quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Psicologia: Alguma vez enganou o seu marido

“Alguma vez enganou o seu marido? Ao longo de 15 anos, de 1991 a 2006, esta pergunta foi colocada a milhares de norte-americanos de ambos os sexos. Conclusão: a infidelidade conjugal está a aumentar. Resta perceber porque.”

O estereótipo reza mais ou menos assim: os homens que têm muitas amantes são viris e sedutores, mas as mulheres que têm muitos amantes são promíscuas e fáceis. Em primeira análise, não admira nada,portanto, que elas tenham sempre declarado a sua virtude, a sua fidelidade no casamento, enquanto eles passavam o tempo a gabar-se do seu sucesso com as mulheres e das suas escapadelas amorosas. Mas a situação está a mudar e há muitas mais mulheres a declarar hoje a sua infidelidade do que há 15 anos.
Para David Arkins, da Universidade de Washington – que apresentou recentemente em Orlando, no congresso anual da Associação de Terapias Comportamentais e Cognitivas, um mega estudo sobre o tema da infidelidade -, o resultado que diz respeito às mulheres com mais de 60 anos é o mais surpreendente de todos os que ele e a sua equipa obtiveram. E é o seguinte: ao passo que, em 1991, apenas cinco por cento das mulheres desta idade admitiam ter tido algum relacionamento extramarital ao longo da vida, em 2006, eram 15 por cento. O triplo. Os homens da mesma faixa etária também não se ficaram atrás: a proporção daqueles que alguma vez enganaram a cônjuge passou de 20 para 28 por cento no mesmo período. Mas mesmo assim as mulheres estão claramente à frente nesta mudança.
As conclusões dos investigadores baseiam-se nos dados recolhidos pelo General Social Survey, um inquérito que tem sido feito pela Universidade de Chicago, ao longo de décadas, a nível nacional. Lançado em 1972, serve para monitorizar as tendências de opinião e de comportamento da população. E, a partir de 1991 começou a incluir no questionário a pergunta “Estando casado/a, teve alguma vez sexo com uma pessoa que não era o seu cônjuge?”
Ao longo de 15 anos, de 1991 a 2006, 19.065 pessoas responderam ao inquérito. No total, 13,9 por cento confessaram ter tido uma relação extraconjugal a dada altura da sua vida marital, enquanto 64,05 por cento negaram ter alguma vez enganado o cônjuge, os restantes 22,05 por cento recusaram-se a responder.
Vistos globalmente, estes resultados indicam que a fidelidade continua a ser a opção preferida dos norte-americanos casados. Aliás, como faz notar Tom Smith, director do General Social Survey, citado online pelo Chicago Sun-Times, a proporção de pessoas que acha que enganar o marido ou a mulher é errado cresceu: 80 por cento são actualmente dessa opinião, contra 70 por cento nos anos 1970. Para mais, a infidelidade masculina global não parece ter evoluído muito: de 21 por cento em 1991, passou para 23 por cento em 2006. A feminina, excluindo o ano de 2006, também não.
Mas foi quando os cientistas olharam separadamente para os resultados por sexo e por faixa etária (e que incluíram o ano de 2006 para as mulheres) que surgiram as diferenças mais gritantes entre hoje e ontem, com os homens e as mulheres mais velhos a posicionarem-se claramente como os mais infiéis. São seguidos pelos casais mais novos (pessoas até aos 35 anos de idade), cujas taxas de infidelidade confessada passaram de 15 (nos homens) e 12 por cento (nas mulheres) em 1991 para 20 e 15 por cento em 2006 respectivamente, “Se perguntarmos apenas se a infidelidade está a crescer”, diz Atkins, citado pelo New York Times, “não vemos mudanças muito impressionantes. Mas se fizermos zoom na imagem e começarmos a olhar para os grupos por gênero e idade, começamos a vislumbrar mudanças muito significativas”.

Mudança comportamental

Mas será que as mulheres sempre foram tão infiéis como hoje, mas que agora, como são menos estigmatizadas por isso, revelam mais facilmente o seu gosto pelos amores extraconjugais? Atkins e os seus colegas acham que não; acreditam pelo contrario que a tendência observada reflecte uma real mudança de comportamento das mulheres e não apenas uma saída de um qualquer armário moral.
Por que é que isto aconteceu então? Em relação aos homens mais velhos, os cientistas privilegiam uma explicação, que se resume no fundo a uma palavra: Viagra. “Pensamos que em parte, para os grupos mais velhos, a tendência tem a ver com o Viagra e os seus primos”, diz ainda Atkins, fazendo notar que os dados mostram que a tendência para o aumento da infidelidade nos homens acima dos 60 anos se agudizou depois de 1998, justamente quando a célebre pílula azul foi comercializada. De facto, os homens mais velhos podem hoje em dia continuar a ter uma vida sexual activa porque a disfunção eréctil associada à idade deixou de ser um problema. E nalguns casos, procurarão parceiras fora do casamento. Para os homens mais novos, os cientistas têm outra palavra-chave: pornografia. Com a internet, o acesso aos conteúdos pornográficos ficou imensamente mais fácil, o que por sua vez terá influenciado a apetência dos homens pelo sexo e uma mior aceitação de comportamentos mais permissivos, conforme explicou Atkins na sua palestra em Orlando.
E em relação às mulheres? Aí as coisas são menos claras e não há ainda certezas. Claro que elas também têm tido acesso a tratamentos novos, nomeadamente à base de hormonas como a testosterona e os estrogênios, que não só estimulam o apetite sexual como mantêm a saúde vaginal, permitindo uma vida sexual activa e de qualidade para lá da menopausa. E claro, também, que a sua vida se tornou, em muitos casos, mais parecida com a dos homens – trabalham no escritório até tarde, fazem viagens de negócios, salienta ainda Tom Smith, citado pelo diário de Chicago. Elas têm portanto mais oportunidades do que nunca para estabelecer relações fora do casamento. Um outro factor poderá ser a multiplicação das relações amorosas virtuais, mais uma vez através da Internet, mas também dos telemóveis. Um psiquiatra entrevistado pelo diário nova-iorquino afirma, a este propósito, ter notado que há cada vez mais mulheres a falarem de casos centrados no contacto “eletrônico”.

‘Ana Gerschenfeld’

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