Egas Moniz, o único Nobel da Medicina português, debruçou parte da sua carreira ao estudo da sexualidade. Foi sobre o volume «A Vida Sexual», publicado em 1906, que o psicólogo José Pacheco entreviu no âmbito da conferência «Doentes e Cidadãos».
"Apesar de hoje em dia aquela obra poder ser criticada de vários pontos de vista, para época foi uma 'ousadia' apresentar o tema à Universidade de Coimbra", diz.
Para o seu tempo «A Vida Sexual» era um livro "muito actualizado", considera o psicólogo. Não em questões como a homossexualidade, que ele considerava uma doença, mas noutras questões como a contracepção.
Egas Moniz, que escreve no prefácio que o livro é para "gente culta", foi amplamente "malhado" pelo seu neo-malthusianismo, ao apresentar uma lista de métodos anticoncepcionais. Equaciona também a possibilidade da mulheres inférteis, casadas ou viúvas (as solteira não teriam esse direito...) se poderem socorrer de esperma de outros homens.
O prémio Nobel defende também neste livro a "eugenia" - hoje em dia termo que não se utiliza por estar associado ao nazismo - mas que é um conceito que de várias forma de pratica hoje em grande escala.
«A Vida Sexual» era um livro "muito actualizado" para a época
O médico português "aplicou as concepções freudianas no tratamento de alguns casos de perturbação sexual. Aplicou as bases da psicanálise, misturando a hipnose com métodos de associação livre".
Fez o casamento entre sexologia e psicanálise. Por exemplo, na análise de «A Rosa do Adro», de Camilo Castelo Branco, abordou a necrofilia. Escreveu inúmeras biografias de médicos, de escritores, de pintores.
O médico esteve várias vezes indicados para o Nobel (pela angeografia) , mas só em 1949 o conseguiu. Mais tarde, existiu uma campanha para lhe retirar o Nobel, devido aos problemas levantados com o leucotomia.
Diziam que lhe deveria ser tirado prémio porque "inventou uma coisa terrível". Na verdade, explica José Pacheco, "inventou uma coisa de que outros abusaram, o que não invalida que a técnica em si fosse de um engenho fantástico".
"C.H." Luisa Marinho
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