «Doenças, instituições e terapêuticas à volta de 1910», João Rui Pita, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, fez o público de «Doentes e cidadãos» viajar no tempo.

O investigador levou-nos até ao ano de 1937 através de «Portugal Sanitário», uma obra que Fernando da Silva Correia apresentou na época à Faculdade de Medicina da primeira universidade portuguesa.


Trata-se de “uma caracterização bastante extensa e muito pormenorizada que reflecte sobre a saúde em Portugal na primeira metade do século XX, em particular nos anos vinte e trinta”, explica João Rui Pita durante a sua intervenção.

O higienista e médico municipal, mais tarde director do Instituto Central de Higiene do Hospital Ricardo Jorge, junta na obra aspectos geológicos, desportivos, climatológicos com as patologias portuguesas.

As 532 páginas de «Portugal Sanitário» mostram o estado de saúde em Portugal, num ano em que o país tinha quase sete milhões de habitantes e a maioria dos óbitos acontecia por “causa ignorada ou não definida”.

“Fernando da Silva Correia conhecia a realidade e as instituições do pais, e relacionava profissões com patologias, ou com a alimentação ou o consumo de água”, explica João Rui Pita.

As ilustrações, gráficos e mapas são uma constante ao longo da obra. Há estatísticas divididas por distritos sobre o número de médicos e parteiras, o número de hospitais, de camas e doentes.

Além de levar os dados ao pormenor, o médico académico da Universidade de Coimbra analisou exaustivamente a mortalidade no Portugal de 1937, concluindo que era “o país da Europa em que a taxa de mortalidade por mil habitantes é a maior”.

A tuberculose ocupava o primeiro lugar na lista negra, mas já nessa época vislumbrava-se o aumento de doenças cancerígenas.

Em 1937 havia 360 estabelecimentos hospitalares civis, militares, maternidades e sanatórios.

Doentes na história

Hoje, já não são os dados estatísticos que preenchem as ideias dos investigadores e pensa-se em “outras formas de escrever a história da medicina, enfermagem e farmácia”, adianta o orador.

João Rui Pita avança sobre a importância de incluir o doente nesse olhar sobre as praticas médicas, seja através “das associações ou de entrevistas aos doentes”, o investigador garante que “hoje os doentes são importantíssimos na execução desse projecto”.


"C.H." Barbara Gouveia

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