terça-feira, 16 de novembro de 2010

Simplesmente... Vencer o cancro!

Nunca é uma palavra definitiva; no entanto, mesmo que os especialistas digam que “não haverá uma vacina 'anti-cancro'– ou, pelo menos, num futuro próximo –, alertam igualmente para o facto de esta não ser necessariamente uma doença terminante. O livro «Vencer o Cancro», da autoria da jornalista Lúcia Gonçalves, é o suporte impresso que resulta do programa homónimo, transmitido pela SIC Notícias e apresentado pela mesma. Contando com a meticulosa revisão científica de médicos e investigadores das diferentes áreas oncológicas, é sobretudo um relato em registo positivo. 

“Quando tive a ideia do programa, vi logo que precisava de alguma ajuda. Não conheço as técnicas, quer de diagnóstico quer de tratamento, nem os investigadores portugueses da área em detalhe e, como queria integrar um fundo científico – porque é a ciência que dá este toque de esperança, no sentido de que isto não está parado, há evoluções constantes e são dados pequenos novos passos todos os dias, a caminho de grandes descobertas e tratamentos –, pedi ajuda ao Manuel Sobrinho Simões”, contou a autora ao «Ciência Hoje».

As 328 páginas, sob a chancela da Plátano Editora – com o prefácio a cargo de Sobrinho Simões e Leonor Beleza, investigador do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) e presidente da Fundação Champalimaud, respectivamente –, não explanam apenas ‘estórias’ de quem venceu a doença, mas servem precisamente de guia para os que tiverem inquietações, assim como para informar o cidadão curioso, o familiar e espicaçar a esperança
“daquele que engrossa as estatísticas”.
Os registos da Organização Mundial de Saúde são assustadores, mas podem ser evitados. O diagnóstico precoce continua a ser a melhor prevenção. Por exemplo, um gânglio aumentado pode ser o sinal de um linfoma. O primeiro capítulo abre dedicado ao cancro da mama e aqui encontramos a história da Raquel. Contudo, a narrativa segue com o caso de Inês Leal, de Vítor, da Luísa, de um general, e muitos outros. O elo comum a todas estas vidas é "um sombrio inquilino" – o cancro.

“Tem calma, tudo se há-de resolver; hei-de estar cá para ver o Pedro nascer”
, disse o António à Tânia. Ela estava grávida de cinco meses e ele acabara de descobrir um tumor cerebral. Existiam 50 por cento de probabilidades de ele não sobreviver – “o glioblastoma multiforme estava localizado numa zona carregada de vasos sanguíneos, e o risco de hemorragia foi constante ao longo da intervenção”, contou a escritora. António regressou vivo do bloco operatório e assistiu ao nascimento do filho e hoje apenas resta a cicatriz para lembrá-lo que ultrapassou o pesadelo.

Dura verdade ou vida com mais valor?

António Pereira Pinto era – sim, já faleceu – um general das Forças Armadas e comandante da Academia Militar cujo serviço activo já tinha abandonado há três anos. Quando teve conhecimento da doença (cancro da próstata), por já ter 61 anos, decidiu negar-se à cirurgia. Temia os efeitos secundários e preferiu assumir as consequências.
“De certo modo fiquei beneficiado pela doença e hoje as coisas têm mais valor do que antes”, revelou em entrevista num dos 20 programas das duas séries televisivas. Auto-denominava-se de “cadáver adiado”. Sobreviveu durante 19 anos, fundou a Associação de Doentes da Próstata e consagrou-se à sensibilização para o rastreio precoce e a aniquilar os mitos da masculinidade. Pereira Pinto é o único caso do livro que já não está presente.
A publicação não pretende enganar ninguém. A dura verdade é que há cancros que permanecem incuráveis. A relevância da obra torna-se ainda maior, porque existem outras pequenas vitórias que se podem alcançar quando nos queremos agarrar à vida, como “chegar a assistir ao casamento da/o filha/o ou conseguir realizar aquela viagem de sonho”, sublinhou Lúcia Gonçalves. E acrescentou: "Não fico mais tranquila com tudo aquilo que sei agora, mas estou mais consciente para as terapêuticas".

Ter qualidade de vida continua a ser
“o melhor amuleto” para ajudar-nos a vivê-la. Este livro reflecte como uma arma que ajuda a travar um combate. “Um leigo não dominará os pormenores técnicos e científicos, mas, conhecendo melhor o inimigo, fica equipado de forma bem diferente para resistir e vencer”, escreveu Leonor Beleza.

A autora deixa bem claro que
“o livro, tal como o programa, não pretende concorrer com os médicos, ou seja, é um guia, uma orientação que dá ânimo, mas também serve para esclarecer dúvidas e desfazer mitos”. Com a mão de Júlio Montenegro – jornalista, produtor, apresentador e marido –, Lúcia Gonçalves enquadrou os conteúdos dos programas, abordando cada uma das vertentes da doença, os sintomas que possam surgir, as formas de diagnóstico, os tratamentos, os factores de risco, a actual investigação clínica que a rodeia e a descrição dos órgãos afectados.Lançada anteontem no Porto, a publicação será agora apresentada dia 22 do corrente, em Lisboa e estará nos escaparates das grandes superfícies a 16,90 euros.

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