segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Diário de um doente à espera de saber se tem Gripe A

Imagine que é um caso suspeito de gripe A e, após quatro dias de quarentena, continua sem saber se está infectado. Esta experiência foi vivida na primeira pessoa por um jornalista do «barlavento», eu próprio.

TEMAS: Gripe A

As linhas que se seguem permitem saber o que funcionou e o que não funcionou no meu processo de diagnóstico e tratamento da gripe A. Uma situação particular não faz regra, mas as regras são o resultado do avolumar de situações particulares.

Recapitulando. Na quarta-feira, depois de mais uma reunião da redacção do «barlavento» fui para casa. Ao final da tarde, Portugal enfrentava o Liechtenstein e talvez devido à apatia do jogo, começou a tornar-se difícil manter os olhos abertos.

Ao medir a temperatura, entendi que a culpa não era dos comandados de Carlos Queiroz. Tinha 38,5º de febre. Fiz então o que qualquer português faria na mesma situação: automediquei-me com paracetamol e esperei estar recuperado na manhã seguinte.

Durante a noite, a febre subiu até aos 39,5 graus e, mesmo com medicação, não baixou mais do que meio grau.

De manhã, alertado pelo trabalho desenvolvido a nível profissional – os leitores mais atentos lembrar-se-ão que alguns dos trabalhos sobre a Gripe A publicados no «barlavento» foram escritos por mim – liguei para a linha Saúde 24. Depois dos (a)normais cinco minutos de espera, fui atendido.

Apesar de a minha sintomatologia se cingir à temperatura elevada, a enfermeira no outro lado da linha sugeriu que me dirigisse ao Serviço de Atendimento da Gripe (SAG) de Loulé, pelo facto de «o Algarve ser uma zona de risco», e informou-me que iria enviar um fax para avisar da minha situação.

O SAG tinha pouca gente quando cheguei, pouco passava das 8 horas da manhã de quinta-feira. Um adolescente cujo pai se afirmava tão desconfiado como eu em relação à infecção com H1N1, aguardava entrada na rua, enquanto um homem de meia-idade fazia o registo de chegada já no interior do serviço.

Aguardei a minha vez. À entrada do serviço, coloquei a máscara e desinfectei as mãos, como foi sugerido pelo segurança.

Depois de examinado e auscultado, suponho que fui tido como um caso suspeito de infecção com H1N1, uma vez que foi chamado por um enfermeiro para levar a cabo a recolha de amostras para análise no laboratório.

Foi-me dito para aguardar entre 24 a 48 horas por um contacto telefónico para saber o resultado das análises. Foram-me feitas ainda as naturais recomendações para evitar a propagação do vírus: utilização de máscara no contacto com outras pessoas e regime de clausura até ao conhecimento do resultado da análise.

Na receita só vinha uma caixa de paracetamol para levantar na farmácia.

Depois da visita ao Serviço de Atendimento da Gripe, seguiu-se a clausura. Não podia sair do quarto, para prevenir o contágio a outras pessoas e restava-me aguardar pelo contacto telefónico com notícias do laboratório.

Ao fim de 24 horas sem notícias, comecei a melhorar e a febre desceu para valores próximos dos 37 graus. Ao final do dia de sexta-feira, a temperatura já tinha voltado ao normal.

O prazo que me tinha sido dado para o conhecimento do resultado das análises terminou no sábado às 8h30 da manhã. A partir desta altura, e porque me sentia recuperado, o facto de estar fechado dentro de quatro paredes começou a atingir contornos de tortura.

Acabei por tentar contactar o SAG de Loulé através do número disponível no Portal da Saúde, mas ninguém atendeu.

Depois de mais um dia sem notícias, acabei por dirigir-me, no domingo, ao Serviço de Atendimento, na tentativa de saber o resultado da análise ao vírus.

«Se não lhe disseram nada é porque não tinha a gripe», disseram-me. Espantado com esta declaração, perguntei se era normal não ter resposta no caso de não estar infectado com o H1N1, ao que me responderam afirmativamente.

Ainda assim, perguntei se o SAG não recebia o resultado das análises, ainda que fosse negativo. Isso de facto deveria ter acontecido, mas depois de mais de cinco minutos de procura no computador, não foi possível encontrar o resultado do meu teste. A partir deste momento, declarei-me curado.

Só às 19h13 de terça-feira, dia 18 de Agosto, seis dias depois da minha visita ao SAG, ao segundo dia de rotina normal, recebi a resposta que, felizmente, não foi outra: não estive infectado com o H1N1…mas continuo a desconhecer o motivo da febre.

É importante lembrar que numa situação suspeita, existem pessoas afectadas directa e indirectamente. Para além das dúvidas em relação ao meu estado de saúde, todos aqueles que estiveram em contacto comigo, desde colegas, amigos e familiares, alteraram os hábitos sociais durante quatro dias, devido ao medo de transmitir o vírus a terceiros, e numa situação destas, mais vale prevenir.

Apresentados os factos, resta ao leitor tirar as próprias conclusões e avaliar o que o espera se for considerado um caso suspeito de gripe A.


"Nuno Costa"

Sem comentários: