quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

TRAVAR O VIH

O anuncio de novos medicamentos é quase o único tema que na área da saúde da infecção VIH ainda desperta interesse jornalístico. É de facto notável o progresso registado nos últimos 13 anos, quer no número de novos fármacos – passaram de três para 22 quer no das classes medicamentosas – cresceram de uma para cinco – disponíveis nos países desenvolvidos.

Este aumento de alternativas terapêuticas permite às pessoas com VIH a quem seja garantido o acesso atempado à medicação uma significativa melhoria da qualidade de vida e um aumento da esperança de vida e representa, em termos de saúde pública, a melhor forma de controlar a infecção.

Sem entrar em considerações de amior sobre a prevalência da epidemia e pondo ainda de parte as discordâncias sobre a notificação, o diagnostico e a incidência (temas que só, por si, garantiam dois outros artigos), é chocante que estes processos, entre nós, não tenham, aparentemente, grandes reflexos na mobilidade e na mortalidade.

Um artigo recente da Lancet veio lançar a polemica; e contribuir para o debate ao demonstrar, através de um modelo matemático, que; se todas as pessoas com mais de 15 anos e em todo o mundo fizessem anualmente um teste de VIH/sida e se, em seguida se facultasse tratamento imediato a todas as que revelassem resultados positivos seria possível reduzir em 95%, e em apenas dez anos, os novos casos de infecção. A controvérsia ou a confirmação de que o controlo da infecção exige diagnostico e acesso ao tratamento precoce?

Se entre nós aumentou significativamente – diz-se – o numero de testes efectuados, de diagnósticos precoces e de pessoas em tratamento, porque não se vêem então resultados? Dá que pensar... Terá o diagnostico precoce aumentado suficientemente para que a terapêutica seja iniciada em tempo útil? Como estimulá-lo, no respeito dos direitos e liberdades individuais? Estamos a iniciar o tratamento de acordo com as boas práticas?

As orientações nacionais, em revisão, ainda apontam como referencial para inicio da terapêutica o valor de 300/350 CD4 quando, internacionalmente, se apontam os 500. estamos a tratar todas as pessoas que devem estar em tratamento? Os dados existentes, mesmo que incompletos (tema para outro artigo), apontam para 11.600 e 12.900 pessoas em tratamento, nos anos de 2006 e 2007, respectivamente. Mas o que significam tais algarismos em relação ao numero (desconhecido) das pessoas que deveriam estar em tratamento?

Para os que estão em tratamento há mais anos,a s alternativas actuais podem nada significar, pois as terapêuticas que foram consideradas mais correctas vieram a mostrar perversos efeitos de resistência, por vezes a todos os medicamentos de uma classe.

Nestes casos será importante reflectir sobre os vários pontos. Por exemplo; a falta de clareza nos regimes de acesso “alargado” a medicamentos experimentais e de roll over de ensaios clínicos; o desconhecimento, resistência e oposição de médicos, directores de serviços e administrações hospitalares aos medicamentos experimentais; os obstáculos à autorização de comercialização de novos fármacos em Portugal; a duplicação da avaliação/eficácia e os prazos de negociação dos preços.


‘Pedro Silvério Marques’

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